segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

O SEBASTIANISMO NUNCA DÁ CERTO. LÁ EM PORTUGAL ERA APOSTA NUM MORTO. CÁ NO BRASIL É APOSTA NUM PASSADO SEM VOLTA

dalton rosado
LULA RESOLVE?
Num cenário de vitória do presidenciável petista, se pergunta: Lula resolve? Não, não resolve. 

Atenua? Talvez atenue, porque pior do que o desastrado governo que aí está não pode ser. Mas tudo depende da intensificação da depressão econômica mundial em curso e da capacidade de barganha com o centrão, que é quem governa politicamente o Brasil e está sempre a serviço do grande capital, que é quem manda de fato.

O horizonte, sob os marcos do capital, é sombrio; portanto, a melhora com Lula seria relativa. Afinal (e pelo menos), ele não é negacionista. 

Haveria muita pressão interna dos movimentos sociais e sindicais (que ele sempre instrumentalizou, mas têm limites de uso); e existe muita gente no PT (ainda que iludida) com sensibilidade humanista e capaz de pressioná-lo. Afinal, coerentemente com sua condição de social-democrata, ele não é apenas um político conciliador submisso, mas também uma força auxiliar do capitalismo. 

Será este o momento de apenas evitarmos o mal maior em benefício de paliativos inconsistentes, sem sequer uma visão de médio prazo? Não podemos perder de vista que, na base dos sofrimentos atuais mundo afora, está a conjunção de crise sanitária com crise estrutural de um sistema caduco.

A renitente pandemia do coronavírus, que se recicla sob variantes e nos ataca como um exército invisível capaz de teimosamente voltar ao campo de batalha com contingentes inesperados, escancara que o capitalismo não consegue sobreviver sem os braços da produção social produtora de valor; sem as barrigas do consumo desenfreado; e sem as mentes teleguiadas pelo mercado.
Ao contrário do lusitano,  o D. Sebastião brasileiro até
pode voltar, mas não tem como trazer o passado com ele
 
 

Pari passu, a crise ecológica causada pelo aquecimento global não pode ser resolvida nos marcos do capitalismo predador, nem  sob o colaboracionismo capitalista social-democrata. Tende, portanto, a naufragar nas águas turvas do seu limite interno e externo da expansão capitalista que tudo necrosa. 

Vivemos hoje a depressão causada pela ineficácia de um governo desastroso e o presidente vindouro enfrentará, além dos nossos problemas internos ora agravados, a debacle cada vez mais acentuada do sistema capitalista mundial; então, precisaríamos de armas fora da lógica do capital para superar os problemas que se anunciam.

Com os tradicionais métodos de combate do mal com as armas do mal, corremos céleres para o desencanto e para a perda de esperanças, voltando os braços e mentes à insanidade que tomou conta dos brasileiros em 2018 (agora estão a nos fazer pagar o pato verde-amarelo que soltava grasnados de mau agouro na avenida Paulista, em frente à Fiesp, o bunker do capitalismo).

É definitivamente ineficaz o eterno pêndulo entre os governos:
— os governos de direita neoliberal (e suas cantilenas de eficiência administrativa, retomada do crescimento econômico e de combate à corrupção que eles mesmos praticam na base, oficialmente, pela extração de mais-valia do trabalho abstrato); e
— os da esquerda colaboracionista (que prega um capitalismo humanizado, como se o diabo pudesse ficar bonzinho). 

Tudo tem ocorrido ciclicamente, a cada decepção e apagão da memória eleitoral amnésica, já se ouve em muitos setores do capital a aceitação parcimoniosa e confiante de uma convivência com Lula. Não é demais nos lembrarmos da frase do presidente dos EUA que dizia você é o cara, com tapinhas nas costas do Lula e tapete vermelho (de todos eles) na Casa Branca. 
Do que ri o Obama? De o Lula achar-se mesmo "o cara"?

De minha parte, desconfio e continuarei sempre desconfiando de quem 
recebe os elogios do Tio Sam, porque com eles não tem almoço grátis, como dizia o Milton Friedman. 

