São 12 pessoas as principais responsáveis pela disseminação via Facebook de desinformação, negacionismo, mentiras e teorias de conspiração, como as que sabotam a vacinação contra a covid-19.
Esses apóstolos do ódio destilado pelas fake news são seguidos por 59 milhões de pessoas. As notícias falsas são por elas redistribuídas e constituem 65% do conteúdo informativo mundial.
De modo geral, essa cambada de charlatães está ligada à extrema-direita, às religiões, à medicina alternativa e às crenças esotéricas.
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rui martins
OS 12 LANÇADORES DO ÓDIO NAS REDES SOCIAIS
O número 12 poderia ser considerado mágico. Os deuses gregos do Olimpo eram 12, os mostradores dos relógios marcam 12 horas, meio-dia e meia-noite, os signos do zodíaco são 12, o ano se divide em 12 meses, havia 12 tribos em Israel e eram 12 os apóstolos escolhidos por Cristo. Doze ou uma dúzia.
E são 12 pessoas as principais responsáveis pela desinformação, pelo negacionismo, pelas mentiras e teorias de conspiração, relacionadas principalmente com as vacinas para o vírus covid-19, distribuídas pelo Facebook. A pesquisa foi feita por uma organização anglo-estadunidense já citada pelo presidente Biden, o Centro para Combater o Ódio Digital.
Esses 12 apóstolos do ódio destilado pelas fake news são seguidos por 59 milhões de pessoas. As notícias falsas são por elas redistribuídas e constituem 65% do conteúdo informativo mundial. De uma maneira geral, esse grupo de doze está ligado à extrema-direita, à medicina alternativa, às religiões e às crenças esotéricas.
O comportamento do ex-presidente Donald Trump diante do coronavírus foi muito influenciado pelas fake news, ao mesmo tempo que as fazia circular. Está assim localizada a origem das ideias e iniciativas negacionistas do presidente Bolsonaro.
Seu gabinete paralelo, chefiado pelo médico Omar Terra e do qual fazia também parte a médica Nise Yamaguchi, inspirava-se nas informações pseudocientíficas veiculadas nos Estados Unidos via fake news.
Essas fajutices incluíam a negação da existência do coronavírus, consideravam desnecessárias (ou parte de um plano para dominar as pessoas) as vacinas, condenavam o confinamento das pessoas, eram contra o uso de máscaras e defendiam a teoria de que a vindoura imunidade do rebanho tornava desnecessária vacinação.
As desinformações desse Grupo dos 12 chegaram a fazer a cabeça do primeiro-ministro britânico Boris Johnson, no início da pandemia do coronavírus (mas ele adiante corrigiu o rumo)..
Na França e alguns países europeus, ainda hoje alguns grupos negacionistas antivacinação continuam fazendo proselitismo, numa mistura estranha de ativismo ecológico e anarquista com o extremismo de direita, contra a possibilidade da vacinação se tornar obrigatória e contra a criação de um passaporte europeu para os vacinados.
"Descobri que água destilada é pura e simplesmente H2O" |
Embora minoritária, tal tendência conta, na França, com o apoio da deputada psiquiatra Martine Wonner, que chegou a defender a cloroquina e a condenar o uso de máscaras, por influência da seita conspiracionista estadunidense QAnon.
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QUEM SÃO OS DOZE? – Um dos principais é o estadunidense Joseph Mercola, adepto da medicina alternativa e das teorias conspiracionistas, e que vende suplementos alimentares.
Com milhões de seguidores nas diferentes redes sociais, utiliza a desinformação e procura convencer seu público a não se vacinar e a comprar seus suplementos alimentares. Ele é o autor de uma fake news traduzida em português e bastante divulgada nas redes sociais bolsonaristas. Nela se fazia a falsa afirmação de que o número de mortos em 2020 foi igual ao dos anos anteriores.
O ex-ecologista Robert F. Kennedy Jr. tem utilizado as redes sociais para difundir mentiras sobre as vacinas contra o coronavírus, com o objetivo de desestimular a vacinação. Sua campanha contra a vacinação começou com um artigo publicado na revista Rolling Stone com o título de Imunidade Mortal, falando dos efeitos nocivos do mercúrio contido na vacina, causador de casos de autismo. Produziu também o filme Racismo médico – o novo apartheid, segundo o qual o coronavírus não ameaça os negros, e o verdadeiro perigo seria a vacina.
O casal Ty e Charlene Bollinger acaba de ter o vídeo A Verdade sobre as Vacinas, retirado do Youtube como falsa informação, depois de denúncias publicadas pela agência Associated Press.
