terça-feira, 7 de junho de 2022

A MONTANHA DESTA VEZ PARIU ALGO MENOR AINDA DO QUE UM RATO

"A montanha dava à luz, imensa era a expectativa. Mas
ela pariu um rato. Isto foi escrito para ti que, embora
projetes grandes coisas, nada acertas" (Esopo)
josias de souza
PROPOSTA DE GOVERNO DE LULA CHEIRA A NAFTALINA
O esboço do programa de governo de Lula tem dois problemas. O primeiro é que a peça da coligação liderada pelo PT, despejadas sobre 17 páginas, ameaça inundar a conjuntura política com ideias que não dão água pela canela. 

O segundo problema é que novo mesmo nas 90 propostas enumeradas no documento só coisa muito antiga. Ainda sujeito a emendas, o conjunto da obra exala um incômodo cheiro de naftalina. 

Na parte mais rasa, o programa pode ser atravessado por uma formiguinha de joelhos. Menciona, por exemplo, a pretensão de revogar a reforma trabalhista e o teto de gastos já destelhado por Bolsonaro sem oferecer detalhes sobre o que será colocado no lugar.

A alturas tantas, o texto sugere que os acertos trabalhistas ocorram por meio de negociação tripartite, que proteja os trabalhadores, recomponha direitos, fortaleça os sindicatos sem a volta do imposto sindical, construa um novo sistema de negociação coletiva e dê especial atenção aos trabalhadores informais e de aplicativos. Mais um pouco e a coligação garantirá aos trabalhadores chope gelado e tira-gosto quente. 

Entre as novidades mais antigas, o documento reitera a aversão à privatização de estatais. O texto insinua que a privatização da Eletrobras, na bica de ser efetivada, pode ser revista. Requenta um truque da sucessão de 2006, quando Lula disputou o Planalto contra Geraldo Alckmin, agora seu candidato a vice. 
Será este o homem certo para reconduzir ao século 21
o Brasil que o Bozo fez retroceder à Idade Média?
 
    

Naquela campanha, o petismo encurralou o tucanato acusando o PSDB de tentar privatizar a Petrobras. Era lorota. Mas o encolhimento de Alckmin fez parecer que se tratava de uma verdade. 

Hoje, Bolsonaro fala em vender a Petrobras a quatro meses da eleição. É mentira. Mas o PT se apresenta novamente como defensor da estatal. Age como se nada tivesse sido descoberto sobre a petro-roubalheira orçada em mais de R$ 6 bilhões num balanço divulgado durante o governo de Dilma Rousseff. 

A proposta de plataforma de governo anota: A Petrobras será colocada de novo a serviço do povo brasileiro e não dos grandes acionistas estrangeiros, ampliando nossa capacidade de produzir os derivados de petróleo necessários para o povo brasileiro, expandindo a oferta de gás natural e a integração com a petroquímica, fertilizantes e biocombustíveis

Nos governos do PT, a Petrobras foi colocada a serviço da patifaria política, e não do povo brasileiro. Ampliou-se a capacidade de produzir desvios. No lance mais explícito, a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foi orçada em US$ 13,4 bilhões. Segundo o TCU, a refinaria custou US$ 26,2 bilhões. Processaria 230 mil barris de petróleo. Produz metade do óleo previsto. 

Noutro lance escabroso, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, orçado em US$ 8,4 bilhões, permanece inacabado. Há quatro anos, o TCU estimou que o empreendimento resultou em prejuízo de US$ 12,5 bilhões. Coisa decorrente de superfaturamento. 
Neste Brasil, propostas de governo como as do Lula ainda eram discutidas a sério... 
O problema de um candidato que reivindica o terceiro mandato é que o eleitor sabe o que ele fez nos verões passados. O programa de Lula promete para quatro anos reformas que o agora candidato não entregou nos oito anos que passou no Planalto. Entre elas a reforma política e a reforma tributária. 

A proposta acena com a hipótese de taxação dos muito ricos e colocação dos pobres novamente no Orçamento. Como a peça orçamentária é inelástica e o dinheiro é curto, faltou explicar como Lula fará para tirar o centrão do orçamento, abrindo espaço para a reacomodação dos pobres. (por Josias de Souza)
TOQUE DO EDITOR – Programas de governo costumam ser meras declarações eleitoreiras de boas intenções irrealizáveis e que, previsivelmente, depois sucumbem aos golpes da realidade. 

O da Dilma Rousseff em 2014, p. ex., tranquilizava o eleitor temeroso de que fossem impostas as reformas neoliberais exigidas pelo poder econômico. Mal acabava de receber a faixa, ela empossou um ministro da Economia neoliberal para fazer exatamente o que ela jurara de pés juntos que, caso fosse eleita, jamais seria feito...
Até quando os governantes eleitos pela esquerda
obedecerão docilmente às imposições capitalistas?  
Mesmo assim, o de Lula não precisava ser tão anêmico. A montanha desta vez pariu algo menor ainda do que um rato (um nematoide?). E nada indica que, depois das discussões internas e com os aliados, o texto final vá melhorar grande coisa.

É que, como o Lula não admite avançar um milímetro sequer adiante do capitalismo, seu programa está de antemão condenado a reciclar fórmulas já tentadas e superadas. 

Opta por ressuscitar ilusões do nacional-desenvolvimentismo, como se elas já não tivessem caducado há mais de meio século e como se o capitalismo de Estado fosse alternativa válida ao capitalismo liberal. 

Na verdade, não passam das duas faces da mesma moeda (uma moeda que deixará de circular porque o capitalismo agoniza e já perdeu até a capacidade de obter sobrevida à custa de manobras empurra-com-a-barriga, como a disponibilização de crédito para quem não pode pagar e a impressão de dinheiro sem lastro).

Emblemático (o cúmulo da inconsequência!!!) é o PT se dispor a brigar com unhas e dentes contra a privatização da Petrobrás, como se os combustíveis fósseis não estivessem conduzindo a espécie humana para a extinção. A hora é de cerrarmos fileiras em torno da mudança urgentíssima da matriz energética, e não para que o anjo exterminador traje verde e amarelo. (por Celso Lungaretti     

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