dalton rosado
2020, O ANO TRÁGICO
A junção de uma depressão econômica mundial anunciada com a pandemia do coronavírus representará a morte de milhões de pessoas mundo afora, com grave repercussão econômica-social para os anos vindouros. O que se prenunciava como difícil ficou desastroso com a pandemia.
Salta aos olhos de qualquer analista mais sensato que restou evidenciado o critério utilitário da relação social capitalista com relação às necessidades de consumo: a produção de mercadorias atende precipuamente ao interesse de realização do lucro e reprodução vital do capital e não à satisfação do consumo.
Tal é uma das principais lições que podem ser tiradas dessa pandemia de natureza econômico-social.
A outra é que governantes tirânicos, temerosos dos efeitos nocivos que a paralisia da economia pode causar às suas administrações, negam a necessidade de proteção social pelo isolamento e promovem o genocídio criminoso pelo qual a história haverá de condená-los, se não receberem a devida punição já no presente.
Os dois exemplos mais marcantes disto se concentram:
— nos Estados Unidos, o balanço macabro alcançará ainda neste mês o patamar de 300 mil óbitos, 3.034 dos quais ocorreram num único dia (em 2001, no atentado ao WTC que justificou o desencadeamento da guerra ao terror, morreram menos, 2.977 pessoas); e
— no Brasil, com quase 180 mil mortes e que bateu nesta 4ª feira, 09/12, o recorde de estados simultaneamente com alta de número de mortes (21, mais o Distrito Federal).
Felizmente, o negacionista-nacionalista-xenófobo-narcisista e menino rico prepotente terá de desocupar a Casa Branca, apesar de sua relutância em admitir o óbvio, como sempre fazem os garotos mimados quando alguém lhes toma os brinquedos. O mesmo destino está reservado para o seu congênere tupiniquim menos importante, mas não menos genocida.
Os negacionistas e antivacinas existem há tempos, com a história sempre os contraditando e lhes reservando o papel de bobos da corte. Oswaldo Cruz, o grande sanitarista brasileiro do início de século passado, também teve de enfrentar tais palpiteiros genocidas.
Mesmo com toda a hostilidade de que eram alvos, as estratégias de Oswaldo Cruz se provaram certeiras. As mortes por febre amarela caíram, entre 1903 e 1904, de 469 para 39. E, após o extermínio de mais de 50 mil ratos em 1904, a peste foi dada como extinta no Rio de Janeiro.
As pessoas aprenderam a lição: quando surgiu uma epidemia de varíola em 1908, elas buscaram a vacinação espontaneamente.
No que se refere à economia, os próprios FMI e OCDE projetam uma depressão global que reduzirá em cerca de 4,4% o PIB mundial.
A China é o único país do mundo a prever um crescimento positivo do PIB no fechamento do presente ano, assim mesmo em torno de 1,9%, patamar insuficiente para o pagamento dos juros de sua colossal dívida pública e privada, bem como para a manutenção do emprego de seus trabalhadores escravizados pelos baixos salários.
O sistema financeiro internacional, credor dessa dívida chinesa e também das congêneres dos países da periferia mundial (dilacerados economicamente pelo aumento das suas dívidas públicas e juros altos impagáveis), está com as barbas de molho. Prenuncia-se um efeito dominó desastroso.
Por outro lado, bilhões de pessoas mundo afora estão descobrindo que podem utilizar os mecanismos de comunicação eletrônica (home work) para muitas atividades na área de serviços, hoje a mais pujante nos países em geral e, principalmente, nos ditos desenvolvidos. Então, é pouco provável que a locomoção ao emprego volte aos níveis anteriores, o que deverá refletir negativamente nas otimistas (e sempre contestadas) previsões de retomada da economia.
O mais desalentador nesse quadro, contudo, é que depois da tempestade não virá a bonança: mesmo que as vacinas finalmente erradiquem a propagação das infecções viróticas, ainda estaremos submetidos à relação social oportunista, escravista e irracional sob a qual padecemos há séculos, e para a qual o stablishment não admite alternativa.
Os sofridos coitadezas (80% da população mundial), sem consciência e unidade aglutinadora de ação, buscam na própria razão de suas tragédias uma solução para suas amarguras, entoando a cantilena da retomada do desenvolvimento econômico.
Os outros 20%, formadores de opinião e encastelados no poder econômico e institucional, não permitem que surja o clarão da liberdade e da razão promotora de uma vida social cômoda e farta.
Assim, a busca da retomada do desenvolvimento econômica já dá e continuará dando a tônica das esperanças populares, quando o mundo voltar a uma normalidade que nunca foi normal.
Os governantes de esquerda e de direita seguirão tentando administrar as crises da falência estatal capitalista, ao invés de denunciarem suas ingovernabilidades; os administradores do capital procurarão reduzir custos dentro do tradicional receituário do que se vão os anéis e fiquem os dedos, mesmo que os dedos sem anéis se entrelacem num ritual funesto.
A nós, os revolucionários emancipacionistas, caberá a árdua mas honrosa tarefa de continuarmos denunciando a farsa da democracia burguesa e demonstrando que uma vida social fundada na produção voltada para a satisfação de necessidades humanas é o contraponto único e essencial para superarmos este momento de inflexão histórica de um modelo de relação social que se tornou obsoleto e anacrônico.
Mas, mesmo que nosso intento demore a se concretizar –o que ocorrerá inevitavelmente, caso não sucumbamos diante da irracionalidade bélica armamentista ou outro fenômeno meteorológico qualquer ,bastante previsível a continuarmos a agredir a natureza de modo tão tresloucado–, nossos esforços atuais passarão à história como ponto fora da curva. (por Dalton Rosado)
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