A pandemia do novo coronavírus mostrou para onde o mundo vai. É preciso uma administração ágil e moderna, que aja conforme as necessidades do momento – e não com base em crenças folclóricas e ideologias bizarras. Não há tempo para terraplanismo em tempos de coronavírus!
Na área econômica, as empresas vão ter que se posicionar de forma sustentável – tanto social e economicamente como, e esse talvez seja o ponto mais importante, ambientalmente. Não é hora de destruir florestas, portanto.
O governo Bolsonaro foi pego desprevenido pelo vírus. O plano de colocar a economia em trilhos neoliberais acabou. Em vez disso, o governo provavelmente promoverá um programa assistencialista, o Renda Básica, de tamanho maior que o Bolsa Família petista.
Fica difícil, também, seguir com os planos de privatizações, tendo em vista que instituições estatais, como o SUS e a Caixa, tiveram um papel fundamental para evitar danos maiores durante a pandemia.
Ficou claro também que colocar militares em pastas como a Saúde ou para fiscalizar as florestas não resolve nada. No lugar dos quadros técnicos prometidos, os militares deslocados para áreas alheias penam para mostrar resultados, enquanto milhares morrem e florestas se vão em chamas. (Não vamos pensar que os militares foram postos em lugares errados propositalmente, ok!)
A tempestade perfeita das pilhas de mortos pela covid-19, da economia em queda livre e do desastre ambiental cada vez mais evidente urge a um plano maior para o país. Mas não haverá tal plano com o atual governo, que não possui nem plano nem visão para o Brasil.
Isto fica ainda mais claro quando se olha para a pasta da Educação. Não ter ideia do que fazer nessa área deixa evidente a total falta de visão.
Em vez de moldar o futuro, Bolsonaro está ocupado, desde que assumiu, um ano e meio atrás, com limpar a bagunça dos filhos e do próprio passado mal resolvido. Além das bravatas, ele não tem nada a oferecer.
Os problemas em encontrar quadros adequados para áreas como educação e saúde se explicam também pela falta de base social do atual governo. Grupos de WhatsApp podem até ganhar eleições, mas na hora de recrutar especialistas com uma noção do que fazer, as redes sociais não oferecem ninguém. Na hora de nomear ministros, perfis falsos não entregam nada.
Acontece que uma parte significativa do apoio digital pró-Bolsonaro já se evaporou, nas últimas semanas, de forma instantânea perante as investigações promovidas pela Justiça e principalmente pelo STF.
Os 300 do Brasil, que estava mais para 30, agora são zero. Quanto mais Bolsonaro entregar-se ao centrão para se blindar de um impeachment, mais apoio da sua base mais radical deverá perder.
O presidente será um lame duck (pato manco) já na primeira metade do primeiro mandato. Enquanto Bolsonaro é bicado por uma ema nos jardins presidenciais, seu vice, Hamilton Mourão, tenta tranquilizar investidores e empresários.
Teremos, provavelmente, um vice cada vez mais presente e um presidente cada vez mais recuado. Talvez Bolsonaro não caia, mas se arraste até o final do mandato. O governo dele talvez não tenha morrido, mas, de fato, já acabou.
Enquanto governos social-democratas e o regime autoritário chinês foram capazes de domar o vírus, os líderes da direita raivosa se mostraram perdidos.
Comprei recentemente uma camiseta com um desenho de Donald Trump e Bolsonaro, com o presidente brasileiro camuflado de Rambo e a frase Make Brazil great again estampada embaixo. Para me lembrar deste tempo esquisito. (por Thomas Milz, jornalista alemão que se radicou há mais de duas décadas no Brasil e é colunista da Deutsche Welle, além de colaborar com vários outros veículos do exterior)
2 comentários:
Já estava me acostumando com o "toque di editor".
Meu caro,
às vezes boto uma visão minha no rodapé do post porque não pretendo fazer uma abordagem mais extensa do assunto, então deixo apenas esse pequeno contraponto.
Acontece que este artigo inspira-me, sim, a escrever um post. É que, embora haja carradas de razões e um rosário de crimes de responsabilidade que justificariam o afastamento do Bozo, percebo que o sistema agora parece disposto a suportá-lo, desde que se comporte como adulto, desistindo das pregações/performances golpistas e de tomar decisões inconstitucionais na defesa de suas manias e de sua prole.
Ainda estou amadurecendo meu posicionamento face à possibilidade de termos de aguentar um governo tão estagnado como o do Figueiredo inteiro, o do Sarney depois que o Plano Cruzado fracassou ou o da Dilma quando ela abdicou de governar e passou a ocupar-se unicamente de tentar sobreviver ao processo de impeachment.
Mas, nos próximos dias o divulgarei.
Um abração!
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