sábado, 13 de junho de 2020

A ESCOLHA QUE TEMOS SOB O CAPITALISMO É DA FORMA COMO PREFERIMOS MORRER

dalton rosado
O CAPITAL É GENOCIDA
Brado libertário do povo estadunidense
O Brasil acaba de superar a marca de 40 mil mortes causadas pela Covid-19, segundo o consórcio de imprensa que se tornou a única fonte confiável de totalizações dos dados da pandemia, depois de o governo federal haver tentado toscas manipulações para menos.

A média de óbitos tem sido superior a mil por dia e as contaminações já excedem 800 mil, enquanto o total mundial está acima de 400 mil mortos e 700 milhões de infectados. 

Agora a pandemia começa a alastrar-se com mais velocidade nos países pobres e populosos, principalmente nas cidades do interior e áreas rurais. 

Enquanto isto, o mundo capitalista se vê aturdido com o déficit somado do PIB dos 20 países economicamente mais expressivos, no 1º trimestre deste ano tenebroso de 2020: queda de 3,4%, mais do que o dobro do pior momento da crise do subprime em 2009. E a tendência é de piora no 2º trimestre, quando o isolamento social se intensificou nessas nações que compõem o G-20.

Embora o quadro seja dos mais alarmantes, ao invés de a sociedade unir-se no isolamento profilático, lança-se desesperadamente à flexibilização da quarentena, pois os poderosos da economia pressionam os governantes a fazer-nos enfrentar os riscos de contaminação e falecimento, como alternativa à nossa morte por inanição. Ou seja, só nos restaria a escolha de como preferimos morrer.

Trata-se de uma lógica perversa e genocida. Não precisaria ser assim.

Essa coisa se parece muito com a questão do trânsito urbano caótico e poluente, mas que atende a muitos interesses econômicos em detrimento da comunidade. 

É claro que um transporte público eficiente e movido a energia limpa (tecnologia para tanto não falta) resolveria tanto o problema da rapidez de locomoção quanto da necessidade de reduzirmos a emissão dos poluentes causadores do efeito-estufa e, portanto, do aquecimento global. 

Mas o interesse da indústria de pneus e peças sobressalentes; de postos de gasolina e da Petrobrás; da indústria automotiva, principalmente; e dos segmentos que oscilam na órbita desses aí não permite uma abordagem racional dessa questão. 

O capital não é apenas genocida, mas irracional. E isto vale tanto para o capital financeiro quanto para o agrícola, o industrial e o de serviços.

A pandemia nos está fazendo descobrir que muitas das nossas atividades anteriores a ela podem hoje ser resolvidas com o uso de comunicação eletrônica. Esse é um ensinamento que não vai esquecido nem retrocederá substancialmente.

Tenho como hobby compor músicas. Por meio delas, posso transmitir  muitas mensagens (diretas ou subliminares) de uma forma que facilita a absorção por parte de meus públicos-alvo.  

Como estou recluso em minha casa há cerca de três meses por, como idoso, pertencer a um grupo de risco, idoso, acabei descobrindo que posso enviar de minha casa as músicas gravadas no celular e que os músicos podem gravá-las da mesma forma, com tudo sendo condensado no estúdio musical sem que ninguém precise sair à rua. Tudo mais econômico e até mais ágil.

Igualmente, os serviços advocatícios e até as audiências puderam ser realizadas eletronicamente, aí incluída a consulta de processos (os quais agora estão digitalizados, eliminando o uso de papel que deriva da celulose obtida pelo desmatamento antiecológico. Economia de tempo, madeira, gasolina e sola de sapato.

Estes são alguns dos exemplos pessoais que a crise do isolamento social nos está a ensinar. Em muitas outras atividades (incluindo-se a computação eletrônica que racionaliza procedimentos e a robotização industrial que pode produzir ininterruptamente) podemos, a partir dessas lições comportamentais, tornar mais cômoda a vida social. 

Para tanto, contudo, precisamos adaptar o modo de mediação social às exigências da realidade do saber adquirido pela humanidade. Sem isso, as coisas vão é piorar. 

É que as relações sociais sob a forma-valor (que não é algo ontológico, imprescindível, mas apenas um modo de ser social negativo e que se tornou obsoleto) nos impõem a aceitação passiva de irracionalidades comportamentais que, de tão repetidas, agora nos parecem normais. 

A crise sanitária desmascara a pretensa boa fé dos governantes e do capital industrial, do agronegócio e do comércio, que querem flexibilizar o isolamento sanitário a despeito dos números alarmantes, contrariando os mais elementares raciocínios lógicos, científicos e humanitários. 

É que eles estão presos à camisa de força da lógica de relação social em nome da qual ocupam seus cargos e que sempre foi escravista, embora inicialmente parecesse ser libertadora em face da escravidão direta, na qual os seres humanos eram propriedade ou servos de outrem.

A guerra da secessão nos Estados Unidos, que, como sabemos se deu pelo conflito separatista dos anti-abolicionistas do sul daquele país em confronto com o capital mercantil do norte industrializado no início da segunda metade do século 19, é um bom exemplo disso: na verdade, não aboliu a segregação social dos afrodescendentes, tendo apenas modificado o jeito de oprimi-los. 

