quarta-feira, 22 de abril de 2020

DIANTE DO QUARTEL, ELES CLAMAM POR PRISÕES, SANGUE, TORTURA E VIOLÊNCIA

marcelo coelho
FANATISMO DOS BOLSONARISTAS JÁ SUPERA
QUALQUER CÁLCULO OU INTERESSE RACIONAL
Em São Paulo, eles buzinam e põem o carro de som bem debaixo de um hospital. 

Em Brasília, reúnem-se diante de um quartel para pedir o fechamento do STF e do Congresso.

O interessante é que muitos deles usam máscara para se proteger do vírus. Aparentemente, essa turma não segue por completo a ideia de que a Covid-19 na maioria dos casos teria apenas o efeito de uma gripezinha.

Não. Esses fanáticos acham, sem dúvida, que o vírus mata mesmo. São contra a quarentena mesmo assim.

Imagino várias razões para essa atitude. A primeira é que, protegidos por algum plano de saúde privado, eles querem simplesmente sair de casa e continuar tocando suas empresas.

O isolamento busca evitar o colapso na saúde pública? Que se dane a saúde pública. Meu quarto no Einstein ou no Sírio-Libanês —caso o pior aconteça— está garantido de qualquer jeito.

Querer o fim da quarentena tem pouco a ver com algum tipo de solidariedade com o pessoal realmente pobre.

Sei que o desempregado, o diarista, o catador de lata, todos precisam sobreviver; o contaminado que mora num quartinho com quatro filhos não conhece os prazeres e confortos do meu isolamento movido a Amazon, Spotify e Netflix.
É claro que a ajuda financeira aos mais prejudicados, votada rapidamente pelo Congresso (ah, o Congresso!) e reforçada pelo próprio Bolsonaro, poderia ser estendida. Imagino que ainda haja milhares de problemas específicos, casos particulares e dramas pessoais por resolver.

Quem prega o fim da quarentena pode dizer, como Bolsonaro, que se preocupa com essa gente.

Desconfio que seja o contrário. Preocupa-se, isto sim, com o fato de o Estado ajudar —mesmo que de forma provisória— toda essa ralé.

Os bolsonaristas já não eram contra o Bolsa Família? Já não diziam que nossos impostos sustentam a vagabundagem no Nordeste? Já não eram a favor da meritocracia?

Querem o fim da quarentena para que a vida volte ao normal. Ou seja, com o catador de lata voltando a ganhar o que merece, e com a empregada fazendo faxina.

Claro que eles também lutam pelo futuro das próprias atividades —a loja de bijuterias, a butique pet, a consultoria de moda, a assessoria de eventos, a decoração de interiores para festas de noivado, o recolhimento do dízimo.

O jornalista Eugênio Bucci observou certa vez que o pensamento da direita se resume a um princípio simples. Trata-se, dizia ele, de pôr o direito à propriedade acima de qualquer outro direito.

A sobrevivência do planeta, a terra dos índios, a educação gratuita, o acesso à saúde —tudo para a direita pode ser posto em segundo plano. A liberdade, para a direita, tampouco tem valor.

Registro, de passagem, minha repugnância diante do velho ramerrão de Norberto Bobbio, que num livro de muito sucesso identificou a esquerda com a defesa da igualdade e a direita, com a defesa da liberdade.

Santo equilíbrio! Esqueceu-se da América Latina, da Grécia, da Espanha, de Portugal, da Alemanha e da própria Itália —para falar só nas ditaduras do século 20.

Em nome da liberdade, os bolsonaristas defendem o fechamento do Congresso. É o direitismo clássico, sem novidade.

Mas quem buzina em frente ao hospital e chama Doria de comunista já foi muito além.

O mundo fanático —no islã de Osama Bin Laden, no Camboja de Pol Pot, na Alemanha de Hitler e no Brasil de Bolsonaro— ignora qualquer cálculo racional.

A caveira nos quepes da SS e nas insígnias do Bope simboliza o que constitui um verdadeiro culto da morte, do genocídio e (por que não?) do autossacrifício até.

Tirem as máscaras, seus dementes.

