quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

TEMOS DE RECONSTRUIR O PAÍS E REMOVER O ENTULHO AUTORITÁRIO... DE NOVO!

O que fizemos na chamada Nova República, teremos de fazer novamente. A situação atual é bem parecida com a da redemocratização.

Agora o bode foi retirado da sala num domingo. Já o dia 15 de março de 1985 foi uma 6ª feira.

O regime militar, que foi uma ditadura de verdade, durou 21 anos. O trem fantasma do Bozo, que não passou de um projeto de ditadura abortado pela incompetência e insanidade do aspirante a autocrata, quatro anos.

Aquele foi caracteristicamente um estado de exceção parido e mantido pela casta militar, com o respaldo do poder econômico e de apoiadores civis.

Este jamais teve o apoio incondicional da caserna, daí as brochadas ou amareladas dos últimos 7 de setembro, o de 2021 e o de 2022. 

Embora o Bozo esteja muito longe de possuir a coragem pessoal que trombeteia, antes pelo contrário (a propaganda é a alma do negócio!), o fato é que a chance de o autogolpe fracassar na primeira tentativa era enorme e na segunda, quase total. 
A posse de Sarney despertou grandes esperanças, mas maior ainda foi a frustração no final.
Não estava claro para ele o que receberia do 
meu Exército na hora H, se um poder sem limites ou um merecido chega-pra-lá. Na dúvida, preferiu não atravessar o Rubicão. O que faz todo sentido, pois a quem não é César o destino dificilmente dá o que é de César.

Das duas vezes o pesadelo terminou com a viola em cacos: estagnação econômica, governança disfuncional e degenerescência crescente. Das duas vezes impôs-se como tarefa imediata a reconstrução do país.

A remoção do entulho autoritário foi pessimamente executada no Governo Sarney, que nem sequer revogou a anistia aos esbirros da ditadura (imposta pela dita cuja em 1979 como condição sine qua non para a Lei de Anistia sair do papel) e a desmilitarização do policiamento urbano. Sobrou entulho suficiente para gerar novos conflitos durante décadas. 

Agora se espera, no mínimo, que o genocida responda pelas aproximadamente 400 mil mortes evitáveis que causou com seu negacionismo e sabotagem à vacinação durante a pandemia, bem como pela infinidade de crimes políticos e delitos comuns por ele cometidos. Se escapar ileso, conseguirá finalmente ombrear-se ao seu ídolo, o torturador-símbolo do regime militar Brilhante Ustra, cuja impunidade foi aberrante, escandalosa e desmoralizante ao extremo para o país.
A posse do Lula despertou grandes esperanças, mas isto não previne outra frustração no final.
A ditadura militar legou ao país turbulências econômicas que se prolongaram por mais de nove anos, até o lançamento do Plano Real em julho de 1994. O 
trem fantasma tende a repetir a dose, pois o novo governo acaba de assumir sem apresentar nem sequer um esboço de política econômica digno desse nome. Apenas déjà vu, mais do mesmo. 

E o aflitivo é que não parece mesmo haver fórmula mágica capaz de reatar o desenvolvimento econômico no Brasil, pois o capitalismo como um todo está chegando ao limite de sua sobrevivência. Resta saber até quando conseguirá continuar empurrando com a barriga, para a frente, a depressão mundial que já se prenunciou na crise estadunidense dos subprimes em 2008.

Suspiramos aliviados em 1985 e aliviados suspiramos em 2023. Não nos iludamos, contudo: o Bozo foi para a lixeira da História, mas a extrema-direita pode voltar à carga sob liderança mais apta. 

Passado o auê, vale atentarmos para o fato de que, se estamos de volta ao ponto de partida, é porque a tentativa de impormos limites à dominação capitalista, humanizando a exploração do homem pelo homem, fracassou por completo. A desigualdade e a desumanidade são intrínsecas ao capitalismo. Devemos insistir por mais 37 anos?!
Este é o único desfecho aceitável após tudo que sofremos

Temo que, se não partirmos para solução diferente (a construção de uma alternativa ao capitalismo agonizante), nada de melhor obteremos. 

Não estando excluído o agravamento do pior: a briga de foice no escuro à qual nos conduziu a polarização política. 

Quem não aprende com sua História, está condenado a repeti-la. (por Celso Lungaretti)

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