segunda-feira, 29 de maio de 2023

MARCHAMOS PARA O ABISMO E TALVEZ SEJA A ÚLTIMA CHANCE PARA CORRIGIRMOS O RUMO

Poder do Lula encolhe à medida que o de Lira cresce
P
erseguindo obsessivamente um projeto de poder pessoal, Lula tanto fez, o tempo todo, para evitar que um candidato de esquerda com menor rejeição e ideias atualizadas tomasse seu lugar na eleição presidencial de 2022 que conseguiu. Agora está colhendo o que plantou.

Mesmo surfando na rejeição ainda maior do palhaço exterminador de pobres, idosos e índios, pior presidente brasileiro de todos os tempos, Lula só obteve uma vitória minguada, na bacia das almas (ainda que não houvesse a sabotagem nas rodovias, dificilmente teria alcançado sequer quatro pontos percentuais de vantagem, ou seja 52% x 48% dos votos válidos).

O certo é que nem de longe o PT e a esquerda emasculada que ele avassalou constituem hoje a força política majoritária do país. E se mostram impotentes para evitar que duas das poucas pastas com iniciativas corretas e necessárias do Governo Lula sejam esvaziadas pelo Congresso Nacional: as do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas. 

Para piorar, tudo leva a crer que isto seja apenas o começo. Neste final de maio, só não vê quem não quer: Arthur Lira é o presidente de fato do Brasil, enquanto o estupefato Lula parece conformar-se com o papel de rainha da Inglaterra, desde que o deixem brincar com irrelevâncias como a de ser o patrono do transporte individual num momento em que até as pedras da rua sabem que a priorização absoluta do transporte coletivo (acrescida de outras medidas, como a mudança da matriz energética) é imperativa para salvar a humanidade da extinção.
"Faz lembrar o Jânio Quadros não
sabendo para que lado ir em 1961"

Faz lembrar o Jânio Quadros aparvalhado de 1961, não sabendo para que lado ir, muito menos como lidar com um Congresso majoritariamente oposicionista. Ambos, aliás, evitaram reconhecer o real motivo de suas dificuldades para governar, o homem da vassoura atribuindo-as às forças ocultas e o imperador do PT à taxa básica de juros e outras desconversas.  

Coube ao veterano analista Ricardo Kotscho apontar o verdadeiro motivo (vide aqui): então como agora, quem deita e rola no Congresso Nacional são as forças do atraso, pois na democracia burguesa quem dá as cartas é o poder econômico. Então, p. ex., a bancada ruralista já detém 251 dos 513 deputados federais e 31 dos 81 senadores. 
"Donos de terra, gado e gente sempre tiveram forte poder no parlamento brasileiro desde o Império, mesmo com a progressiva industrialização e urbanização do país após a 2ª Guerra Mundial. Correndo em raia própria ou aliados às bancadas da Bíblia, do boi e da bala, os chamados ruralistas estão sempre na linha de frente do ataque aos direitos socioambientais em geral e aos avanços civilizatórios", ensinou o mestre Kotscho.
Resumo da ópera:
— ou o Lula  arrasta seu mandato até o fim sem poder real, posando de estadista lá fora e deixando suas políticas serem desfiguradas pelo centrão aqui dentro;
— ou tenta radicalizar como fizeram, cada um à sua maneira, Jânio e Jango, mas, como a correlação de forças lhe será tão desfavorável quanto era àqueles antecessores, vai acabar sendo deposto.

De um jeito de outro a esquerda brasileira perderá, seja dando sustentação a um mero serviçal dos donos do PIB, seja acompanhando-o numa guerra impossível de vencer e sofrendo depois a caça às bruxas que os direitistas vitoriosos sempre desencadeiam.

Então, o  racional a fazer seria desencanarmos de uma vez por todas do reformismo lulista e passarmos a construir uma esquerda de verdade, que mire a superação do capitalismo e não a obtenção de migalhas de poder dentro do regime de exploração do homem pelo homem.

Cai como uma luva para nós a frase celebre do dirigente esportivo Carlos Dittborn, quando um terremoto destruiu a infraestrutura com que o Chile contava para sediar o Mundial da Fifa de 1962: "Porque nada tenemos, lo haremos todo"

De resto, escrevo isto na esperança de ser desta vez escutado pelos companheiros de esquerda que dispõem dos meios que me faltam para colocar em ampla discussão o imperativo de tal guinada.
Dilma insistiu em cumprir o roteiro do impeachment até
o mais amargo fim, enquanto a direita acumulava forças

Repete-se a situação de 17/04/2016, aquele agourento domingo em que a Câmara Federal autorizou a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff. 

De bate-pronto eu alertei que, transposta a barreira mais difícil (era necessária a anuência de dois terços dos deputados), todas as demais, que requeriam maioria simples, seriam igualmente superadas.

Então, argumentei, a Dilma deveria renunciar imediatamente, pois se persistisse tentando evitar o inevitável até o mais amargo fim, a direita acumularia cada vez mais forças durante todo esse processo. 

Já se fosse encerrado o seu governo moribundo e se iniciasse imediatamente um movimento contra a posse do impopular Michel Temer, na linha das diretas-já, retomaríamos a ofensiva, colocando o inimigo na defesa.

Clamei no deserto, a Dilma perdeu mesmo todas as batalhas e a ultradireita, dando sucessivas demonstrações de força nas manifestações de rua, ganhou musculatura para tornar presidente um farsante crapuloso do baixo clero.

A autocrítica que a esquerda sempre fez nas grandes derrotas, mas deixou de fazer em 2016 e 2018 com as consequências desastrosas que todos conhecemos, terá de ser feita o quanto antes. Marchamos para o abismo e talvez ´seja a última chance para corrigirmos o rumo.
(por Celso Lungaretti)  

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails