segunda-feira, 19 de outubro de 2020

UM ALERTA: QUANDO PASSA DO LIMITE, A INDIGNAÇÃO POPULAR NÃO TEM FREIO – 2

(continuação deste post)
S
OBRE O NACIONALISMO PATRIÓTICO
 – sou contra os nacionalismos justamente por entender que esse nosso planeta é uno e o ser humano de qualquer etnia e região, meu irmão, merecedor da partilha de consumo dos bens produzidos coletivamente e capazes de suprir necessidades vitais de tudo que é nosso e vice-versa.

A ideia de solidariedade mundial e de reciprocidade de compartilhamento e socorro transnacional (e não internacional) deve ser buscada e cultuada sem as falácias de uma relação mercantilista que coloca sempre uns nacionais em disputa com os outros.

A ideia de nacionalismo:
 traduz, implicitamente, um sentimento xenófobo, no qual a dor do meu vizinho não é exatamente a minha dor;
 embute uma autofagia competitiva, como se a mercantilização internacional fosse promotora de desenvolvimento recíproco e não de exploração de uns por outros; 
 embute, também, um equivocado e altamente nocivo conceito de meritocracia, segundo o qual quem não produz, não merece comer.  

Não é por menos que, nos últimos séculos, o conceito de nação surgiu da necessidade do desenvolvimento capitalista ascendente, mas que agora, diante do atingimento do seu limite histórico de expansão, provoca a fuga de capitais investidos na produção fora dos limites nacionais (fenômeno caracterizado pela globalização do capital, que se instala fora das nações economicamente hegemônicas e vai buscar mão-obra barata onde quer que ela exista).

São a necessidade de auto-reprodução e a busca da vitória na guerra concorrencial de mercado como forma de sobrevivência vital (mais uma contradição do capital) as forças motrizes que impelem à formação de blocos continentais que em tudo contrariam a noção de nacionalismo excludente. 

O pensamento boçalnarista de nacionalismo é contraditório e demodée.

Aliás, que nacionalismo é esse que:
 deixa tudo que é empresa capitalista estrangeira de mineração explorar a Amazônia ao bel prazer; 
  idem para a indústria madeireira; 
 idem para a exploração econômica da biodiversidade da fauna e da flora numa ocupação desenfreada; e,
 ao mesmo tempo em que promove a passagem da boiada e a queima das florestas para ampliação das fronteiras da pecuária de corte, práticas altamente nocivas para os brasileiros, tem mantido os altos níveis de exportação de carne barata para suprir a fome dos ávidos compradores mundiais que, como contrapartida, nos vendem seus produtos manufaturados a preços diferenciados para maior???  
.
SOBRE A PROMETIDA NOVA POLÍTICA – a retórica mentirosa sobre o advento de uma nova política (fazendo lembrar aquela da Nova República, lembram-se??) não resistiu sequer às intempéries da primeira metade do desgoverno atual.

Todos aprendemos, da pior maneira, que não se podia confiar em governos que se aliavam com Roberto Jefferson, Dulcídio Amaral, José Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer, Fernando Collor, Paulo Maluf e outras raposas felpudas da política tradicional, além de condottieres da economia como Henrique Meireles (executivo de banqueiros dos EUA), Joaquim Levy (diretor sem grande destaque do Bradesco) , como os governos de Lula e Dilma.  

Agora, estamos constatando a inconfiabilidade, como inaugurador de uma nova política, de quem já tinha 28 anos de vida parlamentar sem jamais denunciar qualquer corrupção e fazendo sempre alianças conservadoras e corporativas.

O desmonte da Operação Lava-Jato reafirma o domínio que a criminosa elite política brasileira (da qual o clã Boçalnaro é serviçal menor) sempre exerceu sobra nossa vida política (sem prejuízo de considerarmos que os promotores, policiais e juízes que a conduziram, criaram-na no sentido de demonstração de força corporativa e do interesse estatal faccioso de autopreservação como poder, sem compreender claramente que o Estado está a serviço do capital, o qual é intrinsecamente e originalmente corrupto).

A parte bem intencionada que quis acreditar no discurso do Boçalnaro, de que ele era um outsider da política e nela iria promover uma renovação de costumes, foi ingênua, agora constata, desencantada, ter caído num conto não do vigário, mas de vigaristas mesmo... 

Quanto aos fanáticos, que o continuam apoiando, cabe a eles a comprovação da correção do adágio popular segundo o qual o pior cego é aquele que não quer ver.

Vai daí que, quando seu desprestígio popular atingia os píncaros e percebendo que não contaria com o apoio da caserna para uma aventura golpista, Boçalnaro decidiu priorizar seu objetivo maior e mais fervoroso, qual seja a própria perpetuação no poder.

Deu então um cavalo de pau e se reassumiu como amigo de infância de tudo que é parlamentar corrupto (vide o último vexame da patota, dado pelo mais novo cuecão da política, o senador Chico Rodrigues, que, como vice-líder do governo, substituíra o não menos corrupto Roberto Jucá).

A análise mais superficial que se pode fazer sobre o bilhete premiado que foi sair logo para um personagem com passado tão irrelevante e presente absurdamente idiossincrático, é que o dito cujo já tem lugar reservado na lixeira da História..

A eleição de Boçalnaro, o ignaro se deu num contexto no qual ele apareceu (oportunistica e repentinamente) como o contrário de tudo o que estava posto e embalado:
— pela indignação popular com a queda do padrão de consumo; 
 pela estupefação face aos números da corrupção divulgados na mídia  mediante coberturas espetaculosas das prisões feitas pela Polícia Federal a mando da Justiça ou do Ministério Público (corrupções mais sigilosas sempre existiram e continuam existindo, como estamos a comprovar todos os dias);
 pela doutrinação conservadora dos pastores neopentecostais,  cuja bancada parlamentar passou a votar em bloco segundo uma orientação doutrinária fundamentalista bíblica; e
 pelo desprestígio cíclico de governos que sempre frustram o discurso oposicionista que os elegeu em razão da incapacidade do Estado (sempre opressor), de prover as demandas sociais, etc., etc., etc.

Foi assim que uma parte da população legitimou farsa, elegendo o presidente mais idiossincrático da nossa história.  E ele está nos levando à perda da simpatia internacional da qual sempre desfrutamos, de povo cordial e alegre (apesar de ser subtraído do modo mais intenso e duradouro pelas elites econômicas apoiadas pelas elites políticas) e que ainda assim, sobrevive graças às suas potencialidades materiais abundantes e a seu espírito de resistência. 

Nosso povo é generoso, mas cuidado com essa generosidade: ela não é sinônimo de indiferença ao sofrimento. E quando passa do limite, a indignação popular não tem freio!!! (por Dalton Rosado)

Um comentário:

CARLO PONTI disse...

Excelente análise. Sem contar que nos governos Lula e Dilma a luta de classes foi pras calendas, acho que eles acharam que o povo seria politizado consumindo e usufruindo dos benefícios da política chamada de POBRETOLOGIA, que são segundo a Virginia Fontes, a política do Banco Mundial de ceder migalhas aos pobres, para não incomodar o capital.Nos governos Lula e Dilma convencionou em chamar de Bolsa Família, que são benefícios, mas não direitos.

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