quarta-feira, 25 de agosto de 2021

SEGUNDO DALTON ROSADO, O BOLSONARO JÁ SE TORNOU CARTA FORA DO BARALHO

RACIOCINANDO PELA BARRIGA
N
o início dos anos 70, quando o pau comia contra os adversários do regime, o povo aplaudia o ditador Médici no Maracanã, enquanto ele assistia aos jogos com o ouvido colado num rádio de pilha. 

Era um período em que o capitalismo internacional abria os cofres para o endividamento do governo militar, como forma de demonstrar ao povo as pretensas vantagens de um governo ditatorial. A cobrança da fatura viria depois, de uma forma cruel.

A frase icônica do carnavalesco Joaozinho Trinta subentende que o povo, legitimamente, anseia por uma vida de conforto e livre da miséria a que é submetido, enquanto que os intelectuais se debruçam sobre as razões de tal miséria.

Ambos estão corretos nas suas pretensões e posicionamentos, cada um no seu espaço de vida. 

Mas é o mesmo Joaozinho Trinta quem também disse, acertadamente, que o dinheiro é a desgraça da humanidade, pois escreve os maiores dramas. Ora, o luxo, na sociedade do capital, é comprado com o dinheiro que o povo não tem. Assim, o dinheiro se torna o objeto de desejo inalcançável, juntamente com o desejado luxo. 

Aprendemos, desde criancinhas, a pedir dinheiro para comprar o doce desejado. O dinheiro, portanto, não é um fim em si, mas o meio para que consigamos a realização do desejo inalcançável. 
Fazer demagogia nos estádios de futebol foi outra
lição que Bolsonaro aprendeu com Médici...

Em obediência às ordens do capital, tais quais os vendedores de drogas que viciam os compradores para que se tornem delas dependentes, os governantes viciam o povo no consumismo de todos os tipos de mercadorias, ensinando-o a idolatrar o dinheiro, sem que o povo se dê conta dos malefícios nele embutidos. 

Os pobretões adoram o que não conhecem (o dinheiro) na sua essência destrutiva, sempre em busca do esplendor de uma vida que idealizam e não têm.

O povo, impelido a adorar o que não conhece (o dinheiro) , é também induzido a apoiar qualquer salvador da pátria que o subjugará, mas desde que este promova a acessibilidade pelo menos ao pão e ao circo.

Os militares, após 21 anos, deixaram o poder com inflação alta, estagnação econômica, dívida pública crescente sobre as quais incidem juros pesados, corrupção nas estatais (que brotaram como cogumelos, como acontece também nos governos de esquerda), desemprego estrutural, etc.

FHC, que se elegeu por ter domado a inflação (o verdadeiro autor da proeza foi Pérsio Arida), logo depois naufragou com seu neoliberalismo de ocasião.  

Lula, que surfou nas ondas da alta dos preços das commodities e pôde proporcionar alguma melhora dos empregos, lucros aos bancos e empresários (inclusive de pequeno porte), programas habitacionais e ajudas financeiras aos desvalidos do capitalismo (que não são poucos), minorando assim o absurdo nível de pobreza extrema existente no Brasil, ainda vive dessa memória de tempos menos bicudos e talvez até se reeleja.. 
...mas exagerou ao descer para o gramado e tentar ser
o centro das atenções, com seu exibicionismo desmedido.
Dilma Rousseff, em que pese a sua inabilidade política e alinhamento com o que há de pior na economia e na política brasileira (de Joaquim Levy a Roberto Jefferson), pagou caro o ônus de uma fatura que pousou no seu colo a partir do primeiro mandato e estendeu-se até o início do segundo, quando a direita a defenestrou do poder com um peteleco (ou
pedaladeco). 

Mas o capitalismo ora passa por um estágio de crise econômica e ambiental mundial que atinge até os países ricos, mas se abate com força total nas nações de sua periferia, nelas tornando a vida praticamente insuportável. 

Se Lula ganhar vai administrar a miséria com os critérios capitalistas que ele defende e nos quais acredita; assim agindo, apagará da memória popular a sua boa (e falsa) imagem de outrora.

Fico pasmo de observar que todos querem e falam em democracia, e até mesmo os golpistas proclamam o golpe em seu nome (só aqui se anuncia uma virada de mesa com data marcada, como se fosse uma piada de brasileiro contada em Portugal). 

Quando se fala em democracia, panaceia política usada para enganar o povo que vive sob um regime pretensamente representativo de suas vontades, esquecemos que a economia capitalista é a maior das ditaduras, e que não há regime político soberano sob a égide dos ditames ditatoriais da lógica do capital.

O capital, como tenho dito, dá ordens aos seus súditos políticos. 

Assim, p. ex., desde Mao Tse-Tung e depois sob Deng Xiao Ping e seus seguidores, o fechado e ditatorial regime chinês pauta as suas ações de governo de acordo com a lógica capitalista selvagem por ele praticado e que vai sucumbir juntamente com as regras autofágicas do modo de mediação social que adotou tão logo assumiu o poder. 
Preços nas alturas, Bolsonaro no fundo do poço

O povo, então, é levado a raciocinar com a barriga. Quando a dita cuja está razoavelmente cheia, não se furta a gritar
Salve o rei!; mas quando ela está vazia como agora (e ainda sem ar, sem água, com fogo nas matas e epidemia virótica persistente), clama, uníssono, Abaixo o rei!

Com o perdão do trocadilho fácil, Boçalnaro, o ignaro, é carta fora do baralho! (por Dalton Rosado) 
Toque do editor – Triste constatação, meu caro Dalton: o Bozo está marchando para o fim e tentando jogadas desesperadas  que só vão acelerar a sua queda, porque a degringola econômica se acentuou (vergastando as grandes massas) e ficou evidente que 2021 e 2022 também serão anos perdidos (exasperando os grandes empresários). 

A terrível matança que ele causou com sua sabotagem e negacionismo durante a crise sanitária não fez despencar tanto a popularidade do genocida junto ao povão quanto a escalada da inflação, da miséria e do desemprego.

Fica totalmente comprovada, portanto, a sua afirmação de que os coitadezas raciocinam com a barriga, assim como em 2018 constatamos que o Pelé fora profético ao dizer que os brasileiros não sabem votar. (por Celso Lungaretti)

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