quinta-feira, 9 de março de 2023

BOLSONARO ESTÁ FORA DE COMBATE, MAS LULA AINDA PODE SER NOCAUTEADO PELA ESTAGNAÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA

U
m dos poucos respiradouros através dos quais a vida inteligente ainda ventila a grande imprensa, William Waack coloca uma questão interessante em sua última coluna n'O Estado de S. Paulo: por que a popularidade do Lula não decolou significativamente nem a do Bozo despencou para profundidades abissais neste começo de 2023?

Afinal, tais deveriam ser as consequências lógicas da fuga do genocida para a Disneylândia, após ter armado a bomba-relógio da mais alucinada de suas micaretas golpistas e dado a mais vergonhosa de suas brochadas, deixando os bovinizados seguidores a arcarem sozinhos com as consequências judiciais de sua insanidade mental e incompetência política. 

Segundo Waack, "a insurreição bolsonarista do 8 de janeiro (...), supõe-se, destruiria a essência" de tal corrente política, enquanto "o escândalo das joias das Arábias (...) destruiria a essência da pessoa" que a encabeçava.

Isto não ocorreu por enquanto (embora deva ir acontecendo aos poucos, tanto que os ultradireitistas já buscam um líder alternativo) devido a "dois fatores de grande abrangência", segundo Waack.
"Um deles é aquilo que os profissionais de pesquisas chamam de calcificação, ou seja, as duas metades que saíram das urnas em 2022 continuam mais ou menos iguais, com o mesmo teor de polarização. E minimizam, ignoram ou absorvem qualquer fato negativo dentro da própria corrente. 
Outro fator (...) é a maneira como vastas parcelas da população lidam com o uso do dinheiro público (que milhões nem entendem que é o dinheiro dos impostos que pagam). No ambiente calcificado, a indignação com o uso privado de recursos públicos é ainda mais seletiva. Perdoa-se sem muitos rodeios se o ocorrido for no lado certo, ou se há necessidade política de votos no Congresso".  

Só que a calcificação não vem de agora. A sabotagem premeditada do combate científico à pandemia de covid, jamais deixarei de repetir, fez do palhaço sinistro o maior assassino de brasileiros de nossa História. 

Institutos ligados a grandes universidades do exterior dão como favas contadas que um contingente de aproximadamente 400 mil das vítimas fatais se deveu às decisões hediondas do portador da faixa presidencial. Com o tempo isto é a que se lerá nos livros de História brasileiros, mas aí não haverá mais a quem castigar. 

Bolsonaro não chegou ao patamar de Adolf Hitler, responsável último pela morte de algo entre 1,5 milhão e 3 milhões de alemães, mas neste país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, sem um passado tão sangrento quanto o de várias nações europeias, tal número é simplesmente estarrecedor e deveria ter despertado indignação exacerbada. 

No entanto, não há sequer a certeza de que, mesmo voltando ao Brasil, o celerado vá para trás das grades: é bem capaz de escapar apenas com a inelegibilidade. Mereceria é ter o mesmo final de seus antepassados ideológicos, o alemão faniquiteiro com bigodinho ridículo e o italiano careca com alma e camisa de corvo...

Mas, a tal da calcificação embute um perigo maior do que o apontado por Waack: o de que, mesmo o contrabandista de joias acabando por se tornar um personagem secundário como o é hoje Fernando Collor (os próprios políticos ultradireitistas temem que sua popularidade desabe até uma faixa de 10% a 15% do eleitorado), por este caminho se destruirá o personagem, mas não se vai imunizar a sociedade brasileira contra uma nova investida fascista.

Os desvarios e vilanias do Bozo são gritantes demais e extrapolaram os limites que o poder econômico traçara para ele, daí a decisão tomada no semestre passado, de lhe retirarem a escada, deixando-o pendurado na brocha. 
[Ou alguém acredita que os ministros do STF, no momento decisivo, agiriam com tamanha firmeza se não soubessem estar respaldados pelos que realmente mandam no Brasil?]

No entanto, o capitalismo mundial continua marchando para o fim, a empurrar com a barriga suas contradições até que a situação se torne totalmente insustentável:
— seja com as bolsas de valores do mundo inteiro despencando como peças de dominó e provocando uma depressão mais terrível ainda do que a iniciada em 1929;
— seja com as catástrofes decorrentes do aquecimento global aumentando cada vez mais em quantidade e contundência, podendo inclusive provocar outros acidentes radiativos como o de 2011 na usina japonesa de Fukushima; 
— seja com a 3ª Guerra Mundial que já pode estar começando na Ucrânia;
— seja com a simultaneidade e sinergia das ameaças já citadas, além de outras possíveis (como uma intensificação do surgimento e aumento da letalidade das epidemias).

