dalton rosado
O TORPOR IRRACIONAL
Simone de Beauvoir |
São muitos os exemplos da irracionalidade comportamental dos seres humanos nesta fase de sua segunda natureza dita racional.
O exemplo mais evidente de não termos superado o móvel fundamental que levou a humanidade à bestialidade das duas guerras mundiais do século passado é a possibilidade de disputa bélica pela hegemonia geopolítica da Ucrânia, entre Rússia e o Ocidente (com a palmatória do mundo, os Estados Unidos, à frente).
Tal ameaça tem abalado, em pleno século 21, os mercados mundiais, as bolsas de valores e as moedas fiduciárias internacionais tidas como fortes (as quais não o são verdadeiramente, somente sendo assim consideradas por mera crendice irracional ilógica.
A busca da hegemonia econômica e política de um país contra o outro prepondera, mesmo que a hipócrita diplomacia de salão teime em negar na prática (embora o afirme falsamente) a busca de relacionamento solidário entre as nações.
É genocida porque o ganho de capital extraído de quem compra as suas mercadorias nacionais (aí incluídos os ganhos de capitais empresariais e bancários internacionais) que permite uma relativa melhora do padrão de consumo de cada país, ainda que continuem existindo grandes desigualdades social nos países ditos ricos e em detrimento dos demais.
Os Estados Unidos, p. ex., detêm o maior PIB do mundo mas são também o país de mais desigualdade entre os ricos; o Brasil, por sua vez, é a mais desigual entre nações em fase de desenvolvimento econômico (além de hoje estar estagnado em maior proporção do que se observa de modo generalizado mundo afora).
O capital formatou os Estados nacionais como hoje os conhecemos; as suas sanhas belicistas, nas quais cada capitalista tenta aumentar o seu capital como forma de sobrevivência na guerra concorrencial de mercado num processo de busca de monopólio empresarial vital, são o padrão. Evidentemente os estados-nação não poderiam fugir deste padrão.
Não se pode querer que numa casa de jogos todos saiam ricos e felizes; ou que numa luta de MMA não saia alguém derrotado e quase sempre arrebentado.
As nações são inimigas uma das outras do ponto de vista político e econômico por força do seu modo de produção social capitalista, e isto somente poderá ser alterado ou superado a partir de um novo modo de produção: um modo solidário, no qual o que esteja sobrando aqui em termos de recursos materiais possa servir àquele que não o tem e vice-versa.
Isto não significa que hoje todo o povo de cada nação seja insensível à vida do seu vizinho, ainda que quando induzido coletivamente pela cantilena xenófoba (e essencialmente capitalista) de que o imigrante prejudica o seu bem estar, seja intolerante e insensível ao sofrimento alheio.
Muitas vezes os próprios imigrantes já aculturados e com visto de permanência definitiva num determinado país se posicionam contra seus semelhantes, sem olhar para o próprio rabo (o Donald Trump, descendente de imigrantes alemães que enriqueceram, que o diga).
A guerra é bestial porque o escravismo do ser humano é bestial. Foi assim nas sociedades primitivas imperiais ou feudais, e assim é nas sociedades capitalistas, esta com uma capacidade destruição muitíssimo maior e perigosamente própria à ordem capitalista mundial em fim de festa.
O mesmo poder bélico que, de 1939 a 1945, matou 50 milhões de pessoas que sequer se conheciam ou sabiam da existência daqueles que matavam, agora se corporifica na capacidade de extinção do ser humano sobre a face da terra; e são muitos os países que detêm tal poderio.
Pergunta-se: o que faria Adolf Hitler, quando era iminente a sua captura pelo exército vermelho a 500 metros de seu bunker, se pudesse apertar o botão de uma bomba atômica capaz de destruir a humanidade?
A irracionalidade coletiva do ser humano contrasta de forma incompreensível com os seus prodígios científicos ora alcançados, e tudo por conta de uma base de mediação social decrépita, obsoleta, que insiste em se preservar como testemunho de um torpor irracional coletivo, e que reduz o ser humano à condição de ser guiado destrutivamente por algo que ele mesmo formatou e ao qual ele obedece cegamente: a mercadoria.
É o exemplo mais claramente perceptível do feitiço virando contra o feiticeiro.
Outra evidência flagrante do torpor irracional e coletivo é o tratamento dado pelos países ao meio ambiente. Poluímos os rios, os mares, as lagoas, o subsolo, a superfície terrestre, e o ar que respiramos seguidos pela flauta mágica do capital e seu fetiche destrutivo e autodestrutivo.
Como não se conceber como um torpor irracional coletivo guiado por um fetiche econômico ecocida o fato de que as duas nações de maior PIB do mundo, os Estados Unidos e a China sejam continuadamente as maiores emissoras de gás carbônico na atmosfera provocando o aquecimento global que ameaça a vida animal e vegetal do planeta?
A cop26 propõe que se reduzam tais emissões de gases poluentes e que se substituam tais emissões por energias limpas que a ciência já provou serem possíveis de existir e eficazes. Entretanto, as decisões e compromissos formalmente assumidos viram letras mortas tão logo os países que os assinaram se deparam com a estrutura de poder econômico e político que os impele à continuação das práticas antiecológicas ecocidas. (por Dalton Rosado – continua neste post)
Um comentário:
O homem poderá destruir sua espécie pelo mau uso dos recursos intelectivos de que dispõe
Isso é o que Darwin quer dizer quando afirma que ocorre a seleção natural das espécies.
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