sexta-feira, 26 de junho de 2020

GENÉRICO DAS "DIRETAS JÁ" EXIBIRÁ UMA MARATONA DE 100 MICRO-DISCURSOS EM 4 HORAS. VAI PARECER O HORÁRIO DO TSE...

ricardo kotscho
NADA A VER: NÃO CONFUNDAM DIREITOS
COM DIRETAS JÁ
A ideia do movimento Direitos Já era fazer um revival da campanha das Diretas Já, que foi o divisor de águas entre a ditadura e a democracia, em 1984. 

Mas tudo deu errado nesta tentativa grandiosa de montar um palanque virtual suprapartidário, com os ex-presidentes da República, além dos principais líderes da oposição e da sociedade civil. 

Para começar, em 1984 havia um grande líder, Ulysses Guimarães, o Sr. Diretas, e uma luta unificada pela volta das eleições para a presidência da República, já nos estertores do regime militar. 

Ao lado de Brizola e Lula, doutor Ulysses comandou comícios de ponta a ponta do país, com todo juntos remando na mesma direção, gritando a uma só voz: Diretas Já!

Fui testemunha ocular desta história, que está contada no meu livro Explode um Novo Brasil – Diário da Campanha das Diretas

Ninguém mais defendia a ditadura àquela altura, a não ser os militares que estavam no governo do general Figueiredo e os deputados do centrão da época, o que restou da velha Arena.
Por que tentarem pegar carona, até no nome do movimento, em algo tão maior que 100 micro-discursos? 
Agora, o presidente eleito Jair Bolsonaro ainda mantém em torno de 30% de apoiadores fiéis e furiosos, acaba de adquirir o novo centrão de porteira fechada, e também está cercado de generais no governo, a maioria de pijama. 

De outro lado, temos uma oposição partidária completamente fragmentada, sem nenhum líder capaz de juntar os pedaços e que não se entende nem sobre qual deve ser a bandeira do movimento Direitos Já, criado por um dissidente tucano, o cientista social Fernando Guimarães, de quem eu nunca tinha ouvido falar. 

Trata-se de um fórum de debates que jamais saiu às ruas, nem antes da pandemia. 

O objetivo era criar um espaço "onde pudéssemos deixar as diferenças, as disputas, os projetos eleitorais de lado, para nos concentrarmos na defesa do estado democrático de direito, dos valores que estão na nossa Constituição". 
Figuras marcantes das Diretas Já. Lula, contudo, hoje se mantém distante das manifestações antifascistas
Até aí, estamos todos de acordo, assim como somos a favor da energia elétrica e da água encanada. 

E daí?, como indagaria o capitão Bolsonaro, que não foi nem citado no texto de apresentação da live programada para esta 6ª feira, às 19 horas, na página do Facebook do movimento Direitos Já

Dos ex-presidentes convidados, só Fernando Henrique Cardoso confirmou presença. 

Michel Temer chegou até a mandar um vídeo, mas desistiu por achar que no ato "há um tom crítico a Bolsonaro", no que foi acompanhado por José Sarney. Lula e Dilma agradeceram, mas dispensaram o convite. 

Como é que se pode imaginar um ato em defesa da democracia sem criticar quem mais a ameaça, com a escalada autoritária e anti-civilizatória do presidente da República, que está destruindo o país, tijolo por tijolo, acabando com os direitos dos trabalhadores e desafiando as instituições, com a fúria de um exército de ocupação?  

Cada um dos 100 participantes confirmados terá direito a uma fala entre um e dois minutos para apresentar suas visões de país.

Pelo jeito, não devem ter visões muito profundas. Mais fácil seria cada um mandar sua mensagem pelo Twitter. 

Os organizadores preveem que o evento deverá durar quatro horas. Melhor fariam se gastassem esse tempo exibindo um documentário sobre a campanha das Diretas Já, para mostrar aos mais jovens como se lutava por democracia na época da ditadura. 

Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)
Toque do editor — Concordo com quase tudo que o Kotscho coloca, menos quanto a não estarem dadas as condições para um movimento como o das Diretas Já. Pelo contrário, o momento é infinitamente melhor que o do lançamento das Diretas Já (foi acumulando forças a partir de então), pois agora temos um governo em frangalhos, prontinho para receber o tiro de misericórdia.

Mas, quem realmente deixou Bolsonaro grogue, segurando-se nas cordas, foram o Congresso, o Supremo, os governadores e os jovens que ousaram sair às ruas para defender a vida dos brasileiros que estão sendo exterminados pela Covid-19, cuja letalidade é maximizada pela sabotagem sanitária do dito presidente genocida. 

Então, em termos políticos, Direitos Já é uma iniciativa tardia, tímida, sem coragem para dar nome aos bois e, pior, sem o desprendimento que prevalecia na Diretas Já
Percebe-se claramente que alguns priorizam, isto sim, a melhora de suas chances eleitorais para 2022 e não o afastamento imediato de um presidente insano e catastrófico.

Refiro-me não só às escaramuças veladas entre os favoráveis a Lula e a Ciro, como também à exclusão de Sergio Moro, que ultimamente tem contribuído muito mais para a desconstrução do governo miliciano do que os presidenciáveis acima citados.

Serei inimigo visceral de Moro quando ele tentar a presidência, mas agora o que está em jogo é algo muito maior: salvarmos boa parte dos coitadezas que ainda morrerão na maior tragédia humanitária de nossa História. O resto tem de ficar para depois.

Por último: o formato prenuncia tédio infinito. Quem suporta 100 discursos de 1 a 2 minutos sem pegar no sono ou, pelo menos, cochilar? Vai parecer um horário eleitoral gratuito com elefantíase.

As Diretas Já permitiam que algumas dezenas discursassem durante as primeiras horas (mas, nem de longe 100, no máximo um quarto disso), mas o momento culminante era quando, no final e evidentemente com direito a mais tempo, falavam Brizola, Ulysses, Lula, governadores e grandes nomes da época. (por Celso Lungaretti)  
Bônus para os leitores: um documentário sobre o grande nome da esquerda 
nas jornadas das Diretas Já. Jamais esquecerei o ato na praça da Sé
em que ele começou a discursar sob vaias e acabou ovacionado
em delírio pela imensa multidão. Foi de arrepiar! (CL) 

3 comentários:

Anônimo disse...

Presenciei uma virada dessas no humor da plateia em relação ao Brizola. Era estudante na UFRJ, na Ilha do Fundão. Fazia campanha informal pro Briza ao governo do estado, em 1982. Informal, mas ferrenha. Acreditava desde o início, quando eram somente famosos 7% de ibope. A massa universitária, então, estava deslumbrada com o PT e com Lula. O Partidão e o MR-8 não emplacavam tanto como antes. Quando o Brizola começou a falar, surgiu aquele mal-estar. Mas, pouco a pouco, o Gaúcho foi conquistando a plateia e saiu do auditório da escola de engenharia sob grande aplauso. Saí exultante e certo da vitória. Marco A.

celsolungaretti disse...

O Brasil, além de tudo, é um país azarado. O Lula foi para o 2º turno em 1989 com uma vantagem ínfima sobre o Brizola: 454 mil votos. E perdeu de forma ridícula, pois a revelação pública de que ele tinha uma filha ilegítima e tentou convencer a mãe a abortá-la, alguns dias antes do debate decisivo, o deixou prostrado, acuado. O Collor deitou e rolou em cima dele.

Não consigo imaginar o Brizola travando numa hora dessas. Ele era guerreiro, iria para cima do Collor com tudo e, provavelmente, ganharia o debate e a eleição. O futuro do Brasil seria outro.

Enfim, o Brizola não conseguiu realizar seu grande sonho de ser presidente. Mas eu, pelo menos, dou muito mais valor a quem conseguiu evitar um golpe de Estado que já era praticamente vitorioso (em 1961) do que aos que se elegeram presidentes por quatro vezes, mas não governaram um dia sequer como revolucionários, seguiram o tempo todo o figurino democrático-burguês.

Cezar disse...

Grande Briza

Related Posts with Thumbnails