Luppi justificou a decisão com o óbvio ululante, que até as pedras das ruas sabem ser a absoluta verdade:
"O objetivo é o de impedir as ações negacionistas, que multiplicam as mortes por Covid-19. Temos inúmeras provas (entre elas as declarações Chega de frescura e de mimimi, Vão ficar chorando até quando? e Vai procurar vacina na casa da sua mãe). Eu acho que ele é louco e precisa ser interditado antes que mais brasileiros morram por sua loucura".
O conceito de loucura, na verdade, é impreciso e muitas vezes foi aplicado, ao longo da História, para punir e intimidar os indivíduos que não se adequavam a uma sociedade ela também (e talvez ainda mais) insana.
Da mesma forma, nos séculos favoritos do genocida, mulheres que necessitavam dar vasão à sua sexualidade mas não tinham espírito suficientemente forte para suportar a rejeição social, escapavam pela tangente de acreditarem-se feiticeiras induzidas pelo demônio àquelas práticas que seus corpos exigiam. Melancólica consequência: inquisidores (que tinham afinidade bem maior com o capeta do que elas mesmas!) as condenavam por bruxaria.
Mas, no caso de Jair Bolsonaro, só há duas hipóteses, como ficou totalmente evidenciado na sua faina de 26 meses destruindo o Brasil:
— ou ele é um monstro insensível, capaz das ações mais execráveis quando seu ego é machucado seja lá pelo que for;
— ou ele é doido varrido mesmo, como o grande Ricardo Kotscho vem sustentando há quase um ano (vide aqui), sempre com meu apoio.
Assim, ao mesmo tempo em que Bolsonaro sabotava as medidas de combate à pandemia a pretexto de salvar a economia, causava perdas incomensuravelmente maiores com suas pirraças altamente lesivas aos negócios, com seus desvarios nas relações exteriores, com sua sanha devastadora na ecologia, etc.
Tantas fez que tornou o Brasil um pária entre as nações, o que agudizará a depressão econômica na qual já nos encontramos (a pior de nossa história) e que vai atingir o auge ao longo do presente ano.
E foi o grande responsável pelo colapso sanitário no qual nos debatemos agora, maximizando os óbitos evitáveis mas não evitados (estimei-os aqui em 40% do total de mortes causadas pela pandemia).
— por neurótica inveja do sucesso do ministro de Saúde que estava sabendo administrar essa crise e conquistara a confiança da população, Henrique Mandetta;
— por querer a todo custo provar que os remédios milagrosos por ele defendidos a reboque do Trump funcionavam, mesmo quando o mundo inteiro já concluíra que eram inócuos;
— para dar ridículas demonstrações de machismo, como se estivesse transtornado até hoje (mais de um quarto de século depois!) com o ridículo papel que desempenhou como ex-militar que entregou docilmente arma e moto para a bandidagem do RJ, etc.
Mas, suas ideias fixas, trapalhadas e lambanças invariavelmente o têm levado na direção contrária aos seus interesses, o que comprova a incapacidade de domar seus rancores sempre à flor da pele mediante o uso da razão. Surta dia sim, outro também, causando os piores estragos quando é controlado pela legião de demônios que carrega dentro de si.
Que louco já matou uns 100 mil brasileiros (que será a mínima conta de chegada dos óbitos evitáveis mas não evitados da covid-19 em nosso país)? Ele consegue ser pior, mais nocivo e catastrófico, do que qualquer louco que já tenha infelicitado o Brasil.
Então, mesmo que ele seja apenas um monstro insensível, sem a mais ínfima empatia com o resto da humanidade e sempre pronto a causar mortes e mais mortes por causa dos disparates nos quais crê em função de sua crassa ignorância, estamos num momento dramático e decisivo da nossa história.
Não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar a enormidade de tempo que levou o impeachment da Dilma, para só então começarmos a sair do buraco sem fundo no qual nos metemos; até lá, o Brasil vai estar em frangalhos e os coitadezas terão morrido como moscas.
Pusilânimes extremados que fomos, deixamos a situação deteriorar até o atual estado de calamidade pública antes de nos compenetrarmos de que estamos nos dirigindo em marcha acelerada para o abismo. Teremos de levar isto em conta, se ainda pretendermos salvar o Brasil. (por Celso Lungaretti)
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