O ALTO CUSTO BOLSONARO PARA OS EVANGÉLICOS
Quanto vai custar às igrejas e grupos evangélicos, em termos de credibilidade, terem apoiado a eleição e sustentado até agora o governo de Jair Bolsonaro, embora seu programa eleitoral e suas decisões e indecisões como presidente nada tenham a ver com os princípios morais do cristianismo?
Podemos começar pela linguagem chula, sem educação, rude, um tanto grosseira, obscena e tantas vezes de baixo calão, inapropriada para quem ocupa o cargo de presidente de um país até há pouco respeitado em todo o mundo.
Imaginem o tosco Bolsonaro no púlpito de uma igreja, ao lado de uma bíblia, ou num encontro internacional da ONU em Genebra, falando como se estivesse num boteco.
Mas até Mazzaropi seria respeitado se, em termos de governo, mostrasse inteligência e respeito ao povo, a todos os cidadãos, com suas diferenças de cor, gênero e de comportamento.
Não é o caso. Bolsonaro é racista, desrespeita as mulheres como um machista já fora da moda, não considera os indígenas como seres humanos e não tem nenhum respeito pelos pobres, muito menos quando morrem de covid.
Não se pode esquecer que ele defendeu, em seu passado de deputado, a esterilização dos pobres como meio eficaz para combater a criminalidade e a miséria. Ou seja, em lugar de se resolver a questão social, se diminui a população miserável.
Já se pode perceber que, com ele, não tem essa de direitos humanos. Ou, como dizia quando deputado federal, o Brasil só vai melhorar quando nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro.
E completou: Fazendo o trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil. Não deixar ir para fora, não, matando. Se vão morrer alguns inocentes, tudo bem, em tudo quanto é guerra morrem inocentes.
Essa mesma atração patológica pela morte ressurge quando começam a morrer brasileiros com a covid-19 – ninguém morre antes da hora!
Fazia questão de se dizer um nostálgico da ditadura militar, sempre apoiou a tortura e as execuções extrajudiciais (bandido bom é bandido morto), fez até o elogio do chefão do DOI-Codi paulista, o torturador Brilhante Ustra, em plena votação na Câmara Federal do pedido de abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff , transmitida por TV para todo o Brasil.
Isto vale como introdução, pois tal linguagem de extrema-direita de Bolsonaro, responsável por ser qualificado como fascista e, logo depois, como nazifascista, foi confirmada na prática ao tratar com desdém a crise sanitária do coronavírus, qualificando-a como gripezinha e chamando de maricas quem quisesse se vacinar.
...qualquer um... menos o Bozo! |
Assessorado por um gabinete paralelo, tornou-se o único outro presidente em todo mundo a, seguindo as pegadas do estadunidense Donald Trump, adotar e a fazer propaganda da cloroquina como remédio para o coronavírus.
Obcecado com essa pretensa droga milagrosa, demitiu sucessivamente dois ministros da Saúde com formação médica que se recusaram a avalizar tal farsa, até indicar para tal posto um general sem nenhuma familiaridade com a tarefa e disposto a obedecer qualquer ordem disparatada do capitão.
O resultado dramático, de quase 550 mil mortes, prestes a ultrapassar o número de óbitos nos EUA (onde o ex-presidente Donald Trump, após iniciar tal onda, acabou desembarcando da canoa furada), já lhe garantiu o epíteto genocida.
A tudo isso vem se juntar o escândalo do superfaturamento na compra da vacina indiana Covaxin e as denúncias da cunhada de Bolsonaro sobre a rachadinha.
Sem esquecer a destruição da Amazônia, a liquidação das nossas empresas estatais e a liberalização do porte e compra de armas. No exterior, os jornais chegam a dar capa para as manifestações contra Bolsonaro. Geralmente, quando isso ocorre, quando começa a cheirar mal até no exterior, ou vai cair ou vai haver golpe.
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E A RESPONSABILIDADE DOS EVANGÉLICOS NISSO TUDO?
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Não é preciso ser teólogo para ver a responsabilidade dos evangélicos, de maneira geral tanto as denominações tradicionais (como presbiterianos, metodistas, batistas) quanto as populares (como pentecostais e congregações cristãs) na eleição e no apoio ainda atual ao presidente Bolsonaro.
Como haveria sido costurado esse acordo? Teriam sido as grandes empresas agropecuárias as articuladoras, em troca da liberação das áreas protegidas das florestas amazônicas para o plantio de cereais e criação de gado? A rapidez com que se iniciaram os desmates e os incêndios aponta em tal direção.
Jesus expulsaria esses hereges da marcha a golpes de vara! |
É importante assinalar que, nos últimos anos, as denominações evangélicas brasileiras não tradicionais souberam simplificar a mensagem cristã como compensatória da pobreza e miséria, transformando-a num tipo de populismo religioso.
Nada a ver com a Teologia da Libertação dos católicos progressistas, pois os evangélicos não parecem interessados em qualquer tipo de reforma social, apenas na doutrina da salvação da alma, no quadro fundamentalista e conservador de um cristianismo de submissão.
Esta nova situação na estrutura política do Brasil, onde um governo é sustentado por cerca de 30% de religiosos, nos remete ao ocorrido no começo do século passado na Alemanha, quando o regime nazista conseguiu ganhar o apoio dos luteranos e evangélicos, incluindo a cumplicidade na perseguição aos judeus.
A semelhança, contudo, termina aí, porque a cultura teológica na Alemanha, onde ocorrera a Reforma, engendrou o surgimento de uma oposição cristã, com pastores como Karl Barth, Martin Niemöller e Dietrich Bonhoeffer (este último enforcado, os outros presos em campos de concentração).
Isso, porém, não impediu que Hitler, também atraído pela morte, levasse a Alemanha à guerra e ao holocausto dos judeus. No Brasil, só alguns pastores destoam do culto prestado a Bolsonaro.
Quando acabar esse pesadelo no qual vivemos, o evangelismo e o protestantismo brasileiro deverão também assumir suas responsabilidades, como fizeram, depois da 2ª Guerra Mundial, os luteranos e evangélicos alemães enfeitiçados por Hitler.
Mas aí terão perdido muito de sua credibilidade. (por Rui Martins)
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