quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

LULA, MORO, CIRO E AFINS SÃO DA CASA –2

  (continuação deste post)
G
rande parte da chamada classe média (e parte da elite intelectual) que diz defender os pobres, adora a democracia burguesa para poder posar de politicamente correta, desde que o capitalismo continue a existir e sejam conservados os seus privilégios.

O segmento social brasileiro com razoável poder de consumo (que é conhecido como pequena burguesia e vive em contraste abismal com os trabalhadores de baixa renda) está agora ameaçado pela depressão mundial do capitalismo.

[Agravado por aqui pela incompetência do Boçalnaro, a quem ela em 2018 apoiou; quer a volta ao passado, mas, ressabiada, ressalva agora que isto tem de se dar com alguém confiável, não com qualquer rato de esgoto...]   

Grande parte deste segmento vai votar no Lula, pois espera que, ao contrário de Dilma, o cacique petista possa reverter o quadro de queda livre da sua capacidade de consumo. Outra parte procura uma 3ª via, com medo do fictício perigo vermelho, tendendo a votar num Moro, Ciro ou afins.   

O povão de baixa renda, amplamente majoritário em termos numéricos, deve seguir a obediência a tudo que é manipulação eleitoral midiática, econômica, coronelista, religiosa, com corrupção eleitoral e posturas imediatistas interesseiras; enfim, de toda forma de manutenção do cabresto histórico. 

Os coitadezas desejam o paraíso (ou o luxo que somente contemplam, embasbacados, a partir do lado de fora) e, inadvertidamente, votam nos seus algozes, até porque sonham igualarem-se a eles.  
Concordamos quanto à necessidade de afastarmos o o genocida sinistro do poder o mais rapidamente possível, mas divergimos da forma de fazê-lo.

Divergimos da ultradireita nazista, que quer a volta da ditadura com apoio popular; e divergimos dos conscienciosos democratas burgueses que querem colocar no poder alguém com mais sensibilidade humana e domínio das relações de poder (culturais e administrativas).

A nós, os emancipacionistas, não interessa que se mude algo cosmeticamente para que tudo continue na mesma.   

A democracia burguesa não pode ser entendida como um remédio genérico que cura os males estruturais de uma sociedade na qual o povo perde quase que completamente o controle sobre as suas escolhas, sendo obrigado a escolher a partir do que já foi previamente escolhido. O povo não pode servir de chancela legitimadora do seu próprio infortúnio. 

Como pode uma sociedade fundada no princípio de exploração segregacionista da forma-valor (mercadoria salário que acumula o capital de quem a compra) se pretender democrática? 

É evidente que a sua forma política (eleitoral e administrativa estatal e institucional) obedece ao critério que lhe serve de alicerce: o roubo pelo capital da riqueza material socialmente produzida. 

Quando se coloca o espelho diante dos sociais-democratas politicamente corretos, ao invés de isto provocar neles uma reflexão honesta seguida de autocrítica, leva-os apenas a quebrarem o espelho e desqualificarem quem segura o dito cujo, como se estivesse propondo tirar-se leite de pedra. 

E se fazemos o mesmo teste com os ultradireitistas, a reação deles é quebrarem o espelho na cara de quem os sustenta. 

Não conseguem conceber o ser humano como capaz de criar uma sociedade justa, fraterna e igualitária, respeitando-se as desigualdades naturais de cada ser humano e que fazem a sua grandeza na omnilateralidade. 

É intrigante como os marxistas a crítica da economia política do próprio Marx, que é onde ele mais acertou. 

Mexer no quarto escuro no qual estão guardados os segredos da vida social é atitude proibida; a política não aceita concorrência. Para estes, criticar as categorias capitalistas é algo tão grave como se quiséssemos negar e revogar a lei da gravidade. 

As categorias capitalistas foram transformados pela política em dados ontológicos da vida social e ganho irreversível da civilização dita moderna, ainda que tudo esteja desmoronando, seja do ponto de vista da nossa capacidade de mediação social capaz de promover de uma vida social razoavelmente equânime, pacífica e sustentável, seja do ponto de vista ecológico. 

Temer, o temerário, era ruim; depois veio Boçalnaro, o ignaro, muitíssimo pior. Ambos, contudo, apenas reeditaram com mais ênfase tudo o que Dilma havia adotado como remédio administrativo da crise. Há que sairmos deste ciclo vicioso.

Alguém pode até achar que estou sendo negativo em demasia, mas neste particular repito as palavras do Ariano Suassuna: "Não sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos e os pessimistas, amargos. Sou um realista esperançoso". (por Dalton Rosado)

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