O Borba Gato queimou... |
Motivo: tratou-se de outro dos sertanistas brasileiros que não passavam de caçadores de indígenas e de escravos fugidos, tendo sido, ainda, responsáveis por massacres e estupros aos montes.
A remoção legal daquele exemplo de feiura e símbolo de extermínio já deveria ter ocorrido há uma eternidade. Mas, não vejo motivo para se fornecer, justamente agora, munição retórica ao bolsonarismo agonizante.
O governo do genocida está derretendo a olhos vistos e, como nada de positivo tem para apresentar, tenta salvar-se com alarmismo barato. Ao cuidado com o Lula! poderá somar-se o cuidado com os terroristas!
Mais vale centrarmos fogo no inimigo principal e deixarmos besteirinhas como essa –um modismo importado de nações que não têm um doido de pedra ensanguentando a faixa presidencial– para depois.
O episódio me fez lembrar o pedido que um pequeno grupo de resistentes à ditadura militar fez para a Vanguarda Popular Revolucionária em agosto de 1969.
Seus integrantes eram, se bem me lembro, arquitetos e queriam de nós dinamite para explodir a estátua do Duque de Caxias no bairro paulistano de Campos Elísios, garantindo que ela era oca e poderia ser facilmente mandada pelos ares.
O comando estadual de São Paulo aprovou a entrega dos explosivos, acompanhando a opinião do José Raimundo da Costa, que era o incumbido de manter contato com grupos independentes como aquele.
Os outros integrantes (o Samuel Iavelberg, o João Domingues da Silva e eu) apoiamos a cessão da dinamite, contagiados pelo entusiasmo do Moisés, ex-sargento da Marinha a quem agradava muito a ideia de não existir mais estátua do Caxias no dia 25 daquele mês, quando amanhecesse o Dia do Soldado.
O Comando Nacional, contudo, vetou, seguindo a posição do comandante Carlos Lamarca, de que tal traquinagem provavelmente seria respondida com torturas aos companheiros da VPR presos, além da intensificação do extermínio de nossos quadros.
Não iludirei ninguém: eu fiz coro com o Moisés, impetuoso como jovens de 18 anos costumam ser.
Hoje, septuagenário, ainda lesionado e conservando vivas lembranças da minha temporada no inferno (o DOI-Codi e a PE da Vila Militar), concordaria com o Lamarca: uma mera demonstração de força não valia o preço que o nosso pessoal, cativos inclusos, poderia ter de pagar por ela. (por Celso Lungaretti)
3 comentários:
https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2021/07/empresario-se-ofereceu-para-pagar-reforma-da-estatua-de-borba-gato-diz-prefeito-de-sao-paulo.shtml
Como você diz, Celso:"...não vejo motivo para se fornecer, justamente agora, munição retórica ao bolsonarismo agonizante."
Segundo o Safatle:
https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-07-26/do-direito-inalienavel-de-derrubar-estatuas.html
Esse meu artigo e o do Safatle fazem o contraste perfeito entre o revolucionário e o scholar.
Eu me preocupei, acima de tudo, com a possibilidade de que tal "teatro da revolução" (demonstrações de força fáceis de fazer mas que nada mais são do que batalhas do faz-de-conta) estimulasse outros atentados similares, servindo de munição propagandística para o genocida sair das cordas.
Tal ocorrendo, o seu afastamento demoraria mais ainda, com as consequências óbvias: mais mortes em cascata de brasileiros e novos avanços na destruição do país.
Ele fez uma refinadíssima elucubração sobre o sexo dos anjos.
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