A privatização da Eletrobrás, por si mesma, já é um alucinante tiro no pé que vai aumentar as tarifas de energia e precarizar a já precária rede de eletricidade nacional.
A promessa, contudo, era que o valor arrecadado, uma mixaria, seria usado para investir na modernização do setor. Para o Bolsonaro, nem isto entraria nos planos.
Pior, pois a redução de impostos do combustível não iria alterar em praticamente nada o preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha no Brasil, pois o problema é de outra ordem e muito mais profundo, pois tem relação com interesses econômicos pesados de capitalistas nacionais e estrangeiros que se apoderaram da Petrobrás desde o fim da década de 1990.
Por óbvio, o problema não é abordado por nossa mídia, a qual, de forma mistificadora, atribui o preço apenas a pressões estrangeiras. Trata-se de uma explicação apenas parcialmente verdadeira, pois deixa inquestionado o problema de por que o país continua tão dependente do combustível importado e tão sensível a variações internacionais.
Este fato é ainda mais marcante quando se observa que o preço do combustível brasileiro, na média, é maior que o praticado no exterior, mesmo entre nossos vizinhos sul-americanos. A mídia, no entanto, não pode tocar no essencial, pois seus proprietários são também acionistas privados da Petrobrás.
A desestatização da petrolífera empurrou a empresa para a lógica do lucro acima de tudo. Quando surgiu, na década de 50, a empresa era pensada para auxiliar no desenvolvimento nacional e por isso o lucro era o menor das preocupações. Com acionistas privados, cotada em bolsa, o lucro passou a ser o predominante.
Esta situação ainda era contrabalanceada com o domínio estatal de 51% das ações, fato que fez com que a estatal durante o governo petista continuasse a cumprir função social, mesmo com prejuízos aos acionistas. A gritaria da mídia contra o uso político da Petrobrás durante o governo lulopetista vinha daí.
Já no segundo governo Dilma, a coisa mudou, com a imposição de uma Lei das Estatais e de um ajuste de condutas que obrigava a Petrobrás a dar lucro. E, obviamente, para ser lucrativa teve de deixar o valor final do combustível flutuando livremente, sempre para obter o máximo na venda. Daí os preços terem explodido.
Para ter lucro, foi preciso também diminuir o ritmo de investimentos, fazendo com que muitos projetos de novas refinarias fossem abandonadas. O resultado foi o estrangulamento da oferta, impactando ainda mais os preços.
Mas a cereja do bolo foi a criação da política de paridade de preços. Importadores de combustíveis entraram em cena para suprir a demanda não atendida pela produção nacional, pressionando mesmo pelo aumento do volume importado, o que levou a Petrobrás a não apenas deixar de abrir novas refinarias, como também a fechar as antigas.
Importando grande parte do combustível, o Brasil, um país auto-suficiente em petróleo, tornou-se dependente do estrangeiro, com o preço diretamente atrelado ao dólar e aos valores internacionais. O resultado imediato disso foi a greve dos caminhoneiros em 2018.
Um fato que a mídia brasileira sempre omite é que, no mundo inteiro, os combustíveis sofrem forte intervenção estatal.
Até mesmo na pátria do livre mercado, os EUA. Lá, p. ex., o petróleo é fortemente controlado pelo governo, com estoques reguladores, subsídios oficiais e acentuada intervenção militar global para garantir o fluxo do óleo. Favorece isto o fato da produção estadunidense ser um oligopólio de três ou quatro empresas.
No resto do mundo, o quadro é mais radical. Praticamente todos os grandes países possuem estatais petroleiras e, onde elas não existem, porque são importadores, o Estado mantém forte atuação para conter o preço.
Em nenhum lugar o preço do barril é diretamente repassado ao consumidor final, pois isto é um contrassenso político e social, que só pode resultar em inflação, instabilidade social e ônus político para o governante de plantão.
E aqui entra o nó de Bolsonaro, sua via crucis e o motivo de seu governo ser inviável.
O presidente genocida foi eleito amarrado ao compromisso de manter a lógica privatista da Petrobrás intacta, mesmo isto custando sua popularidade. Não pode alterar tal arranjo, pois seria seu fim, abandonado pela burguesia. Mas manter tal lógica é também acelerar o seu fim pela via eleitoral, pois o povo lhe negará apoio.
A verdade é que a solução para a crise do combustíveis é apenas uma: tornar a Petrobrás 100% estatal novamente, pois apenas assim será possível não apenas reduzir o impacto do valor dos produtos, mas também reativar investimentos, inclusive para a transição verde, a qual, mais uma vez, é feita no mundo inteiro com forte investimento estatal.
A lógica privatista está ameaçando deixar o Brasil para trás na passagem para a nova matriz energética, pois capitalistas não se interessam por gastar dinheiro em investimentos incertos, que superem os ganhos imediatos.
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