quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

ESTAMOS EM ROTA DE COLISÃO COM UM DESASTRE ECOLÓGICO ANUNCIADO – 1

dalton rosado
O TORPOR IRRACIONAL
Simone de Beauvoir
O efeito manada tem regido em muitas oportunidade, se não preponderantemente, as atitudes coletivas. 

São muitos os exemplos da irracionalidade comportamental dos seres humanos nesta fase de sua segunda natureza dita racional

O exemplo mais evidente de não termos superado o móvel fundamental que levou a humanidade à bestialidade das duas guerras mundiais do século passado é a possibilidade de disputa bélica pela hegemonia geopolítica da Ucrânia, entre Rússia e o Ocidente (com a palmatória do mundo, os Estados Unidos, à frente). 

Tal ameaça tem abalado, em pleno século 21, os mercados mundiais, as bolsas de valores e as  moedas fiduciárias internacionais tidas como fortes (as quais não o são verdadeiramente, somente sendo assim consideradas por mera crendice irracional ilógica.

A busca da hegemonia econômica e política de um país contra o outro prepondera, mesmo que a hipócrita diplomacia de salão teime em negar na prática (embora o afirme falsamente) a busca de relacionamento solidário entre as nações. 

Como afirmei neste artigo, o nacionalismo patriótico é genocida e idiota.

É genocida porque o ganho de capital extraído de quem compra as suas mercadorias nacionais (aí incluídos os ganhos de capitais empresariais e bancários internacionais) que permite uma relativa melhora do padrão de consumo de cada país, ainda que continuem existindo grandes desigualdades social nos países ditos ricos e em detrimento dos demais. 

Os Estados Unidos, p. ex., detêm o maior PIB do mundo mas são também o país de mais desigualdade entre os ricos; o Brasil, por sua vez, é a mais desigual entre nações em fase de desenvolvimento econômico (além de hoje estar estagnado em maior proporção do que se observa de modo generalizado mundo afora).

O capital formatou os Estados nacionais como hoje os conhecemos; as suas sanhas belicistas, nas quais cada capitalista tenta aumentar o seu capital como forma de sobrevivência na guerra concorrencial de mercado num processo de busca de monopólio empresarial vital, são o padrão. Evidentemente os  estados-nação não poderiam fugir deste padrão.

Não se pode querer que numa casa de jogos todos saiam ricos e felizes; ou que numa luta de MMA não saia alguém derrotado e quase sempre arrebentado. 

As nações são inimigas uma das outras do ponto de vista político e econômico por força do seu modo de produção social capitalista, e isto somente poderá ser alterado ou superado a partir de um novo modo de produção: um modo solidário, no qual o que esteja sobrando aqui em termos de recursos materiais possa servir àquele que não o tem e vice-versa.

Isto não significa que hoje todo o povo de cada nação seja insensível à vida do seu vizinho, ainda que quando induzido coletivamente pela cantilena xenófoba (e essencialmente capitalista) de que o imigrante prejudica o seu bem estar, seja intolerante e insensível ao sofrimento alheio. 

Muitas vezes os próprios imigrantes já aculturados e com visto de permanência definitiva num determinado país se posicionam contra seus semelhantes, sem olhar para o próprio rabo (o Donald Trump, descendente de imigrantes alemães que enriqueceram, que o diga). 

A guerra é bestial porque o escravismo do ser humano é bestial. Foi assim nas sociedades primitivas imperiais ou feudais, e assim é nas sociedades capitalistas, esta com uma capacidade destruição muitíssimo maior e perigosamente própria à ordem capitalista mundial em fim de festa.

O mesmo poder bélico que, de 1939 a 1945, matou 50 milhões de pessoas  que sequer se conheciam ou sabiam da existência daqueles que matavam, agora se corporifica na capacidade de extinção do ser humano sobre a face da terra; e são muitos os países que detêm tal poderio.

Pergunta-se: o que faria Adolf Hitler, quando era iminente a sua captura pelo exército vermelho a 500 metros de seu bunker, se pudesse apertar o botão de uma bomba atômica capaz de destruir a humanidade? 

A irracionalidade coletiva do ser humano contrasta de forma incompreensível com os seus prodígios científicos ora alcançados, e tudo por conta de uma base de mediação social decrépita, obsoleta, que insiste em se preservar como testemunho de um torpor irracional coletivo, e que reduz o ser humano à condição de ser guiado destrutivamente por algo que ele mesmo formatou e ao qual ele obedece cegamente: a mercadoria. 

É o exemplo mais claramente perceptível do feitiço virando contra o feiticeiro.  

Outra evidência flagrante do torpor irracional e coletivo é o tratamento dado pelos países ao meio ambiente. Poluímos os rios, os mares, as lagoas, o subsolo, a superfície terrestre, e o ar que respiramos seguidos pela flauta mágica do capital e seu fetiche destrutivo e autodestrutivo. 

Como não se conceber como um torpor irracional coletivo guiado por um fetiche econômico ecocida o fato de que as duas nações de maior PIB do mundo, os Estados Unidos e a China sejam continuadamente as maiores emissoras de gás carbônico na atmosfera provocando o aquecimento global que ameaça a vida animal e vegetal do planeta? 

A cop26 propõe que se reduzam tais emissões de gases poluentes e que se substituam tais emissões por energias limpas que a ciência já provou serem possíveis de existir e eficazes. Entretanto, as decisões e compromissos formalmente assumidos viram letras mortas tão logo os países que os assinaram se deparam com a estrutura de poder econômico e político que os impele à continuação das práticas antiecológicas ecocidas. (por Dalton Rosado  continua neste post)

Um comentário:

SF disse...

O homem poderá destruir sua espécie pelo mau uso dos recursos intelectivos de que dispõe
Isso é o que Darwin quer dizer quando afirma que ocorre a seleção natural das espécies.

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