quinta-feira, 24 de outubro de 2024

RELATÓRIO DE UM ALIENÍGENA SOBRE UMA NAVE DE DESESPERADOS

"Os seres humanos inventaram
a bomba atômica, mas nenhum
rato no mundo inventaria uma
ratoeira"(Albert Einstein)

Se um alienígena fosse enviado ao nosso planeta para fazer um relatório sobre como viviam os habitantes, certamente destacaria que, entre os seres vivos, há os que denominam a si próprios de hominídeos, os quais, apesar de se considerarem racionais, agem irracionalmente. 

Muito perigosos, possuíam capacidade criativa intelectual e habilidade manual altamente belicosa e destrutiva do próprio habitat e de todas as espécies de vida, inclusive da própria.   
    
Certamente ressalvaria que, se eles superassem o estágio evolutivo da sua racionalidade, ainda em transição de uma primeira natureza primitiva para uma segunda natureza cognitiva cerebral, não sucumbindo como espécie nem tornando o planeta inabitável, poderiam atingir um grau superior civilizatório.
  
No corpo do relatório talvez comentasse que os animais de vida selvagem geralmente protegiam os demais de sua própria espécie, enquanto os considerados racionais promoviam matanças genocidas de seus iguais, sob o argumento absurdo de que tais ações se justificariam como necessárias para a defesa das suas próprias vidas.

Como prova de tal afirmação, o alienígena escrivão da armada intergaláctica enviaria imagens dos bombardeios:
russos aos prédios residenciais da Ucrânia;
israelenses sobre Beirute e sobre a população civil de Gaza; e
—iranianos sobre Tel-Aviv e Jerusalém.

Acrescentaria que o noticiário internacional vez por outra revelava que os litigantes discutiam a possibilidade do uso de armas nucleares, com capacidades destrutivas dez vezes maiores do que a extensão territorial do próprio planeta...          

E que, mesmo ainda relutando em adotarem procedimento tão extremo, não deixavam de ficar ficavam brincando de terror com bombinhas menores (por eles denominadas  mísseis teleguiados por GPS de autopropulsão ou adaptados a drones.
 
E ainda afirmaria que a hipótese de extinção da espécie, numa ação suicida genocida, seria factível, considerando-se que em 1918 e 1945 esses mesmos hominídeos promoveram duas guerras envolvendo todos os países do planeta, numa carnificina que dizimou cerca de 3% de toda a população dessa espécie.
 
Diria que eles adoram a guerra e até formavam segmentos militares adestrados com armas cada vez mais letais para manter o status quo interno e defender o que chamam de pátria, convictos de que para manter a paz é preciso se preparar para a guerra. É mole?   

O comportamento suicida, contudo, não se esgota por aí, afirmava o escriba alienígena. Além das guerras, eles poluem os mananciais de águas potáveis da qual necessitam para viver, bem como os mares, o solo e o ar.  
Mas o principal problema da atualidade é a emissão de volume excessivo de gás carbônico na atmosfera, o que provoca o que eles chamam de 
efeito estufa, aquecendo a temperatura planetária e colocando em risco a própria vida animal e vegetal.  

se observam desertificações de vastas áreas, secas prolongadas, enchentes, aumento do nível das águas marinhas e da própria temperatura dessas águas, derretimento de geleiras e outras alterações climáticas. Os cientistas que denunciam tais ocorrências são destratados por uma espécie de hominídeos denominados políticos que negam a cientificidade e os fatos evidentes. 

Os países mais ricos, embora sejam os que mais emitem gás carbônico na atmosfera, cobram dos mais pobres preservação de suas florestas como fator de equilíbrio de tais emissões poluentes; mas, seguindo-se a receita suicida irracional em prática, o aquecimento do planeta provoca grandes incêndios naturais ou criminosos, ateados por quem tem interesses próprios a uma relação social de produção irracional e concentradora de poder nas mãos desses produtores incendiários e poluentes. 

