terça-feira, 23 de março de 2021

AGORA QUE A ÁGUA JÁ ESTÁ BATENDO NO PESCOÇO DA BANQUEIRADA, ELA ESTRILA

Praticamente um ano após o início da pandemia e das ações criminosas do presidente da República, a nata do financismo nacional resolveu falar que algo de errado não vai bem. 

Refiro-me aqui ao manifesto lançado por banqueiros e economistas no último fim de semana. Nele, em um tom cordial, os signatários dissertam sobre ações que não apenas deveriam ser do conhecimento básico de qualquer gestor minimamente competente, mas também há muito teriam de estar implementadas. 

Ora, a esta altura do campeonato de mortes, os senhores e as senhoras signatárias já deveriam conhecer de modo cabal a completa impossibilidade do presidente e de seus apaniguados aprenderem qualquer coisa que não esteja relacionada a rachadinhas e mistificações. 

Embora seja correto no conteúdo, o dito manifesto é inútil na forma e cândido no tom. Pressupõe a boa vontade do governo bolsonarista e age como se tivesse ocorrido apenas um erro de rota. 

Não, não foi um erro de rota!

Bolsonaro e sua turma escolheram conscientemente o caminho da mortandade, da imposição do suplício ao povo brasileiro, sobretudo aos mais pobres. Já disse noutro artigo (vide aqui), que a pandemia é uma cruzada do darwinismo social contra os mais fracos.  

A turma que agora assina tal manifesto finge não saber que boa parte da hecatombe sanitária vivida hoje no Brasil foi causada pelo próprio programa econômico (neo)liberal defendido por ela. 

Tal programa é o responsável, p. ex., pela incapacidade do país em fabricar vacinas – defendidas pelos signatários como sendo a panaceia para o momento. Toda a estrutura de indústria farmacêutica do país foi colapsada nos últimos anos, levando o país a depender da importação de insumos e vacinas do exterior, notadamente da China e da Índia. 

A sanha (neo)liberal foi tamanha que até mesmo o centro de distribuição nacional de vacinas e insumos foi privatizado no governo Temer, sob aplausos de muitos dos signatários. 

Impuseram um escandaloso teto de gastos que agora engessa as ações dos governos para a defesa da saúde e da vida dos brasileiros. A sagrada defesa deste teto foi mesmo o motivo principal para deixar milhões de brasileiros sem auxílio emergencial nos três primeiros meses de 2021, forçando-os a saírem de casa e ir colher o vírus em transportes lotados e ruas abarrotadas. 

Estiveram mais preocupados em impor congelamento salarial aos funcionários públicos – os quais, em sua maioria, lutam para atender a população no contexto atual – do que a pressionar o governo a ser racional. 

Enquanto o povo morria à míngua, falavam em responsabilidade fiscal

Sentiam-se intocáveis em seus castelos, protegidos por jatinhos, helicópteros e por centenas de vagas de enfermaria e UTI nos hospitais mais caros do Brasil e do mundo. 

Agora acordam para a terrível realidade: ao contrário do que pensavam, não vivem na Elisium, orbitando a terra, mas compartilham o mesmo planeta que a ralé brasileira.

Com o mundo inteiro fechando as fronteiras aos nacionais, a elite brasileira começa a sentir na pele o estigma de ser pária. Junto vem o medo de perder dinheiro, ou, até pior, de ser condenada a ficar trancafiada por aqui, na Terra de Santa Cruz, sem poder comprar em Miami, beber vinhos caros em Paris ou mesmo andar tranquila pelas ruas de Lisboa. 

Muito pior, os privilegiados viram que poderão estar na mesma situação da massa pobre e não ter atendimento médico, morrendo na porta de seus caríssimos hospitais. 

Ora, neste momento é preciso ação e não didática. Se querem mesmo contribuir, usem sua poderosa influência para retirar o criminoso presidente. Deem ordens a seus serviçais no Congresso Nacional para tocar o impeachment ou mesmo levá-lo à renúncia. 

Do contrário, continuarão deixando transparecer uma clara empáfia e implícito oportunismo, ao darem lições vazias enquanto continuam a sustentar o genocídio em nome dos próprios lucros. (por David Emanuel Coelho)

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