terça-feira, 26 de julho de 2022

DIA VIRÁ EM QUE NOS PARECERÃO RIDÍCULOS MUITOS CONCEITOS ATUAIS

O que é mais ridículo, o bigodinho ou a gesticulação?
A política tem o condão de propiciar situações ridículas em profusão. 

E, como a mutação social decorrente da dialética do movimento social se encarrega de demonstrar,  aquilo que poderia originalmente parecer heroico, era essencialmente ridículo (ainda que trágico).

Há coisa mais ridícula hoje do que o gestual hitlerista tão bem caricaturado por Charles Chaplin no seu antológico O grande ditador?

Há poucos dias assistimos no Brasil a um presidente eleito pelo voto afirmar que as eleições daqui foram fraudadas por mecanismos eletrônicos, questionando a sua própria legitimidade governamental, e isto pasmem!para uma plateia de embaixadores internacionais por ele convocados.

À medida que as mutações sociais ocorrem, elas tornam obsoletos determinados tabus; é quando vemos quão ridículos eles eram.

O que dizer do apedrejamento de uma mulher acusada de adultério, pena ainda vigente em algumas regiões onde predomina o fundamentalismo religioso anticivilizatório?

O que dizer de uma escritura pública de propriedade de um escravo negro recém-comprado num cais de porto brasileiro, de um traficante de escravos num navio negreiro?

O que dizer da ridícula (e perigosa) adesão governamental brasileira às teses do finado Olavo de Carvalho, aquele misto de filósofo com astrólogo que amealhava doações de ricaços com as mais estapafúrdias lorotas? 
O guru do clã Bolsonaro só poderia ser outro bufão
Caso da suposta existência de uma conspiração comunista mundial (assim ele se referia ao ultrapassado marxismo tradicional, na verdade um mero capitalismo de Estado). 
Tal charlatão influenciou os bolsominions a ponto de chegarmos a ter como ministro das Relações Exteriores um adepto da seita. 

O qual, por sinal, mais parecia empenhado em detonar a imagem do Brasil no exterior, além de ser tão papalvo a ponto de considerar comunista a China, país que pratica o capitalismo mais selvagem do planeta...

O que dizer do ridículo argumento de Vladimir Putin, ao promover uma matança indesculpável do povo ucraniano (também dos incautos soldados russos) em nome de uma fantasiosa contenção do avanço do nazismo na Ucrânia?

O que dizer da pretensão do segmento militar das sociedades ditas modernas, que tem formação preponderantemente belicista, ao querer atribuir a si próprio funções político-econômico-sociais? Aliás já se disse que a guerra é questão grave demais para ser colocada apenas nas mãos de generais.

O que dizer de alguém que, sob a inverossímil alegação de que as eleições estadunidenses feriam sido fraudadas, orientou a sua turma para um putsch no Capitólio, tentando dar um golpe de Estado, sem dar-se conta do ridículo de tal pretensão, como o fez Donald Trump?

Mas, o senso do ridículo teima sempre em vir à tona. Como a memória social é amnésica, ressurge em muitos lugares o ridículo representado por teses neonazistas nacionalistas dos supremacistas raciais cujos músculos (bombados) não estão em harmonia com o cérebro (atrofiado).
Mussolini: autoritário, careca, patético e exibicionista.

O capitalismo estaria colocado na condição de fato social apenas ridículo, se infelizmente não fosse, ao mesmo tempo, trágico.

A tecnologia moderna é incompatível com uma lógica surgida num momento em que a força de trabalho humana era largamente necessária e a única possível para a execução de todas as ações indispensáveis à vida.

O embrião do capital (riqueza abstrata) foi o sistema de trocas quantificadas de objetos transformados em mercadorias (o escambo original, mensurado pelo tempo de trabalho dedicado a cada produto produzido),  do qual decorreu a procura por braços escravizados. 

Estes funcionavam como meras máquinas capazes de promover a acumulação da riqueza transformada, de maneira imperceptível, na forma abstrata (originalmente material, os objetos in natura que então adquiriram valor de troca na mercantilização como mercadorias) nas mãos dos senhores escravistas.

Ora, a contradição capitalista e sua inconsciência autodestrutiva provocam a obsolescência da força de trabalho humana aplicada ao sistema de produção e de trocas no mercado, e aí reside a evidência do ridículo (e contraditório) que representa a escravização indireta do trabalho abstrato produtor de valor no estágio atual da produção tecnológica.

