domingo, 3 de maio de 2020

OS 15 MELHORES CANTORES DE MPB E SUAS INTERPRETAÇÕES MAIS MARCANTES, NA AVALIAÇÃO DO DALTON ROSADO

A escolha de 15 vozes representativas da música popular brasileira, feita por qualquer indivíduo, advém de um critério particular que, obviamente, diferencia-se de pessoa para pessoa. 

Assim, qualquer listagem pessoal terá sempre grande possibilidade de discrepância com relação às oficiais. É com tal ressalva que arrisco fazer a minha reduzidíssima, própria e difícil listagem, que certamente provocará discordâncias. 

Se há um setor das artes nos quais o Brasil sempre se destacou é a música. Apesar do boicote sistemático do mercado fonográfico mundial (a música é uma mercadoria, infelizmente), dominado pelos Estados Unidos, nossa música conseguiu impor-se internacionalmente graças ao samba e à bossa nova, sua vertente mais sofisticada e jazzística. 
Carmen Miranda contracenando com Groucho Marx em 1947

Sempre tivemos grandes intérpretes, músicos e compositores que se destacaram no cenário mundial. 

O exemplo mais eloquente foi Carmem Miranda que, no início dos anos 40, se tornou a maior cantora dos Estados Unidos. E composições como “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso) e “Garota de Ipanema” (Tom & Vinicius) são verdadeiros clássicos da música internacional, cantadas e conhecidas em todo o mundo.  

Apontamos aqui os melhores intérpretes masculinos apenas no quesito voz, embora num grande intérprete se destaquem outros elementos igualmente importantes, como a presença de palco, o talento para a dança, a capacidade de tocar um instrumento musical e de compor melodias, a escolha de repertório, etc. 

Ademais, cada intérprete, com seu forma própria de expressar o espírito de cada época, sempre tem uma música como seu carro-chefe, indispensável em qualquer show musical.
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A música mais marcante de Milton Nascimento é a bela “Travessia”, dele mesmo com Fernando Brant, que traduz a gostosa brasileirice do povo mineiro, as montanhas aconchegantes das Gerais e o gosto de café fresco com pão de queijo novo e quentinho.
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A de Nelson Gonçalves é “A volta do boêmio”, de Adelino Moreira, que todos sabem cantar (principalmente os que afogam as mágoas ou celebram a vida nos copos de um bar). Trata-se do timbre de voz mais claro dentre todos os cantores brasileiros.
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A de Francisco Alves (o Chico Viola, também chamado de rei da voz) é “A voz do violão”, que ele compôs em parceria com Horácio Mendes Campos.
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A de Orlando Silva, o cantor das multidões (expressão cunhada pelo radialista Oduvaldo Cozzi a partir da legião de fãs conquistada por este excepcional intérprete, o primeiro grande beneficiado pela difusão do rádio como veículo de comunicação social abrangente) é a belíssima valsa “Lábios que beijei”,  de J. Cascata e Leonel Azevedo.
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A de João Gilberto (o pioneiro da bossa-nova, um revolucionário que, em plena era do vozeirão, provou ser possível cantar também num sussurro quase coloquial, desde que com voz afinada e bem colocada) é “Chega de saudade”, um apelo e uma exaltação à mulher, quebrando o paradigma usual do drama de amores não correspondidos.
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A de Jorge Ben Jor pode ser "Chove chuva" ou alguma outra escolhida entre os muitos destaques do seu inesquecível disco de estréia, Samba esquema novo (1963), quando ainda era um rapazola chegando com muita força no cenário musical. Trazia uma bossa-nova temperada com muito suingue, inaugurando o chamado sambalanço, uma amostra do quanto o samba podia ser versátil e agradável.
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A de Roberto Carlos (conhecido como o rei, com seu estilo mais moderno, indo do rock’n’roll brasileiro às canções românticas, que o tornou o mais duradouro detentor de popularidade no Brasil) é “Emoções”, dele com Erasmo Carlos.
   
