domingo, 21 de março de 2021

NÃO, NÃO ESTAMOS NUMA GUERRA. PELO MENOS NÃO CONTRA O VÍRUS

Parece uma boa analogia: dizer que o combate ao vírus é uma guerra porque mobiliza toda a sociedade e exige sacrifícios hercúleos da população. 

Mas, na realidade, é uma péssima analogia e completamente falsa. Não estamos em guerra com o vírus. Ele não busca nos conquistar, nos exterminar, nos subjugar ou nos derrotar de qualquer forma que seja. O vírus é apenas uma entidade biológica com uma programação genética que visa à sua própria reprodução. E o meio de se reproduzir é mediante o parasitismo de outras espécies.

Horrível? Antiético? Diabólico? Ora, a vida biológica não possui valores morais. Ela busca apenas a continuidade de sua própria existência, sem pensar em custos e danos.
Pudesse pensar e este gado decerto não ficaria feliz em ir para
o abate (ao contrário de outros gados que existem por aí...)
Imagine se as plantas e animais pudessem articular pensamentos simbólicos – igual os seres humanos fazem. Não é possível conceber que eles também se indignariam diante da ação predatória dos seres humanos, os quais se alimentam deles? 

O boi não existe para ser comido, a cenoura tampouco. E, no entanto, abatemos bois e colhemos cenouras para nosso consumo próprio, pois tais seres vivos são necessários para nossa sobrevivência. A rigor, a presença do vírus impulsiona a evolução natural e muitos deles passam a fazer parte de nosso DNA, como já mostrado por biólogos. 
Na gripe espanhola, a imunidade de rebanho só ocorreu após
100 milhões morrerem. Aceitaremos pagar este preço de novo?

O vírus também não busca o nosso extermínio enquanto espécie, pois nenhum parasita intenta matar o hospedeiro, mas, antes, se nutrir dele em benefício próprio. Sua matança é limitada, portanto. 

Limitada, mas catastrófica para a humanidade. A gripe espanhola, p. ex., matou entre 50 e 100 milhões de pessoas até se transformar em uma inofensiva gripe sazonal. A pergunta é: estamos dispostos a deixar o vírus seguir seu curso natural, matando milhões para evoluir até uma gripe comum?
Na evolução natural, o mais apto sobrevive.
No darwinismo social, o mais forte
 
Aqui reside o ponto que diferencia
humanistas de genocidas. Os humanistas vão tentar reduzir o máximo possível o número de mortos, sempre pensando em meios para conter o impacto destrutivo do vírus. Os genocidas serão darwinistas sociais, acreditando na sobrevivência dos mais fortes. 

Não à toa, o darwinismo social é o núcleo duro do liberalismo clássico e, agora, do neoliberalismo. 

Ele defende que a sociedade não tenha regulações, que tudo seja resolvido pelo livre mercado e que, quem não se adequar, que pereça. 

Na pandemia, o darwinismo social vai ainda além: não devemos fazer nada contra o vírus, deixemos ele agir e, no fim, a evolução natural determinará aos mais fortes a sobrevivência. Os fracos perecerão. 

Lembra alguém?

Primazia do lucro coloca a vida humana em 2ºplano

Por isso, a luta fundamental não é contra o vírus, mas contra a sociabilidade capitalista. A pandemia é social, e não biológica

A base da pandemia é uma forma de sociabilidade na qual a reprodução do valor, do capital, é mais importante do que as vidas humanas. Esta forma de sociedade exige a mortandade, o darwinismo, enquanto meio de sobrevivência de seu próprio ser. 

Não é guerra, é capitalismo. (por David Emanuel Coelho)

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