Um dos mais fanáticos seguidores do direitismo franquista, o general espanhol Millan Astray, celebrizou-se por um discurso feito em 1936, na Universidade de Salamanca.

Morra a inteligência!, disse ele, um mutilado de guerra. Viva a morte!

Os fanáticos gritam na frente do quartel; querem prisões, sangue, tortura e violência.

Buzinam na frente dos hospitais: querem a contaminação, querem os cadáveres dos pobres empilhados no meio da rua, querem a solução final para a miséria brasileira.

Viva Bolsonaro, viva o vírus, viva la muerte. (por Marcelo Coelho)

4 comentários:

william orth disse...

Bom dia celso. Tava demorando, Marcelo falou uma grande besteira. Com relação à caveira do BOPE e de varios grupos de elite no Brasil e no mundo, GRUPO ESPECIAIS que o adotaram como simbolo com a faca deveria se informar melhor. A verdadeira história remete ao grupo "comandos"na segunda grande guerra mundial. Este grupo inglês ao entrar em um foco nazista viu uma caveira nazista que realmente representava a morte e cravou um punhal na caveira. Daí a expressão "faca na caveira". Significa libertação.Marcelo se acha acima do bem e do mal. É por isso que é bem capaz de Bolsonaro se reeleger em 2022. Abraço

celsolungaretti disse...

Prezado Orth,

o esclarecimento histórico é bem-vindo. Eu sempre fui favorável ao rigor na informação.

E acabo de me lembrar de algo que ficara tão lá pra trás que nem sequer me ocorreu ao escrever o 'Náufrago da Utopia", em 2004.

Nos primeiros dias de prisão no DOI-Codi/RJ, levaram-me a uma sala do Pelotão de Investigações Criminais (ala das celas e das torturas) em que estava exposta uma gigantesca bandeira do Esquadrão da Morte. E disseram: "Olha onde você veio cair. Aqui sua vida não vale nada".

Eles acreditavam que esse teatro mambembe fosse me assustar. Ora, o que me assustava mesmo era a possibilidade de os choques elétricos no pênis me deixarem impotente e os aplicados com os eletrodos nas orelhas e a fagulha parecendo passar por dentro da cabeça danificarem minhas células cerebrais. Não besteirinhas como essa ou as roletas russas em que eu estava careca de saber que a bala era de festim.

Por último: após ser expelido da caserna por planejar obter aumento do soldo explodindo bombas em quartéis e reservatórios de água, o Bozo não foi readmitido.

Após ser removido da presidência da República por crime de responsabilidade ou insanidade mental, o que é questão de semanas, ele não voltará a eleger-se nem que viva 100 anos (vide os exemplos do Jânio, do Collor e da Dilma).

E o corvo disse: "Nunca mais!".

Anônimo disse...

Enquanto o bozo estava só massacrando o trabalhador, estava consolidada a sua permanência até 2022. A última tentativa foi a MP905 - carteira verde e amarela ("o nacionalismo é o último reduto dos canalhas").

Entretanto, hoje saiu a notícia de que o bozo quer dar um bote no capital - empréstimo compulsório de 10% do lucro das empresas bilionárias. Foi uma grita geral dos canalhas oligarcas escravocratas. Essa tentativa pode por fim ao seu governo...

Resumindo: o capital no brazil é sagrado, sem imposto sobre grandes fortunas, sem ipva para iates e aeronaves, sem IR para os dividendos bilionários dos bancos etc.

Essa vai ser a prova de fogo dos generais, dar uma fatiada no capital dos bilionários e segurar o bozo no poder...

celsolungaretti disse...

Anônimo das 11h50,

o Bozo cairá porque a mortandade da pandemia deverá ser ainda pior no Brasil do que na Itália e nos EUA. Leia a entrevista do Drauzio Varela à BBC, que resumi num post de anteontem. É assustadora.

Ninguém está se dando conta de quão ruim a coisa será por aqui. Os óbitos tendem a atingir a casa de centenas de milhares. E a troca de ministro tornou calamitosa uma situação que já era péssima.

Ele pode aguentar mais um pouco, contudo vai ser removido inevitavelmente entre maio e junho, quando a pandemia atingirá o pico. Espere e verá.



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