Então, com a explicitação da incompatibilidade entre forma e conteúdo, ocorre a concretização prática da fábula da galinha dos ovos de ouro, na qual a ganância causa a morte daquela que é sua fonte de riqueza predatória: o capitalismo se autodestrói!
Putin: exibicionista, patético, careca e autoritário.
Mas o problema é que, no seu processo ridículo de autodestruição enquanto forma de relação social, ele arrasta para o abismo todo a sociedade, aí incluindo até os seus submissos agentes beneficiários (os capitalistas).

Exemplo dessa generalização não seletiva de destruição dos seres humanos criadores do próprio capitalismo constatamos na agressão capitalista ao meio ambiente.

Na busca insensata do lucro capitalista emite-se gás carbônico em níveis avassaladores na atmosfera, causando o aquecimento global que atinge não apenas os povos pobres situados na linha do Equador ou abaixo dela, mas também os ricos capitalistas dos países que detêm hegemonia econômica mundial.

A crise ecológica não é totalmente seletiva, ainda que vergaste os pobres com mais virulência. Ainda hoje a Europa arde num calor insuportável, provocando a queima das florestas que retroalimenta a emissão de CO² na atmosfera, de modo suicida.
Bolsonaro, que queria mesmo era...

Não é ridículo que se proponha o desenvolvimento econômico (todos o propõem, tanto a direita quanto a esquerda institucional) sob bases capitalistas que não podem dispensar os combustíveis fósseis poluentes?

Não é ridículo que todos os candidatos no Brasil defendam a expansão e a preponderância da Petrobras como suporte econômico da economia brasileira?

Todos querem democracia como objetivação da vontade coletiva; até os ditadores ou aspirante a ditadores dela se aproveitam.

Não é por ela que Boçalnaro, o ignaro, chegou ao poder estatal (com apoio do poder econômico, que hoje desconfia da sua capacidade para entregar um gerenciamento capitalista estatal eficiente) e agora sonha com um golpe ditatorial que perpetue a agonia dos brasileiros sujeitos a seus descalabros?

Foi assim que Hitler chegou a chanceler, incendiou o Reichstag (o parlamento alemão) e, paulatinamente, se assenhoreou de modo absolutista do poder; e é assim que Vladimir Putin vem se perpetuando no poder direta ou indiretamente há 23 anos.

Da mesma forma, o parlamento brasileiro tem como segmento predominante o fisiológico centrão, ridiculamente ungido pela democracia burguesa.

Denunciamos as ditaduras como exercício arbitrário do ridículo poder de que se investem; mas consideramos democrática a escolha pelo voto, mesmo sabendo da manipulação do poder político-econômico que é o que define a pretensa vontade (ou falta de livre vontade) eleitoral pelo voto.

Em cada nível eleitoral. tudo se processa sob circunstâncias ridículas especiais:
...ser o Moe, dos Três Patetas.
— nos municípios interioranos do Brasil profundo, vige o cabresto eleitoral municipal;
— nas grandes cidades, quem dá as cartas são a mídia local atrelada ao poder político-econômico e as corporações defendendo cada interesse específico e excludente; e
— nas eleições presidenciais é a economia que comanda o
efeito manada, razão pela qual ciclicamente os governantes são defenestrados do poder após repetidos fracassos, ou se eleva a santo o governante que entrega resultados econômicos momentaneamente satisfatórios que sucumbirão logo adiante por conta da inevitável insustentabilidade governamental estatal capitalista.

As ditaduras são explicitamente ridículas; mas a democracia burguesa, enquanto farsa de representação da livre vontade popular, representa a ridícula manipulação dessa mesma vontade.

Há uma falsa dicotomia entre ditaduras burguesas e democracias burguesas. Mesmo que a primeira seja tiranamente ridícula, a segunda também o é, ainda que de forma socialmente consensual (até certo ponto) e que sejam respeitados determinados cânones de civilidade.

Como tenho dito repetidamente, a verdadeira antítese às duas espécies que pertencem ao gênero capitalismo é uma sociedade cuja relação social se dê por meio de uma produção voltada para a satisfação das necessidades coletivas, sem a mediação pela forma-valor, e estruturada a partir de organismos jurídicos de base, com poderes administrativos, legislativos e judiciários.

Mas, como sempre ocorre ao longo da História, um dia, se sobrevivermos como espécie ao capitalismo, consideraremos todos os saberes e sociabilidade hoje existentes como primários e incipientes, e esta última forma social como ridículo modus vivendi, em comparação com aqueles que os sucederão.

Haverá um tempo futuro em que consideraremos inaceitáveis e claramente ridículos conceitos que hoje admitimos como válidos e aceitáveis.(por Dalton Rosado)

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