A maior floresta tropical do planeta, denominada Amazônia, tida como pulmão planetário, agora arde em chamas e produz o efeito contrário, tornada a campeã de emissão de gás carbônico, numa comprovação da irracionalidade suicida que venho relatando.   

Recentemente uma epidemia de vírus covid 19 dizimou quase 15 milhões de pessoas e muitos políticos (denominados negacionistasnegaram sua existência e periculosidade  interessados na continuidade da produção de bens de consumo sob tais circunstâncias, visando a obtenção de lucros e arrecadação de impostos. em benefício da uma parcela privilegiada desses hominídeos. 

Até inventaram vacinas que previnem tais doenças, mas houve políticos governantes que sabotaram a sua aplicação, maximizando os óbitos.
  
Eles são seres urbanos na sua maioria, que costumam habitar cidades caóticas porque cindidas em classes sociais com pequenos núcleos de moradores beneficiados e completamente cercados por grandes contingentes de outros menos favorecidos, os quais pertencem ao segmento dos escravizados por uma coisa chamada salário, que é a forma de subtração da riqueza socialmente produzida. 

Nessas cidades proliferam gangues do crime organizado que roubam cargas dessas mercadorias; traficam e vendem entorpecentes que escravizam ainda mais os hominídeos que as usam; roubam bancos para obter valor (que chamam de dinheiro) que é o mecanismo de mediação social e poder, e não raro funcionam como milícias formadoras de um estado paralelo ao estado oficial, ambos opressores dos escravizados. 

O aparelho repressor oficial, as polícias, muitas vezes se acumpliciam com os criminosos; e o mais absurdo é que eles, ao invés de se unirem contra tudo isso, procuram se adaptar a esse estado de coisas. Uma babel.    

A esses bens de consumo e serviços, num artificialismo escravista da maioria dos hominídeos, denomina-se mercadoria, mecanismo que é capaz de escravizar os que a produzem com seus esforços em benefício dos que delas se apropriam (nesse universo tudo é dinheiro, representação da abstração denominada valor, uma invenção capciosa de escravização e apropriação indébita da riqueza socialmente produzida), e o mais grave é que os escravizados agradecem aos escravizadores a chance de serem escravizados.  
Os escravizados costumam, inclusive, pedir, juntamente com seus sindicatos (uma espécie de corporação dos escravizados), mais empregos, ou seja, mais oportunidades de escravização, e têm até representantes políticos e partidos que vivem de tal representação, como se fizessem uma advocacia administrativa dos primeiros, sem jamais questionarem a natureza da escravização, numa certificação flagrante de irracionalidade generalizada que graça entre tais hominídeos.

Eles se organizam em nações territorialmente delimitadas, e têm uma estrutura político-administrativa vertical na qual os escravizados elegem periodicamente os gerentes que vão gerir tais organizações em benefício dos escravizadores que exercem o poder econômico (o verdadeiro poder, que manda em todos). 

Também fazem leis elaboradas pelos representantes dos escravizadores, e têm juízes que as aplicam coercitivamente, e por força militar, quando se faz preciso.  
 
Assim, encerro esse relatório concluindo que os mamíferos irracionais, por natural instinto de sobrevivência, são mais preservacionistas e agem mais racionalmente do que os seus parentes racionais, que por estarem num processo de evolução intelectual transitório, ainda primário, dele se aproveitam para subjugar perigosamente a tudo e a todos. 

Acabam de ir  às urnas para legitimar com o voto as suas anuências a esse status quo sem se aperceberem que, assim procedendo. passam certidões de suas inconsciências sociais.  

Quiçá não se autodestruam e possam transitar para um estágio superior no qual os hominídeos sobreviventes dessa nave de desesperados se apiedem dos atuais hominicídios. (por Dalton Rosado)  
"Eis que da idade da pedra surge o amigo,/ chegou sem medo e memória./ 
De lembrança apenas sangue e dor/ e um machado com as inscrições:/
se achará o elo perdido, enfim,/ no homem das novas gerações"

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