Algumas considerações da entrevista de Lula-2
"o que nós precisamos neste instante é o seguinte: a economia brasileira precisa voltar a crescer e nós precisamos fazer mais política social...
... eu fico irritado às vezes quando se discute muito, qualquer problema se discute estabilidade fiscal, estabilidade fiscal. Ninguém, Natuza, ninguém foi mais responsável do ponto de vista fiscal do que eu...
... o que nós fizemos nesse país? Nós entramos, estabelecemos a meta de inflação de 4,5% e cumprimos. Nós geramos em oito anos quase 14 milhões de empregos. Depois. Com o mandato da Dilma, foram 22 milhões. Nós reduzimos a dívida de 60,5% para 37,7%, e nós fizemos uma reserva que o Brasil nunca tinha tido de 370 bilhões de dólares...
... elas são antagônicas (responsabilidade social e fiscal, pergunta levantada pela entrevistadora) por causa da ganância, sabe, das pessoas mais ricas, ou seja, as pessoas não querem. O empresário não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou; ele ganha muito dinheiro porque os trabalhadores dele trabalharam. O que nós queremos é que haja a contrapartida no social... "
Lula, como qualquer político burguês, crê na pujança eterna do capitalismo, deseja nos fazer crer que a retomada do desenvolvimento econômico deve ocorrer sob seu governo.
Quer que o trabalhador continue sendo trabalhador e que seja representado por seu partido e sindicato, ou seja, continue sendo explorado, mas de modo mais humanizado, vez que vive da defesa dos seus interesses de classe e não da sua superação enquanto categoria capitalista primária.
Esquece ter sido sob o governo Dilma Rousseff quando começaram a surgir os efeitos deletérios no Brasil daquilo que ele afirmava ser apenas uma marolinha: a grave crise imobiliária dos Estados Unidos, a qual fora socorrida com dinheiro sem valor dos Bancos Centrais de lá e da União Europeia, sob pena de colapso, já ali, de todo o sistema financeiro internacional.
A crise, provocada pela incapacidade da reprodução de modo sustentável do valor, impactando na reprodução de mercadorias, vem sendo sentida até hoje em seus efeitos, agravados pela pandemia de Covid 19.
Sob Dilma e o PT explodiu a insatisfação popular em 2013, quando um simples protesto contra um aumento de passagens resultou num processo de aglutinação popular violentamente reprimido pela polícia.
Só a duras penas, a então presidente conseguiu a reeleição contra o então candidato Aécio Neves para logo depois sofrer o impeachment em maio de 2016 com forte adesão popular, embora manipulada pela direita brasileira, que sempre foi negativamente expressiva e influente na política e na economia.
Lula fala dos números do seu governo como se o PT, sob sua orientação, desde sempre não tivesse nenhuma responsabilidade na crise então instalada, ocasionada pela depressão capitalista dos últimos dez anos, como resultado do tsunami que vem se abatendo sobre o mundo.
Lula avaliou mal a crise instalada desde 2008/2009 e o Brasil, como periferia econômica de pouca expressão em relação aos países com hegemonia econômica - hegemonia expressa pela moeda forte aceita mundialmente, altos valores de seus PIB e endividamentos estratosféricos, acima dos PIB anuais, mas com juros baixíssimos ou até negativos - sofre mais intensamente as consequências desta conjuntura.
Analisemos, pois, os números destes dez últimos anos no Brasil (2013 a 2022), sob os governos de Dilma Rousseff, Michel Temer, e Jair Bolsonaro.
Dilma Rousseff 2013 – 2014 – 2015
PIB ................. 3,0% - 0,5% - 3,5% = média de 2,33%
Inflação............ 5,09 - 6,4% - 10,67% = média de 7,37%
Desemprego .... 7,1% - 4,8% - 8,7% = média de 6,86%
Michel Temer 2016 - 2017 - 2018
PIB ................ 3,0% - 1,3% - 1,3% = média de 1,8%
Inflação .......... 6,29% - 2,95% - 3,75% = média de 4,33%
Desemprego .... 10,9% - 12,7% - 11,96% = média de 11,96%
Jair Bolsonaro 2019 - 2020 - 2021 - 2022
PIB ............. 1,1% - -3,3% - 4,6% - 2,6% = média 2,5%
Inflação ‘...... 4,31% - 4,52% - 10.6% - 5,79% = média 6,3%
Desemprego .. 11,9% - 13,5% - 13,2% - 8,7% = média 11,82%
Como se vê, no Brasil dos últimos dez anos vêm se acelerando os processos de PIB anuais baixos com inflação e taxas de desempregos crescentes em governos dos mais variados perfis ideológicos, numa prova inconteste de que a economia capitalista está em um processo autodestrutivo de sua forma de mediação social, é aquilo que se apresenta para a ordem política ditatorialmente sem que esta última possa influir substancialmente na correção de rumos.
O capital, na era da terceira revolução industrial, pelo advento e introdução da microeletrônica no processo de produção social, tornou o trabalho abstrato produtor de valor dispensável em maior proporção do que os novos nichos de trabalho criados, reduzindo a massa global de valor produzido -razão da emissão estatal de moeda sem valor, inflacionária - e agora atingiu o seu limite interno de expansão, representando o fim de um ciclo cruel, escravista e segregacionista havido desde o seu nascimento, com desenvolvimento aprimorado de sua vida, e que agora atinge o estágio de morte por um processo de autodestruição da própria forma, mas sem querer largar o osso!
Ou superamos o capital ou sucumbimos com ele: eis a questão! O governo Lula admite, claramente, na sua entrevista, poder provocar a retomada do desenvolvimento econômico sob tal quadro, como se a política fosse soberana em relação à economia e indutora de uma correção de rumos capaz de resolver todos os problemas decorrentes da contradição capitalista irracional e do seu fim irremediável.
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