quinta-feira, 29 de setembro de 2022

O QUE ESTÁ RECOMEÇANDO NA ITÁLIA PODE ESTAR TERMINANDO NO BRASIL

Começo a escrever diante do teletexto suíço. A notícia principal vem da Itália: Giorgia Meloni, 45 anos, conseguiu maioria na Câmara de Deputados e no Senado para governar o país. 

Pela primeira vez, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, o fascismo retorna ao poder; e, também pela primeira vez, é uma mulher quem governará a Itália. Trata-se de uma fascista, admiradora de Benito Mussolini desde sua juventude.

A vitória de Giorgia Meloni, no domingo(25), uma semana antes das eleições brasileiras, seria um mau agouro? Sem entrar nesse jogo de crendices, embora nosso fascista verde-amarelo tenha origem italiana, a vitória da extrema-direita na Itália não vai influenciar em nada nossas eleições, nas quais as sondagens dão grande vantagem para o ex-presidente Lula, capaz mesmo de ganhar no 1º turno.

Mas, vale dizer, é a ideologia neofascista a responsável pelo governo do presidente Jair Bolsonaro e por sua campanha eleitoral, marcada por ameaças e propagação de fake news em profusão, numa tentativa de se manter no poder. A própria ONU fez um apelo no sentido de que as eleições ocorram num clima de paz, diante da existência de sinais de possíveis violências.

Neste sentido, divulgou um comunicado assinado por diversos especialistas, dirigido às autoridades, candidatos e partidos políticos brasileiros, para assegurar eleições normais, sem violência. Tal preocupação advém da campanha de difamação e dos contínuos ataques contra as instituições democráticas, contra o Judiciário e contra o sistema eleitoral, incluindo as urnas eletrônicas. 
Embora sem dar nome aos bois, o comunicado reflete as constantes declarações do Bolsonaro, deixando pairar a ameaça de não aceitação do resultado das urnas. Destacamos um trecho significativo da preocupação internacional:
"Pedimos às autoridades que protejam e respeitem devidamente o trabalho das instituições eleitorais. Expressamos ainda nossas preocupações sobre o impacto que esses ataques podem ter nas próximas eleições presidenciais e enfatizamos a importância de proteger e garantir a independência judicial.

Estamos preocupados que este ambiente hostil represente uma ameaça à participação política e à democracia e instamos o Estado a proteger os candidatos de quaisquer ameaças, atos de intimidação ou ataques online e offline.

Todos os envolvidos no processo eleitoral devem se comprometer com uma conduta pacífica antes, durante e depois das eleições. Candidatos e partidos políticos devem abster-se de usar linguagem ofensiva que possa levar à violência e abusos dos direitos humanos".
Ainda nesta semana, circulam pela Internet convocações feitas por fontes não identificadas para, no caso de derrota de Bolsonaro, serem atacados os órgãos representativos da democracia, a Câmara federal, o Senado e o STF. Tais ameaças estão sendo levadas a sério.

O jornal suíço Le Temps publicou uma reportagem de sua correspondente no Brasil, Chantal Rayes, com o preocupante título O Brasil vota armado até os dentes, e com a seguinte chamada:
"Sob Jair Bolsonaro, o número de armas em mãos de civis conheceu um aumento exponencial. Uma política que deixa marcas profundas na sociedade brasileira e põe em perigo a democracia às vésperas da eleição presidencial de 2 de outubro".
Haverá realmente uma reação comandada pelo Bolsonaro caso perca as eleições, como preveem as sondagens? 

A maioria dos comentaristas políticos não leva a sério sua ameaça de não aceitar o resultado das urnas no caso de derrota. Citam, para acalmar o clima, as ameaças que ele fez nos 7 de setembros de 2021 e de 2022. 

Em 2021, Bolsonaro chegou a assinar uma carta, redigida pelo ex-presidente Michel Temer, pedindo desculpas ao ministro Alexandre de Moraes por ofensas e ameaças. No último Dia da Pátria, depois de sérias ameaças, igualmente nada ocorreu, para decepção dos bolsonaristas mais ousados.

A repetição da ladainha desde que as eleições sejam limpas seria algo para se levar a sério ou conversa mole de um falastrão, na verdade alguém sem coragem para concretizar suas ameaças? Não se pode esquecer que, derrotado, Bolsonaro continuará ainda presidente por, no mínimo, dois meses (ou três, se Lula ganhar no 1º turno).

Terá ele condições de utilizar a máquina presidencial para articular sua permanência no poder? Esta hipótese é remota, pois os deputados e senadores eleitos não aceitarão esse tipo de aventura depois dos esforços de suas campanhas eleitorais. 

Os grupos econômicos que apoiaram Bolsonaro há quatro anos já estão dando sinais de apoio a Lula, considerado o provável vencedor das eleições. Muitos eleitores anti-Bolsonaro, que não iriam votar em Lula, parecem estar se decidindo pelo chamado voto útil, para garantir a derrota de Bolsonaro logo neste domingo.
O sonho de Bolsonaro de criar uma dinastia permanente no poder com seus filhos terá sido em vão? Sem dúvida, vão lhe restar como apoiadores apenas os evangélicos enganados por seus pastores, mas que, provavelmente, não aceitarão entrar numa tentativa armada.

Ou será que a tentativa de golpe, no caso de derrota, será desfechada apenas pelos seguidores de Bolsonaro, repetindo o que ocorreu com Trump depois de sua derrota? Neste caso, poderá haver alguns dias ou semanas de agitações, mas a lei, a ordem e a democracia acabarão por se impor. 

Em todos os casos, parece difícil para a família Bolsonaro escapar dos processos até agora evitados por Augusto Aras, no caso da anunciada vitória de Lula, a menos que se feche mesmo o pacto que Temer estaria costurando nos bastidores. (por Rui Martins)

3 comentários:

Anônimo disse...

The Guardian 'Quero Lula de volta': veterano de esquerda do Brasil pode estar pronto para voltar

https://www-theguardian-com.translate.goog/world/2022/sep/29/i-want-lula-back-brazils-leftist-veteran-could-be-poised-for-comeback?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

New York Times
Na véspera da eleição, partido de Bolsonaro ataca os sistemas de votação do Brasil

https://www-nytimes-com.translate.goog/2022/09/29/world/americas/election-bolsonaro-brazil-fraud.html?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt


Ele está de volta da prisão. Agora ele pode ser o presidente do Brasil – de novo.
https://www-nytimes-com.translate.goog/2022/09/29/world/americas/lula-bolsonaro-brazil-election.html?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

Anônimo disse...

Mais do Le Temps
A sete dias da eleição presidencial no Brasil, uma possível vitória de Lula no 1º turno
https://www-letemps-ch.translate.goog/monde/sept-jours-presidentielle-bresil-une-victoire-lula-1er-tour-possible?_x_tr_sl=fr&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

Brasil: uma eleição presidencial sob alta tensão
https://blogs-letemps-ch.translate.goog/jonathan-luget/2022/09/25/bresil-une-election-presidentielle-sous-haute-tension/?_x_tr_sl=fr&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt


Do Courrierinternational
Brasil: o fim do pesadelo?

https://focus.courrierinternational.com/320x0/2022/09/28/d0ba687_1664345308526-couv1665bd.jpg

https://www-courrierinternational-com.translate.goog/article/a-la-une-de-l-hebdo-bresil-la-fin-du-cauchemar?_x_tr_sl=fr&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

Anônimo disse...

uma visão do Financial Times!

https://www.ft.com/video/ac8c3bec-9831-4742-94aa-11736ddd108c

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