quarta-feira, 1 de julho de 2020

IMPERDÍVEL: O BRASIL ESTARÁ COMEÇANDO A COLOCAR JAIR BOLSONARO DE JOELHOS?

Às vezes, a luz chega antes do amanhecer. 

Com Bolsonaro o Brasil começou a entrar no túnel escuro das ameaças à democracia. De repente, quase num passe de mágica, o presidente que era como um novo ditador, esmurrando a cada instante os valores da democracia, zombando dela, parece ter se convertido num pacífico Francisco de Assis.

Cálculo? Medo? Cansado de ser encurralado dentro e fora do país? Não importa. A verdade é que os presságios que se adensavam sobre a morte da democracia parecem ter se dissipado por um momento. 

Bolsonaro, pela primeira vez, fala de diálogo, de reconciliação e defende, assustem-se, a democracia.

Ainda não sabemos se essa aparente conversão de Bolsonaro será apenas um parêntese para recuperar forças e voltar à carga com suas armas de morte. Uma coisa é certa. Bolsonaro, neste momento, se viu de repente posto duplamente de joelhos:
— pelos militares, que parecem ter conseguido refrear seus ímpetos golpistas ameaçando sair do governo e deixá-lo sozinho; e
 pela importante pesquisa do Datafolha, segundo a qual 75% dos brasileiros apostam hoje na democracia, enquanto esmagadores 91% consideram a política das fake news, tão queridas, usadas e abusadas pelas hostes de Bolsonaro, como contrárias e ofensivas à democracia.

Revelam também o desejo de derrotar o autoritarismo do presidente os diferentes e importantes movimentos a favor da democracia que, na linha das Diretas Já, estão aparecendo entre pessoas de todas as categorias culturais e sociais.

E a isso se une, ainda, o medo de Bolsonaro dos fantasmas que assombram e ameaçam toda a sua família, desde o assassinato de Marielle até a recente prisão de Queiroz, aquele que guarda tantos segredos que devem estar tirando o seu sono.

Ao que parece, Bolsonaro teria confidenciado recentemente a alguns amigos que estava começando a se cansar de tantas brigas. Não sabemos se se trata de cansaço ou de medo. Dá na mesma. 

Não acredito realmente numa conversão de um presidente incapaz de arrependimentos, pois seus delírios de autoritarismo e suas nostalgias de velhas ditaduras e práticas abomináveis de tortura ainda estão vivos nele. 

O importante é que parece que os astros estão se unindo para deter o braço suicida de suas loucuras de rupturas democráticas e que está pedindo diálogo até mesmo a seu inimigo mortal, o Supremo Tribunal Federal.

Os movimentos de resistência à barbárie e a união de todas as forças democráticas contra obscurantismos políticos, culturais e sociais foram muitas vezes vitoriosos na conturbada história da humanidade. E com todos os horrores e ameaças de hoje à democracia, o mundo está melhor do que ontem. 
É mentira o dito de que os tempos passados eram melhores. Pelo contrário, sempre foram piores do que hoje, embora nos custe admitir isso. 

Se não, digam o que eram os direitos das mulheres apenas 100 anos atrás. O que era a defesa dos direitos humanos, as guerras que assolavam a Europa, a miséria da maior parte do mundo, a pobreza da medicina e as mortes por fome e desnutrição.

Se o mundo de hoje ainda nos horroriza, é porque perdemos a memória do que foi a história. Isso não justifica a pobreza, a violência nem as violações dos direitos humanos ainda vivos em tantos lugares do mundo. 

Mas, na sua totalidade, o mundo é hoje, como nos lembram cientistas e sociólogos, mil vezes mais habitável do que no passado.

É verdade que a humanidade sempre caminhou aos tropeções entre luzes e trevas, mas nunca houve uma consciência maior do que hoje em favor das liberdades e dos direitos humanos. Não estamos no céu, mas também não estamos no inferno que um dia foi a Humanidade.

Tomara que o novo pesadelo que vive o Brasil, de ser governado por um presidente com nostalgia de um passado de horrores que queremos esquecer, acabe logo, e que este país possa retomar o caminho de paz que havia conquistado e que era aplaudido pelos países mais avançados. 

Tomara que os jovens brasileiros que não conheceram a barbárie das ditaduras, que no Brasil são milhões e que hoje apostam na democracia, sejam o novo fermento de esperança contra o obscurantismo em que o país tinha começado a entrar.

Demasiado otimista? Talvez, mas minha idade [completará 88 anos neste mês] me permite sonhar que meus netos venham a desfrutar o Brasil que merecem e que ninguém tem o direito de lhes roubar. 

Deixem-me sonhar uma vez com as estrelas. Vivi quando criança uma terrível guerra civil [a espanhola, entre 1936 e 1939] depois uma cruel ditadura de 40 anos [a de Franco]

Deixem-me sonhar para as crianças e jovens brasileiros o que a vida me negou. (por Juan Arias, jornalista espanhol que desde 1999 mora e trabalha no Brasil, como correspondente do jornal El Pais)

2 comentários:

Anônimo disse...

É um pusilânime, um covarde, ignaro, mas não burro. Voltará á carga.
Deu um passo bem largo para trás, até nomear um dou dois nas vagas que serão abertas no STF, até mudar o nome do carro-chefe assistencial do lulismo, o Bolsa Família. É barato para o capitalismo dar essa migalha para as coitadezas. O ignaro poderá até dar um aumento substancial.
Contamos mais para a queda de Bolsonaro com a não reeleição de Trump e o agravamento da situação econômica. O capital precisará então de um gerente mais habilidoso e fará a troca.
O povo está sem lideranças que o guie nas marchas de luta. Nos partidos políticos, nos sindicatos ele não acredita mais. A mudança, como sempre no Brasil, virá de cima.

Luiz Carlos Barbosa


celsolungaretti disse...

Tem a esperteza dos becos, mas é burro com relação aos raciocínios sofisticados que um governante precisa ter.

Quanto à troca de ministros do Supremo, há um detalhe que quase todos esquecem. Depois que um sujeito se torna ministro, não precisa de presidente da República para nada. Tem aquele cargo até atingir a idade-limite.

Então é enorme o número de aspirantes ao STF que prometem mundos e fundos, mas depois fazem o que bem entendem. O exemplo mais emblemático foi o Luiz Fux, que fez de bobos o Lula e o Zé Dirceu, pois votou sempre contra os mensaleiros.

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