Com o perdão do trocadilho óbvio do enunciado, a esquerda estatizante que tem se alicerçado nas relações capitalistas de mercado tem sido mau exemplo no curso da história bicentenária de luta contra o escravismo indireto do capitalismo republicano.
A Venezuela juntamente com a Nicarágua não têm servido de bons exemplos de luta pela emancipação dos povos mundo afora, notadamente na América do Sul e Central.
Repetem o figurino vivido pela Rússia e China, com a diferença que não possuírem a dimensão territorial e populacional das duas primeiras experiências de relações sociais pretensamente anticapitalistas de estado, e capacidade de sobreviverem intramuros.
Ao conservar a forma política de governos fortes com fortes apoios milicianos-militares populistas, mantendo intactas as categorias capitalistas de modo de produção e circulação de mercadorias, terminarão até com maior brevidade, da mesma forma que as experiencias na Eurásia e Ásia daqueles países continentais que partiram de uma economia intramuros para o livre mercado sem nenhum pejo.
Como se justificar a existência de grupamentos indígenas venezuelanos perambulando pelas ruas de várias cidades brasileiras a pedir esmolas como fugitivos de seu país de origem?! Nunca vi ninguém fugir de um lugar no qual reina a liberdade e a proteção social coletivas.
A Venezuela pratica uma plutocracia capitalista de estado sustentada pela produção de petróleo de uma rica empresa estatal cujos dirigentes militares se privilegiam com tal gerenciamento e dão sustentação a um governo eleito sob a influência de minoritários grupos sociais privilegiados.
Já passou da hora de os revolucionários anticapitalistas se rebelarem contra o uso das insígnias emancipacionistas históricas da estrela vermelha de cinco pontas e da foice o do martelo como luta dos trabalhadores da cidade e do campo como se tais governos representassem o ideal originário de combate à exploração da categoria capitalista trabalho abstrato representada pela mesma foice e martelo.
Sempre houve uma certa confusão da simbologia da estrela vermelha de cinco pontas, justamente porque em vários momentos da história da luta contra a monarquia constitucional feudal, e contra o fascismo imperialista, juntaram-se republicanos, comunistas e até anarquistas numa frente ampla vermelha como se seus integrantes rezassem pela mesma cartilha.
Na recente eleição presidencial brasileira vimos o que representa a polaridade entre o bem e o mal, de modo maniqueísta, como fato político que proporcionou o ajuntamento de A a Z da política em dois únicos lados e barcos pretensamente antagônicos.
De Collor de Melo, Roberto Jefferson, banqueiros, empresários da Fiesp, Generais saudosos do regime de arbítrio, de um lado, a recém-convertidos ao projeto eleitoral lulista como Geraldo Alckmin, Aloísio Nunes, economistas neoliberais como Arminio Fraga, Pérsio Arida, Mônica de Bolle, políticos como Simone Tebet, empresários como Tasso Jereissati, entre tantos outros.
A polarização política é em si conservadora do decadente status quo vigente porque anula o pensar; faz com que o medo de péssimo justifique a aceitação do ruim.
Os republicanos burgueses, também chamados de conservadores - ou liberais, como nos Estados Unidos - sempre se opuseram aos comunistas marxista-leninistas, que por sua vez perseguiram os anarquistas.
Entretanto, todos usaram as insígnias representativas de seus corolários ideológicos com simbologias similares que confundem conceitualmente quem as procura entender.
A estrela vermelha de cinco pontas, numa leitura mais recente, passou a significar em cada uma destas pontas
- (i) a defesa da juventude;
- (ii) os militares para a defesa contrarrevolucionária;
- (iii) o trabalhador do campo;
- (iv) o trabalhador da cidade;
- (v) a intelligentsia.
O que se pode inferir de tudo isto é que as variações político-governamentais se assentam sobre uma mesma base: o modo de produção de mercadorias a partir do trabalho abstrato produtor de valor e todos os acessórios mercadológicos e institucionais no seu entorno, com os aperfeiçoamentos históricos a dar forma a uma imperfeição original.
Por que todos endeusaram - até o titio Adolfo o fez - o trabalho abstrato produtor de valor e de mais-valia?!
Por que todos defendem a verticalidade do exercício do poder político?!
Por que todos precisam de uma força militar e seus gastos bélicos exorbitantes e pagos por uma população cada vez mais exaurida economicamente, seja pela extração de mais-valia própria à produção de mercadorias a partir da mercadoria trabalho abstrato, e pela cobrança de impostos?!
Por que prendem ou segregam socialmente quem elabora o pensamento crítico revolucionário fora da caixa, como se estes fossem uns chatos a clamar no deserto?!
Mas apesar de toda diferenciação cosmética dos projetos políticos, é por suas similaridades intrínsecas que eles se desgastam perante a população num processo pendular cíclico eleitoral ou ditatorial que agora está chegando ao ponto de inflexão irreversível: a contradição irremediável entre forma e conteúdo.
As categorias capitalistas, antes de serem positivadas como o fazem todos os projetos políticos de governo, precisam ser negadas peremptoriamente, como modo de superarmos a fome, o retrocesso civilizatório, além dos impasses perigosos que nos rodeiam, tais como a guerra nuclear e o aquecimento global,
O modo da produção capitalista estatal ou privado, ou ainda, híbrido nas duas formas, atingiu o seu limite existencial de capacidade de expansão pelos seus próprios fundamentos, impondo uma realidade de produção coletiva voltada para a satisfação das necessidades coletivas e de modo ecologicamente sustentável.
Entretanto, tal modo de produção é incompatível com a existência de um estado cobrador de impostos aos cidadãos que sustenta tudo e a todos; dos poderes institucionais e forças militares à infraestrutura de produção capitalista - estradas, portos, energia, abastecimento de água, etc. -, razão pela qual nenhum dos atores políticos aceitam a transformação radical representada por um novo modo de produção social sem a intromissão indevida do valor, que não participa como nenhuma das substancias químicas existentes nos objetos e serviços úteis e indispensáveis à existência humana.
Como Lula e Maduro, que defendem as boas relações políticas entre governantes sul-americanos podem negar a política, se é nela e por ela que existem?!
Há quem considere a política como um gênero ontológico de relações sociais do qual as formas criadas são espécies a serem aperfeiçoadas. Que me perdoe o mestre Bertold Brecht, a quem muitas vezes recorro, mas o analfabeto político é aquele que acredita na política como se ela tivesse o condão de tudo resolver.
Lula recentemente afirmou que só na política e pela política se pode resolver os problemas sociais, razão pela qual ele defende a negociação política exaustiva com seus atores para a solução de problemas que fogem do alcance dessa, como o é a equação irresolúvel das contradições capitalistas que ele quer preservar quando fala em retomada do desenvolvimento econômico.
Caso se queira emprestar ao termo política o sentido de uma sinonímia com o ato de pensar e agir socialmente, como todos a tem definido, o que seria já um enquadramento restritivo do significado desta última emanação do intelecto humano, deveríamos admitir política apenas como a negação dela própria, e subvertemos o enquadramento na camisa de força por ela representado atualmente.
Maduro e Lula jogam um jogo no qual os dois sairão derrotados ao final da partida, desgastados tal como jogadores de dois times que empataram e não poderiam empatar sob pena de serem eliminados.
Precisamos mesmo de um pensar que quebre o ovo, como fez Colombo diante do impasse de colocá-lo em pé. (por Dalton Rosado)
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