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A de Cauby Peixoto (apelidado pelos demais intérpretes de professor, pelo perfeito domínio de sua técnica e beleza de voz) é, claro, sua marca registrada: “Conceição”, de Dunga e Jair Amorim. Cauby era também respeitado por sua cordialidade e solidariedade aos companheiros de profissão.
   
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É difícil destacar uma música só de Caetano Veloso, o guru do movimento tropicalista e um dos mais versáteis intérpretes brasileiros (canta, dança, toca instrumento, compõe letra e música, dirige espetáculos musicais, é ator, faz cinema, escreve livro, planta árvore e tem filhos). Com licença de Adoniran Barbosa, o melhor cronista musical paulistano, fiquemos com a canção “Sampa”, um exemplo de capacidade de descrever musicalmente a primeira impressão daquilo que não conheço.
    
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A de Agostinho dos Santos (a quem os anjos levaram prematuramente para cantar lá no alto, com a sua voz celestial) é “Manhã de carnaval”, de Luiz Bonfá, cuja interpretação deve ser ouvida com o respeito de quem faz uma oração.
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Wilson Simonal, o rei da pilantragem, passou por um calvário por não ser engajado politicamente e por não ter uma cabeça consentânea com seu talento musical num momento de posturas maniqueístas exacerbadas e reprováveis (acabando vítima de um boicote que o levou à depressão, num exemplo do que é capaz o preconceito). Mas, apresentou o melhor suingue brasileiro e ouvi-lo cantar “Sá Marina”, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, dava irresistível vontade de dançarmos e cantarmos juntos.
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A de Luiz Gonzaga é "Asa branca", um dos hinos nacionais. Conhecido como o rei do baião, ele apresentou ao Sul maravilha a riqueza da música nordestina, o forró com suas variações rítmicas (baião, xote, xaxado, maracatu, côco e outros), tão autenticamente brasileiro como o samba, afirmando-se como um dos monstros sagrados da originalidade musical nascida nos grotões do Brasil profundo. 
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A de Tim Maia é "Azul da cor do mar". Chamado de síndico, ele era capaz de tudo consertar num concerto e até de dar um toque brasileiro melhorado ao funk americano; o seu talento como intérprete se somava à incrível capacidade de compor e tocar instrumentos musicais.

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Gilberto Gil só podemos agradecer e lhe dar “Aquele abraço”. Trata-se do mais musical dos intérpretes segundo avaliação dos músicos, o gênio baiano que faz a mescla dos sons advindos da musicalidade forrozeira nordestina com o berço do samba africano de São Salvador.
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O excelência de Emílio Santiago, a voz aveludada com que nos brindou o seu talento musical, está muito bem representada na música “Saigon”. Trata-se de mais um excepcional representante do imensurável legado cultural musical da matriz africana ao Brasil.  
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É evidente que haveria muitos outros grandes intérpretes brasileiros a serem lembrados, por terem, com a sua arte, contribuído para a formatação do imenso patrimônio imaterial musical brasileiro. Mas os nomes aqui citados apenas os representam.

A escolha destes 15 nomes se constituiu numa tarefa ainda mais difícil do que seria escalar um selecionado brasileiro de futebol integrado pelo melhor dentre os melhores de cada posição, como se todos estivessem disponíveis com a mesma idade e a um só tempo. Ou seja, a escolha se daria entre os campeões mundiais de 1958, 1962, 1970, 1994, 2002; os gênios do escrete dos sonhos de 1982; e craques da majestade de Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Zizinho, Neymar, etc. 
Por fim, devemos infelizmente concluir que, concordando com a afirmação do maestro Tom Jobim de que a música reflete a época na qual foi composta, o panorama musical de hoje só vem confirmar que vivemos mesmo tempos sombrios.
(por Dalton Rosado)  

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas, em minha humilde opinião, a música do momento é "nada será como antes", de M. Nascimento, na interpretação de Elis Regina.

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