E jamais me orgulharia como o Lula se recebesse agrado verbal de um presidente dos EUA, qualquer que fosse ele:
— aquele que apoiou Mohammad bin Salman, aquele sanguinário ditador da Arábia Saudita que mandou matar jornalista indefeso numa embaixada de seu país n Turquia;  
— aqueles que não pagam juros de sua dívida pública mas subvencionam bancos que (como ocorreu no caso da crise do sub-prime) cobram juros extorsivos da nossa;
— aqueles exportam moeda sem lastro e a trocam por nossa moeda menos insubsistente;
— aqueles que usam patentes tecnológicas para vender um pequeno comprimido por preço equivalente a vários sacos de soja;
— aquele que se dizia democrata e promoveu a militarização despótica da América latina;
— aquele que afirmava ser adepto do livre mercado mas criou barreiras alfandegárias para nossas matérias-primas; 
— trombeteava a necessidade de justiça social, mas defendia a remessa de lucros de empresas estadunidenses que aqui se instalam como forma de sobrevivência num mercado cujo balizamento da vitória mercadológica se define por baixos salários e subsídios fiscais governamentais;
— aquele que falava permanentemente em paz, mas fez a guerra da Coréia; 
— aquele que mandou  tropas para combater no Vietnã; 
— aquele que soltava bombas a 10 mil pés de altura, matando iraquianos inocentes sob a justificativa infundada de existência de armas químicas;
— aquele que execrava regime de Saddam Hussein mas antes era seu aliado, só deixando de sê-lo quando o ditador quis ser dono do petróleo existente em suas terras;
O golpista trapalhão com o matador de jornalistas
— aqueles que apoiaram o fundamentalismo religioso do saudita Osama bin Laden quando isso lhes era conveniente, criando um monstro que viria a se voltar contra o seu criador no devastador ataque ao World Trade Center;
— aquele que invadiu o longínquo Afeganistão por sentir-se palmatória do mundo;
— aquele que invadiu o Kuwait e iniciou a guerra do golfo pérsico de olho no seu estoque petrolífero;
— aquele que promoveu embargos econômicos ao Irã (ainda que se possa criticar o governo fundamentalista dos aiatolás) por não submeter-se aos caprichos estadunidenses; 
— aquele que alardeiam ajudas humanitárias mas promovem embargo econômico a uma pequena ilha caribenha após esta ter deposto um ditador que era apoiado pelo Tio Sam sem questionamentos;
— aqueles que perseguem os imigrantes latinos nas suas fronteiras prendendo-os, separando-os de suas crianças e as colocando em jaulas cercadas, além de deportar pobres indesejados (mas concedem green card a quem possa lá depositar US$ 1 milhão);
— aquele que mandou matar Che Guevara preso e indefeso, antes que o mundo clamasse por sua vida revolucionária, etc. 

É por estas e por outras que já estou pensando no day after pós-Boçalnaro, o ignaro, que é um presidente terminal, sem passado que o glorifique; com um presente que o define; e cujo futuro é apenas o de ser lembrado como o pior governante da história republicana.

Não devemos ter medo de uma reviravolta que negue as categorias capitalistas (trabalho abstrato, dinheiro, mercadoria, mercado, Estado, política, partidos, etc.), essas que nos causam tantos infortúnios e já se tornaram obsoletas.
O capitalismo agoniza, mas nós ainda nos podemos salvar
Temos mais é de aprender a lidar com o medo coletivo em andar para a frente e com o receio dos retrocessos que a história tem demonstrado ocorrer quando da transição causada pela saturação de um modelo de relação social que se torna obsoleto, até a sua consolidação (vide os avanços e retrocessos da revolução francesa, p. ex.).

Vivemos o ocaso e as dores do parto do sistema capitalista, que ora encerra seu ciclo de nascimento, vida e morte, colocando nos nossos braços e mentes a tarefa inadiável de superá-lo.  

A volta a um passado que foi ruim, mas menos bárbaro do que o presente, não deve ser a tônica dos nossos enfrentamentos. Temos de nos conscientizar a população da causa motora dos nossos problemas sociais, os quais somente podem ser resolvidos com a conjunção do uso tecnológico da ciência com um novo modo de produção social e uma nova ordem jurídico-constitucional. 

Este ano de 2022 é de grande importância para o restante do século 21: o Brasil não pode embarcar em ilusões salvadoras dentro do que está estabelecido enganosamente como imutável e ontológico à nossa existência. 

Precisamos incorporar o espírito do navegador lusitano que marchava corajoso por mares nunca dantes navegados, e com a esperança de encontrar um novo mundo (excluindo-se o sentido escravista colonizador de quem os financiava).

Navegar é preciso; viver não é preciso. (por Dalton Rosado)  
Esta é a composição do Dalton mais clicada no Youtube: 5 mil hits 

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