Acresça-se a isto a segregação social que ali é praticada também contra indígenas e latinos fugidos da miséria nos seus países de origem, conjuminada com a crise sanitária que provocou desemprego em larga escala sem garantias sociais para os demitidos, e estarão dados os motivos pelos quais o país se levantou em uníssono exigindo justiça. 

Infelizmente, faltou um questionamento da essência da base constitutiva das relações sociais negativas estabelecidas.

A democracia burguesa, representada pela política que lhe dá sustentação, faz água por todos os lados e demonstra quão cínicos são os argumentos apresentados pelos representantes do povo como justificativas para seus atos.  

O capital exige do governo a emissão de moeda sem lastro como forma de manutenção minimamente sustentável das relações de produção e comércio de mercadorias; mas, ciente de que tal emissão é insustentável já no médio prazo, posiciona-se pela flexibilização do isolamento a qualquer custo.
Temos um parlamento cujos representantes eleitos são pelo capital e pelo coronelismo político dos currais eleitorais a que continua submetida a população dependente na periferia das cidades e nos grotões do Brasil profundo.

Vemos políticos tirarem a máscara de caráter usada nas campanhas eleitorais e justificarem o injustificável, ou seja, a prática à luz dos holofotes do mais absoluto totalitarismo governamental, em a aliança com a escória mais abjeta da representação política.  

Diante de tamanha (des)ordem institucional, fica a falsa dicotomia de que o contrário disso seria a ditadura militar, daí a conveniência de aceitarmos o ruim para evitarmos o pior. Devemos desmascarar tal camisa de força.

Ora bolas, como é que, num quadro dantesco como esse, poderemos introduzir soluções racionais de abastecimento, de modo a que seja mantido o isolamento social e evitado o morticínio de alguns milhões de seres humanos em todo o planeta? 

O capital é genocida, irracional e embota a capacidade social de pensar fora da caixa. É graças a isso que os governantes promovem a flexibilização do isolamento mesmo ao preço de vidas. 

Um dia a história haverá de reconhecê-los como criminosos, tanto quanto Hitler e Stalin, que foram por algum tempo tidos como salvadores de suas pátrias. (por Dalton Rosado)

3 comentários:

SF disse...

O genocídio já era previsível dada a natureza malthusiana do capital.
Os capitalistas mais fanáticos (leia-se escola austríaca) confundem esse movimento do capital global com socialismo.
Parece que o próximo passo da plutocracia mundial será o reset financeiro (um plano Collor mundial) e isso será o tema da próxima reunião do foro econômico de Davos em 2021.
Concomitantemente a Visa pediu patente de uma moeda completamente digital que é ao mesmo tempo segura e excludente.
Menos pessoas, moeda estável e alta capacidade de produção.
Parece que os caras desistiram de Marte e vão ficar na terra mesmo.

P.S. a escola austríaca é tão horrível que seus defensores tergiversam quando são perguntados a respeito do problema social que os seus postulados defendem. O ó do ó do borogodó.

Anônimo disse...

O mundo é capital e trabalho, todo o resto é distração.

É uma visão simples e direta, mas o capital consegue turvar, com suas pirotecnia$, a mente de quase todas as pessoas, das mais simplórias até as mais cultas.

https://youtu.be/cxiCCawlV3E

celsolungaretti disse...

Caro leitor,

sim, o capital é trabalho abstrato, ou dizendo melhor, o trabalho abstrato, produtor de valor é a celular mater do capital; sem ele não existe capital e nem capitalismo, que é a ordem social e econômica ditada pela forma-valor.

Estou lendo a biografia de Friedrich Engels, na tradução em português da Editora Avante, de Lisboa, que reproduziu esse livro biográfico redigido por um coletivo do Partido Comunista da então União Soviética.

Nele se observa claramente a estratégia de Engels, mais do que de Marx, de ênfase à importância da classe operária como artífice de um Estado que imporia a ditadura do proletariado. Daí a luta titânica de Engels contra o anarquismo, que mesmo sem a cientificidade de Marx, intuía o perigo de um Estado forte.

A ideia era que a classe operária no poder vertical pudesse promover (aí é mais Marx) sua autodestruição de poder a longo prazo extinguindo o próprio Estado e o partido da classe operária por desnecessidade, já que não haveriam classes sociais distintas.

Mas o poder é inebriante, e a categoria capitalista trabalho, de tão incensada nas bandeiras vermelhas então empunhadas como categoria virtuosa, terminou por ser cultuado como um bem social, sem que as gerações pós-marxistas percebessem a sua letalidade nociva como instrumento condutor da classe operária ao paraíso.

Deu no que deu.

A reconstrução do ideário de uma sociedade sem classes sociais distintas e opressoras entre si, passa pela eliminação do trabalho abstrato produtor de valor como forma de mediação social.

É por isso que os novos movimentos sociais, mesma sem ter clareza dessa questão, e impulsionado pelo desemprego estrutural (que esfacelou a unidade e força da classe operária como tal) usam outras cores e símbolos, intuitivamente.

Um abração e boa sorte, Dalton Rosado.

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