Então, a aposta lulista em que um capitalismo cada vez mais fragilizado ainda vá tirar a economia brasileira da longa recessão que nos despedaça (nosso último ano com evolução expressiva do PIB foi 2010: 7,5%) não passa de sonho de uma noite de verão. De 2003 para 2023 a crise do sistema de exploração do homem pelo homem se agravou muito.

Com a permanência da estagnação econômica, que é um fenômeno estrutural e não pode ser removida apenas alterando-se a taxa básica de juros, logo o desencanto popular morderá os calcanhares de Lula, dando oportunidade a qualquer outro(a) aventureiro(a) fascista que mentirosamente se proponha a acabar com a velha política

A insatisfação popular vai sendo represada até que exploda como aqui em 2013 e no Chile e outros países em 2019. E o alvo principal será sempre quem o povo vê como responsáveis por suas mazelas: os políticos profissionais, o presidente da República, o Congresso, o poder judiciário, etc.

Ao avassalar-se ao centrão de forma vexatória e caricata, a ponto de perdoar até os descalabros cometidos pelo ministro das Comunicações Juscelino Filho no exercício de uma função da qual não entende bulhufas, Lula terá se tornado um personagem tóxico quando o povo não aguentar mais tudo que está aí

Ainda dá tempo para a esquerda desembarcar dessa canoa furada, pois as pastas ministeriais, mordomias, falcatruas e boquinhas poderão ser-lhe cobradas em dobro pelas multidões enfurecidas adiante. 

Ou a esquerda resgata sua independência com relação ao poder econômico e deixa de cumprir a função de mera força auxiliar da dominação burguesa, ou será arrastada pela tempestade que está se formando.

A alternativa que os fascistas oferecem é a entropia, o caos e um retrocesso civilizatório de vários séculos.

Temos de personificar a promessa de sobrevivência e o aperfeiçoamento da civilização, com a priorização do lucro e da ganância sendo substituída pela do pleno atendimento das necessidades humanas.

Caso contrário, perderemos inclusive a nossa razão de existir. (por Celso Lungaretti)  
 
Nesta excelente canção de 1988, Leonard Cohen avisa, entre outras
coisas, que a peste estava chegando. Mas morreu antes disto, em 2016.

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa tarde, Celso, tudo bem por ai, com Você?
Em um trecho de entrevista na rede tv,
gleisi hoffmann já fala na corrida eleitoral de 2026,
dando margem aqueles comentários de que o pt, não possui
projetos além de poder. Algumas pistas sobre quem é candidato:
é o favorito dos artistas, celebridades, influencers-blogueiros
militantes de twitter, identitários, e claro, de quem tem político
de estimação.
Fez acordos com todos que divergem da ideologia que diz
defender, tudo pela tal "onda democrática do amor".
Tem apoio da elite que se diz conservadora nos costumes,
mas liberal na distribuição de renda. Aquela distribuição
de paliativos, pra evitar revolta, trazendo conformismo
e alegria momentânea, as classes populares.
Sua crônica faz uma perfeita análise, no que se trata do desgaste,
e do desembarque da tal "onda democrática do amor", e claro das "mitadas".
A greve de enfermeiros na manhã de hoje no Rio (que continua fa...lindo),
com direito a cobrança direta ao atual mandatário e ao supremo por melhores salários,
sinalizam que tal "onda democrática do amor", pode estar virando uma marolinha.
Abraço do Hebert, bom fim de semana.

celsolungaretti disse...

Bem? Depois da destruição bolsonarista ter de suportar a estagnação petista jamais me fará sentir bem. Foi o motivo de eu ter reduzido a minha participação no blog e começado a escrever o "Náufrago da Utopia 2".

Ainda lanço um ou outro artigo, mas sem ilusões: neste ano a esquerda majoritária estará surda para as argumentações críticas, disputando e curtindo as sinecuras e mordomias enfim recuperadas. Meus alertas serão ignorados e o que tiver de acontecer de ruim, acontecerá. O que podemos esperar de uma esquerda que se prostra ao reformismo mais covarde e ao populismo mais retrô? Nada.

Quanto às eleições de 2026, só mesmo uma Gleisi para ficar elucubrando sobre isso agora, quando o PT continua sem a mínima ideia de como dar um respiro para os explorados após a recessão mais longa da república brasileira.

Se não conseguir oferecer alguma esperança aos miseráveis, o governo atual será goleado nas urnas de 2024 ou terá de se defrontar com uma explosão social mais aguda ainda que a de 2013.

A verdadeira dúvida é como chegaremos a 2026. Se é que chegaremos.

Abraços, companheiro!

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