O coronavírus impõe ao país morte e dor em escala pandêmica.
Ultrapassamos a marca de 40 mil mortos. Num cenário assim, muito do que necessitamos não depende de nós —o desenvolvimento de uma vacina, p. ex.
Mas também precisamos de muito pouca coisa: só uns dos outros. O diabo é que nem isso temos sido capazes de assegurar a nós mesmos.
A infecção política alastra-se na proporção direta do crescimento do número de mortos. Em apenas 33 dias, a quantidade de cadáveres quadruplicou.
O vírus político também é letal. Matou a solidariedade. Quando esse laço fraternal que une as pessoas pelo simples fato de serem semelhantes é sacrificado, propaga-se uma patologia contra a qual não existe vacina: o embrutecimento da alma.
A decomposição da solidariedade produz surtos de raiva.
Politicamente infectado, um senhor invadiu uma homenagem à memória dos mortos do coronavírus. Deu-se na praia de Copacabana, em cujas areias a ONG Rio da Paz cavou cem covas. Sob aplausos de observadores, o invasor achou que seria uma boa ideia derrubar as cruzes fincadas ao lado de cada cova.
Os organizadores do protesto pediam a Bolsonaro que instalasse em Brasília um gabinete de gestão da crise sanitária, em parceria com estados e municípios. Sob a alegação de que o protesto causa "pânico", o intruso derrubou algo como 20 cruzes.
Súbito, o pai de um jovem morto pela covid-19 pôs-se a levantar as cruzes: "Meu filho morreu com 25 anos. Ele era saudável. Vocês têm que respeitar a dor das pessoas. O mesmo direito que ele tem de tirar eu tenho de botar. Tem que respeitar. A praia é pública e eles têm direito também."
"A verdade vos libertará", diz o versículo preferido de Bolsonaro, extraído do evangelho de João. Na pandemia, conhecer a verdade é a parte mais fácil. Ela está estampada na face de cada morto. Tem o semblante da incúria.
Virar as costas para a realidade, terceirizando responsabilidades, não produz soluções. A verdade só seria libertadora se o presidente presidisse a crise, unificando o país. (por Josias de Souza)
"Peço-lhes atenção/ para o que eu vou contar./ A realidade é a verdade/ que
mais se custa a crer./ Eu vim de um mundo desigual,/ onde é voz universal/
que ele marcha para o mal./ Vi punir o amor,/ banir a paz./...Vão cortando
a voz/ de quem não cansa/ de gritar/ que o chão todos faz irmãos..."
mais se custa a crer./ Eu vim de um mundo desigual,/ onde é voz universal/
que ele marcha para o mal./ Vi punir o amor,/ banir a paz./...Vão cortando
a voz/ de quem não cansa/ de gritar/ que o chão todos faz irmãos..."
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