"Robert F. Kennedy Jr. é um idiota" |
Eles ganharam US$ 25 milhões em cinco anos, divulgando inicialmente falsas informações sobre o câncer, para depois aderirem ao discurso negacionista de Donald Trump e à versão mentirosa de ter sido roubada sua vitória nas eleições. Ty Bollinger chegou mesmo a ir ao Capitólio, conta a AP.
A médica osteopata estadunidense Sherri Tenpenny é uma ativa divulgadora de falsidades sobre as vacinas contra covid-19: que causariam autismo nas crianças, podendo provocar a morte de quem se vacina, além de magnetizarem o corpo, permitindo que as pessoas sejam conectadas como celulares.
Os outros são Kelly Brogan, psiquiatra de Nova York, adepta da medicina alternativa e autora de um vídeo que, postado no Facebook, Instagram e Vimeo, nega a existência do coronavírus. Para ela, as mortes registradas nos EUA seriam causadas pelo medo do vírus! Esse vídeo chegou a ser visto por 75 mil pessoas, antes de ser retirado da plataforma do Facebook e Instagram.
Kelly Brogan critica, ainda, a lavagem das mãos e o confinamento; diz haver um interesse econômico nas vacinas e qualifica a inclusão da vacinação no passaporte de totalitarismo governamental.
Rashid Buttar, filho de paquistaneses nascido em Londres. é médico osteopata na Carolina do Norte, formado em Washington e Iowa. Ele divulga a teoria de conspiração ligada à vacina e aplica uma discutida terapia de desintoxicação do corpo (chelaton) de metais pesados ionizados, como o mercúrio, cobre e o ferro.
Repreendido pelas autoridades médicas por técnicas de tratamento ineficazes contra o câncer, vende os vídeos do casal Ty e Charlene Bollinger e propaga que o vírus foi criado na China.
Rindo dos otários que engolem suas lorotas? |
Rizza Islam, natural da Califórnia, é membro do grupo Nação do Islã, com meio milhão de seguidores nas redes sociais. Ele dissemina fake news e teorias da conspiração, instigando antissemitas e homofóbicos contra as vacinas. Defin-se como um intelectual negro extremista e descreve o SARS-Cov-2 como um vírus fabricado para acabar com os negros. Seu passado é ligado à Igreja da Cientologia.
Kevin Jenkins, de Newark, é um líder político local preocupado com as teorias de conspiração contra os negros.
Sayer Ji é uma espécie de guru, defensor da medicina natural e seu website indica remédios contra a vacina, apresentada como uma forma de criar um novo apartheid. Tem uma página na Internet, GreenMedInfo, diversas vezes censurada pelas plataformas de redes sociais por difundir inverdades.
Ben Tapper, de Omaha (EUA), se diz médico mas, na verdade, é um quiroprático. Faz campanha contra o uso de máscaras por ferirem a liberdade individual. Ao criticar as vacinas, afirma, sem fundamento, que os governos sofrem pressões dos laboratórios internacionais para adquirem as ditas cujas.
Christianne Northrup, que praticou obstetrícia e ginecologia por 26 anos em Yarmouth (EUA), espalhou falsidades e absurdos como estes:
— que as vacinas Covid-19 não previnem a doença, mas tornarão a humanidade estéril e podem matar bebês amamentados por suas mães vacinadas;
— que as pessoas não deveriam usar máscaras, mas sim evitar a proximidade de pessoas vacinadas, pois poderiam ser contaminadas com partículas de vacinas malignas e, então, espionadas pelos componentes da vacina que transmitem secretamente informações fisiológicas à Fundação Bill e Melinda Gates, por meio de câmeras de celular e um mecanismo patenteado envolvendo criptomoeda
"Salve-se dos vampirizadores de energia" |
Erin Elizabeth completa a lista desses divulgadores de falsas informações sobre a pandemia e as vacinas.
Os absurdos defendidos por esses embusteiros dão uma boa ideia do nível de formação dos médicos e outros participantes do gabinete paralelo criado por Jair Bolsonaro, responsável pela crise sanitária e por mais de meio milhão de mortos no Brasil.
Notícias falsas sempre circularam, geralmente em tempos de guerra e amiúde divulgadas com interesse religioso ou comercial. O surgimento das redes sociais permitiu a multiplicação da falsa informação; favoreceu a manipulação das pessoas ingênuas e sem instrução; e tornou difícil a identificação das fake news.
Uma denúncia atualmente investigada pelo Supremo trata da influência das notícias falsas divulgadas pela Internet durante o período pré-eleitoral em 2018, favorecendo a vitória da chapa Bolsonaro-Mourão. (por Rui Martins)
2 comentários:
https://brasil.elpais.com/brasil/2021-07-25/radiografia-das-lives-e-discursos-de-bolsonaro-mostra-escalada-de-autoritarismo-e-desinformacao.html
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-se-reune-com-deputada-alema-neta-de-ministro-de-hitler,70003790141
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