quarta-feira, 1 de julho de 2020

COMO UM FANTASMA, MARX SEMPRE VOLTA PARA ASSOMBRAR TEÓRICOS EMPENHADOS NA POSITIVAÇÃO DO CAPITALISMO – 1

dalton rosado
KARL MARX OU
 JOSEPH SCHUMPETER?
O homem que previu o fim do capitalismo e que ajuda a entender a economia de hoje é o título bombástico de um quilométrico artigo da BBC (tecle aqui para acessá-lo), cuja tradução foi muito reproduzida por jornais, portais e sites brasileiros na semana passada. 

Mas, será que o economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) tem mesmo essa importância toda? Aprofundemos a questão. 

A crise do capitalismo atual é diferente das outras por ele enfrentadas. Isto se deve a uma conjunção de fatores que antes não existiam. São eles: 
— desemprego estrutural crescente;
 dívidas pública e privada impagáveis;
 aquecimento global e poluição de rios, mares e subsolo;
 epidemias viróticas;
 atingimento do limite interno absoluto de expansão; 
 redução drástica da produção de valor e de mais-valia; e
 fracasso das ideologias. 
Adam Smith, Marx, Schumpeter,  Keynes e a debacle capitalista

Face à iminência de uma catástrofe econômica mundial, surgem os muitos pais da criança que, sob as mais variados pretextos, apresentam-se como os profetas do apocalipse capitalista e sugerem fórmulas salvadoras de antemão fadadas ao fracasso, pois circunscritas à racionália de sua lógica perversa. 

Não há como humanizar o demônio; é da sua natureza ser demônio.

O fiasco anunciado do momento atual é Joseph Schumpeter, economista burguês que, como tal, defende a contradição própria ao socialismo burguês e foi recentemente resgatado como respeitável. Keynes também já o fora, sendo hoje exemplo de fracasso estatista, embora todos os sociais-democratas socialistas adotem a sua cartilha.

Mas, apesar de tanto empenho em sepultarem preconceituosamente o velho barbudo, Marx sempre volta à tona como um fantasma, para assombrar todos os teóricos que insistem na positivação do capitalismo, seja sob que forma for. 

A verdade é que o capitalismo predominou nestes dois últimos séculos como forma de mediação social, aperfeiçoando os seus mecanismos de controle e promoção estatal de sua lógica, mas nem isso foi capaz de lhe garantir maior sobrevida. É difícil prevermos quanto ainda durará sua agonia, mas já se percebe claramente que ele marcha para o fim.
Ditadura do proletariado é um nome impróprio para este conceito 

A obra de Marx, que denunciou a sua insustentabilidade, é permeada pela influência e crítica às teses idealistas hegelianas no campo filosófico, e por profunda análise da mecânica funcional da gênese e das relações econômicas. Daí a solidez de sua crítica categorial e a confirmação na atualidade de seus vaticínios de meados do século 19. 

Mas Marx não era um ser divinal infalível; as circunstâncias sociais sob as quais viveu na sua fase adulta (de 1940 até a sua morte em 1883) evidentemente pautaram a sua atuação como teórico revolucionário. 

Uma dessas circunstância era a efervescência política na Europa do período da grande revolução industrial inglesa. 

Havia então:
— por um lado, uma disputa entre as monarquias constitucionalistas com um pé no feudalismo escravista direto e as repúblicas burguesas que tentavam se consolidar como poder econômico (o verdadeiro poder original) e político (derivado), descentralizado e diluído em esferas autônomas (executivo, legislativo e judiciário); e
 por outro lado, como força emergente, o pensamento socialista em suas mais diversas variantes (que se digladiavam entre si).
A revolução de Lênin e Trotsky, ao optar pela produção estatal, propiciaria o autoritarismo de Stalin...
Marx e Friedrich Engels, seu parceiro de toda a vida, defendiam a tese de um poder proletário a que denominaram ditadura do proletariado, nome que entendo como impróprio para uma ordem social regida pela maioria da população, fosse proletária, artesã ou campesina, num século no qual a urbanização industrial era ainda incipiente. Melhor seria chamá-lo de democracia proletária.

Pregavam a instituição do Estado Proletário sob o comando de um partido político proletário, com o mesmo programa básico para todos os países (o internacionalismo proletário). 

Tal estado seria proprietário dos meios de produção, mas deveria ir criando, aos poucos, as condições para a sua autodestruição, bem para a futura dissolução do próprio partido e para a eliminação do trabalho assalariado, de forma a que deixassem de existir  classes sociais distintas.

Esse projeto político foi levado à frente, no século seguinte por Lênin e Trotsky, como comandantes de revolução bolchevique de 1917 na Rússia.
...fenômeno que se repetiria na China de Mao.

Demonstrou-se, entretanto, irrealizável sob bases capitalistas de produção estatal e segundo o roteiro de transição preconizado por Marx.

A história se encarregou de demonstrar o fracasso dos modelos políticos do marxismo tradicional que seguiram tal itinerário (caso da China, principalmente).

Confirmaram-se adágios como os de que o poder corrompe e o uso do cachimbo faz a boca torta... (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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