Chegando aos 70 anos, jamais havia visto um presidente brasileiro tão dividido entre a obsessão extremada de perpetuar-se no poder e os impulsos irresistíveis que o levam a cometer todas as besteiras capazes de acelerar a sua remoção do poder.
Se o seu catastrófico governo tende a ser rapidamente esquecido, a forma como ele o terá abreviado tende a ser lembrada durante muito tempo por psiquiatras e psicanalistas, como um dos exemplos mais emblemáticos da esquizofrenia, também chamada de distúrbio da mente dividida – um transtorno marcado por surtos nos quais o mundo real é substituído por delírios e alucinações.
Não sei o que levou Bolsonaro a fase tão aguda de sua esquizofrenia a partir daquele domingo, 15 de março, no qual, tendo voltado contaminado pelo coronavírus de sua viagem aos EUA, saiu a esfregar-se desvairadamente em seus apoiadores durante uma patetada ultradireitista.
Desde então vem se comportando como um sabotador compulsivo do combate à pandemia, como um golpista trapalhão e como um presidente que afasta de si todos os auxiliares equilibrados, queima seu filme com os brasileiros sensatos e passa a ser mito apenas para os mais obtusos fanáticos.
Para encurtar a História, exonerou seu ministro da Saúde que conquistara a confiança dos brasileiros logo à véspera da fase mais aguda da pandemia, substituindo-o por um executivo de empresas médicas que há muito tempo salva mais os cifrões do que as vidas humanas.
Ou seja, permitiu que Mandetta conservasse intacto seu prestígio e atraiu para si todo o desprestígio decorrente da escalada anunciada de contaminações e óbitos.
Logo em seguida, cometeu o erro capital de romper a aliança com o lavajatismo, que dava alguma aparência de idealismo a seu governo e, deslocando-se para o extremo oposto, comprou o apoio de corruptos com carteirinha assinada e condenações transitadas em julgado.
Quem ingenuamente acreditou que Bolsonaro fosse livrar o Brasil da velha política está se dando conta de que ninguém é cria do Paulo Maluf e do Roberto Jefferson impunemente.
Agora – com a Justiça exigindo a entrega dos laudos de exames de coronavírus que comprovarão que ele estava ciente de sua condição de contagiado quando expunha sofregamente seu rebanho de seguidores à doença e com Sergio Moro fornecendo ao STF provas devastadoras de seus crimes de responsabilidade –, Bolsonaro resolveu assumir de vez os intentos golpistas, na mais grotesca de todas as suas patetadas dominicais.
E o fez da maneira mais desajeitada possível, ao envolver as Forças Armadas numa aventura que elas jamais emitiram sinais de que apoiariam:
"Tenho certeza de uma coisa: nós temos o povo ao nosso lado, nos temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia e pela liberdade. E o mais importante: temos Deus conosco".
Como espera obter a confiança dos altos comandantes militares, que já o haviam expelido da caserna e tinham carradas de razões para desconfiarem dele como governante, como líder de homens e como indivíduo mentalmente são, se ousa constrangê-los e pressioná-los grosseiramente em público?!
Há articulistas de esquerda que tremem diante desses blefes canhestros e se deixam contaminar pelo vírus da sinistrose, como se fosse um Hitler ou um Mussolini que estivesse mordendo nossos calcanhares, e não um patético rato que ruge...
Eu só vi nessa nova comédia de erros dominical uma tentativa desesperada de um político medíocre que já sabe estar nas últimas e tenta reverter a situação com um rompante kamikaze, só conseguindo acrescentar mais motivos à lista enorme das justificativas para seu afastamento, com a máxima urgência, de um cargo do qual em momento nenhum esteve à altura. (por Celso Lungaretti)
Um comentário:
Um dos problemas que enfrentamos é a superstição e talvez outros motivos que não deixam o Maia dar seguimento ao processo de Impedimento.
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