terça-feira, 3 de janeiro de 2023

TAMBÉM NO PT PREVALECE O "UM MANDA, OUTRO OBEDECE"

eliane cantanhêde
HADDAD É MUITÍSSIMO DIFERENTE DE GUEDES,
MAS TAMBÉM PRONTO  A ENGOLIR SAPOS
Cansamos de zoar o Pazuello em 2020. Agora não
podemos agir diferente com os genéricos e similares
E
m discursos, Lula fez o esperado apelo à alma nacional contra fome e desigualdade. 

Assim como a defesa da responsabilidade fiscal não é exclusividade do mercado, a defesa dos miseráveis e da diversidade e dos milhões de famílias na rua da amargura, sem emprego, casa e comida, não é exclusividade de Lula. Mas ninguém com mais autoridade do que ele para verbalizá-la.

O complicado é equilibrar o justo combate à injustiça social e o correto equilíbrio das contas públicas. 

É bem mais fácil falar da miséria com compaixão do que convencer que quem paga o pato de promessas e gastos a rodo são os miseráveis. Um dilema ainda mais velho que Lula e o PT é o conflito nos governos entre o que é popular (político/populista) e o que é preciso (pragmático/técnico).

Ao assumir, Haddad fez um discurso morno, cuidadoso, avisando que não seria um posto Ipiranga e teria vários postos. Veio à mente o seu antecessor, Paulo Guedes, que começou como superministro e perdeu, uma a uma, as grandes guerras com centrão, generais e filhos de Bolsonaro.

Em 2018, Guedes foi conveniente para dar falsos ares de liberalismo e abertura econômica a um capitão insubordinado, corporativista e nacionalista a la anos 1950. Já Haddad pensa igual e joga o mesmo jogo de Lula. 

Em comum nas duas duplas é que Haddad, como Guedes, está pronto para engolir sapos. Aliás, começou já no dia da posse, desautorizado na desoneração dos combustíveis.
Haddad já se habituou à deglutição de batráquios

Haddad nem faz questão de fingir que não veio para fazer tudo que seu mestre mandar. O quê? O que está nos discursos de posse, quando Lula acusou o teto de gastos de estupidez, não falou em nova âncora fiscal, mirou a reforma trabalhista e já atirou nas privatizações. 

Revogaço na política de armas e na segurança, saúde, educação, ambiente, cultura, política externa... é saudável, um alívio. Mas na economia, sem consenso em medidas desde Michel Temer 

Como na canção, foi bonita a festa, pá, mas é preciso navegar, navegar... (por Eliane Cantanhêde, n'O Estado de S. Paulo)
Toque do editor – Aproveito para acrescentar que Lula também conserva uma visão econômica característica do século passado e insustentável nos dias atuais. E, se os liberais o atacam pelo flanco direito, há fortes motivos para eu, o Dalton e o David o fazermos a partir de nossos valores de esquerda.

A discussão é longa demais, então destaco o principal: a estatização da economia é uma postura eminentemente stalinista, que acaba respaldando governos autoritários ou totalitários. 

Concordo totalmente com o Lênin de O Estado e a revolução, livro no qual ele definiu a missão do Estado, no socialismo, como sendo a de preparar a sua própria extinção por obsolescência, até porque, fiéis aos nossos ideais igualitários, somos avessos às nomenklaturas com poderes discricionários sobre os trabalhadores comuns. 
"Nosso" de quem, cara-pálida? 

Lembro, ainda, o modelo iuguslavo de autogestão, opção muito melhor que a dos elefantes brancos estatais, pois estes acabam sendo um convite à corrupção por parte de militantes de direita, centro e esquerda, igualados na caça sôfrega às boquinhas.

De resto, com a visão anacrônica que Lula tem da Petrobrás, comete o absurdo de defender os combustíveis fósseis num mundo em que a espécie humana poderá ser por eles destruída. 

Um divisor de águas entre a esquerda do século passado e a atual é exatamente combustíveis fósseis x energia limpa. (CL)

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