Em artigo com a profundidade de uma poça d'água (ver aqui), Demétrio Magnoli recentemente inculpou a esquerda universitária e suas pautas identitárias por esta nova realidade que, segundo ele, faria Marx revirar-se no túmulo:
"Atualmente, os partidos à esquerda representam as classes médias urbanas, educadas e cosmopolitas, enquanto os partidos à direita assentam-se nos trabalhadores, na baixa classe média e nas pequenas cidades".
Diz suspeitar que a raiz de tal fenômeno tenha sido uma incapacidade da esquerda de responder ao "avanço das políticas econômicas liberais" a partir da queda do muro de Berlim em 1989, motivo pelo qual, segundo seu entendimento, elas "fugiram do campo de batalha central".
Tal fuga, na verdade, se deu na década anterior, quando, nos países latino-americanos, a derrota da luta armada foi quase comemorada como um triunfo por parte daqueles agrupamentos esquerdistas que não a travaram, chegando até a proibir seus quadros de socorrerem guerrilheiros em apuros, como fez o nosso partidão.
E, onde os movimentos contestatórios ameaçaram concretamente o poder burguês, foram exatamente os comunistas que deram mão forte aos governantes direitistas, casos emblemáticos da França (preferindo De Gaulle a Cohn-Bendit) e da Itália (mancomunando-se com a corrupta e mafiosa democracia cristã).
PCB comunicando a expulsão de militantes simpáticos à luta armada, Marighella e Jacob Gorender inclusos |
Os identitários cometem mesmo erro crasso ao pulverizar a resistência ao capitalismo agônico (e, por isto, ainda mais nefasto e destrutivo), com cada tendência magnificando seus objetivos específicos sem atentar para o fato de que eles jamais serão real e definitivamente alcançados sob o regime da exploração do homem pelo homem. O certo seria priorizarem o enfrentamento vitorioso do inimigo comum.
Mas, pelo menos os identitários são um fenômeno do pós-1968, enquanto o reformismo social-democrata que grassou na Europa e domesticou o nosso PT não passa de uma relíquia do pré-1917...
Quanto à lufada modernizadora da economia capitalista ocorrida no final do século passado, com a globalização dos mercados e alguns avanços científicos e tecnológicos significativos, ensejou muitas ilusões de humanização do capitalismo nos esquerdistas que, eles sim, buscavam uma justificativa para se distanciarem da batalha.
[Lamento, especialmente, que o Paulo Francis, o Mario Vargas Llosa e o Jorge Semprún estivessem entre os que bateram em retirada...]
Hoje, contudo, está definitivamente provado que os ganhos produtivos a partir daí obtidos serviram foi para exacerbar a desigualdade econômica e social, a ponto de, p. ex., 1% da população brasileira concentrar metade da riqueza do país.
Noves fora, a esquerda se elitizou, isto sim, por ter buscado um modus vivendi com o capitalismo, contentando-se em tentar obter, para os explorados, algumas migalhas a mais do banquete dos biliardários, ao invés de se manter fiel à suas bandeiras históricas: a superação do capitalismo, abrindo caminho para a justiça social, a liberdade plena e um aproveitamento racional dos recursos finitos dos quais a humanidade depende para sua sobrevivência.
E, por não haver tido a coragem e o discernimento de continuar apontando às grandes massas qual é a verdadeira origem de sua permanente insatisfação, deixou o terreno livre para a manipulação da extrema-direita e da religião mercantilizada, que promovem verdadeira lavagem cerebral ao colocarem, de forma abastardada, as modernas técnicas de comunicação a serviço da mentira, do retrocesso e da desumanização. (por Celso Lungaretti)
5 comentários:
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-imponderavel-mundo-novo/4/52061
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cinema/Mostra-Ditadura-Nunca-Mais-filmes-para-nao-esquecer-/59/52032
https://jacobinlat.com/2021/11/08/el-estado-y-la-revolucion-de-lenin/
New York Times
Ya sabíamos que Bolsonaro era culpable y ahora tenemos 1288 páginas de evidencia
https://www.nytimes.com/es/2021/11/01/espanol/opinion/bolsonaro-covid.html
La ultraderecha brasileña se refugia en Telegram para promover la desinformación
https://www.nytimes.com/es/2021/11/09/espanol/brasil-telegram-desinformacion.html
Terra em Transe é obra-prima.
Depois de assistir aos grandes filmes brasileiros dos anos 60 e 70, os atuais, com estética copiada das produções da Globo para TV, nunca se compararão. Ô, praga!
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