O ditador sanguinolento Médici, à época do falso milagre brasileiro financiado pelos Estados Unidos (a conta viria logo depois), recebia aplausos em estádios de futebol enquanto os defensores do povo eram assassinados e torturados nos cárceres da ditadura.
Fernando Henrique Cardoso se elegeu como controlador da inflação com o Plano Real do Governo Itamar (do qual ele era ministro da Fazenda).
Lula ainda sobrevive politicamente graças às boas lembranças que ficaram do seu primeiro governo, quando a economia brasileira se beneficiou da circunstância (fortuita) de nossas commodities estarem em alta no mercado internacional.
Fico a imaginar o que seria de nós se Boçalnaro, o ignaro, houvesse sido bafejado por um fator econômico qualquer, mesmo que momentâneo, e o povo brasileiro passasse por um período de bonança, tal qual ocorreu com Hitler na segunda metade da década de 1930.
Aliás, o que seria de um candidato que resolvesse falar a verdade para o eleitor?
O que seria dele se dissesse que o sistema capitalista, no qual está inserido e pelo qual pretende eleger-se, é de completa exploração, está colapsando, promovendo miséria e uma crise ecológica sem precedentes, daí ser imperativa a sua superação o quanto antes?
Certamente seria muito mais difícil para ele atingir os seus objetivos se admitisse que, com a falência do Estado, sequer as demandas sociais básicas (saúde, educação e segurança pública) podem ser atendidas eficazmente, porque o dinheiro dos impostos vai:
— para pagar os juros da dívida;
— para o financiamento político-eleitoral dos partidos;
— para viabilizar a renúncia fiscal (os impostos de grandes empresários que o Estado abre mão de receber);
— para financiar os gastos com a infraestrutura capitalista (estrada, aeroportos, energia, portos fluviais e marítimos):
— para os juros subsidiados pelos bancos de desenvolvimento econômico (pretensamente social).
Enfim, nem sob tortura ele pode deixar os de fora perceberem que os gastos com o Executivo, o Legislativo e o Judiciário são absolutamente incompatíveis com a renda média dos brasileiros...
Descumprindo tais normas de procedimento obrigatórios dos políticos profissionais, ele estaria exposto a ser substituído como candidato do partido e, ainda por cima, processado por falta de decoro político-eleitoral, com sua candidatura sendo impugnada pela Justiça Eleitoral.
As massas são conduzidas como gado para o curral. Agem orientadas por simbologias e convencimentos midiáticos e pela revolta causada pela miséria a que estão submetidos, sendo tudo muito bem orquestrado para fazê-las acreditar piamente que o novo governante poderá dar outro rumo para suas vidas, mesmo dentro das regras capitalistas estabelecidas.
É, enfim, induzida a crer que tudo se resuma a uma questão de boa ou má governabilidade, pois aprendeu a positivar todas as categorias capitalistas como se estas fossem dados ontológicos e imutáveis de suas existências.
A coisa começa na escola, quando todos (dos comunistas tradicionais aos nazistas e capitalistas liberais) exaltam as virtudes da mercadoria trabalho, sem poderem aperceber-se que é justamente em tal categoria capitalista (a qual nada tem a ver com atividade produtiva necessária à vida) que reside o germe original da manipulação.
Recentemente assisti pela TV (com propaganda paga com dinheiro público) à chamada de jovens para as urnas, com jovens atores afirmando, graciosos e ingênuos: "Eu quero decidir sobre o meu futuro pelo voto".
É assim que a democracia burguesa age, fingindo-se capaz de curar e corrigir toda e qualquer distorção administrativa circunstancial pelo processo eleitoral e sucessão governamental e propagandeando que fora dela só resta a nefasta ditadura.
É assim que, a cada ciclo de decepção com projetos políticos governamentais que se alternam num eterno pêndulo da ineficácia (tal qual o pêndulo daquele relógio de parede que nunca sai do lugar), ocorre a alternância do poder político para que o verdadeiro poder, o econômico, permaneça incólume; e que possa se dar a transferência de responsabilidade num processo de representação política destinado à dominação de vontades.
Se a voz do povo encabrestado ou manipulado fosse a voz de Deus, como alardeiam os políticos, endeusando a pretensa vontade soberana do voto, Jesus Cristo não teria sido crucificado. Afinal não era ele o filho de Deus feito homem?
Quando o capitalismo descobriu que pelo voto podia controlar tudo, liberou o voto das mulheres, dos negros, dos meninos, e assim a exploração foi politicamente legitimada.
Há que se horizontalizar a administração da vida social nos seus campos de produção social, distribuição da riqueza material, direito e ordem jurídica, e de modo que o exercício deste gerenciamento direto dos seus interesses possa prover o povo de uma consciência sobre seus próprios erros e acertos, sem transferência de responsabilidades para os seus algozes na vida privada e pública, como hoje ocorre. (por Dalton Rosado)
Um comentário:
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Fico feliz.
Concordamos que a política é a tirania que repousa sobre o argumentum ad baculum, quando todos as demais mentiras dos políticos falham.
E elas falham, logo, o próximo passo é o caos.
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A forçação de barra de Marx para criar duas ideias puras e contraditórias de maneira a apoiar a sua tese do materialismo histórico, a saber, as idealizadas classes burguesia/proletário, levou a afirmação categórica e inconteste de que existe uma luta e, assim, só pelo processo revolucionário se dará extinção desta contradição e o nascimento do mundo sem classes.
Certezas absolutas e regras inflexíveis que não lograram predizer e deste modo direcionar o desenvolvimento da sociedade.
O processo revolucionário produziu não a extinção de classes, mas a reafirmação do modelo de classes hierarquizadas que rege as comunidades.
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O coletivismo acaba no momento em que alguém de um grupo diz que não come cebolas!
Pronto!
Ei-lo. O diferente!
Para suprimi-lo o coletivo usa seu poder arbitrariamente e (que surpresa!) revive o argumentum ad baculum... em nome do bem comum.
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O que a teoria marxista evita, em longas e soporíferas digressões, é a existência e validade deste "diferente", desse eu que se afirma em sua individualidade e idiossincrasias.
Reduzindo tudo e todos a uma contradição básica, constrói uma certeza ilusória e portanto fracassa no seu objetivo idealizado.
É em última análise uma falácia do falso dilema.
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Essa assunto teve, no entanto, uma abordagem anterior de muito sucesso defendida pelos filósofos da natureza.
Na sua busca não pelo discurso, mas pela evidência e pela prova, os matemáticos e geômetras criaram uma linguagem pacificadora e que independe de contradições.
Uma linguagem universal. Irretorquível.
Honesta ao ponto de comportar o paradoxo, a incerteza, criando métodos de inferência capazes conduzir a aventura humana sempre em direção ao melhor possível.
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É o mundo tecnológico que vem suplantando todo o emaranhado dialético, as falácias e os sofismas sobre os quais se fundam as burocracias,
Penso eu que, neste momento histórico, elas não apitam mais nada.
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A tecnologia que foi criada é tão abrangente e inclusiva que permite a criação do metaverso, onde a mercadoria evidencia-se em sua forma ilusória mais pura. Absolutamente virtual. Tanto o "bem" como o dinheiro, ambos ilusórios.
A matrix se desvela.
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Portanto, Dalton, o desenvolvimento dos eventos sociais não serão mais ditados pela luta de classes, posto que o projeto da classe burguesa expandiu-se a tal ponto que levou roldão a própria relação dialética capital/trabalho.
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