TÁTICA KAMIKAZE DE BOLSONARO PODE DEIXAR PRESIDENTE SOZINHO NO PALCO
Num espaço de dez dias, dois governadores de estado importantes disseram a interlocutores não acreditar que o presidente Jair Bolsonaro chegue ao final do mandato —quiçá ao fim deste ano.
Nenhum deles morre de amor pelo inquilino do Planalto, mas são aderentes de leituras usualmente sóbrias da realidade política. Têm ojeriza a processos de impeachment, que de resto não veem como opção agora. Deixam o quanto pior, melhor para seus colegas à esquerda.
Isso não quer dizer que não façam avaliações. Os motivos apresentados pelos governantes foram diversos, mas convergem para a ideia de que a governabilidade ora precária está se tornando inexistente.
Bolsonaro, como se sabe, está em conflito com o Congresso e dobrou a aposta no radicalismo de sua base mais aguerrida. Explicitou o apoio que antes negara ao protesto de domingo (15), fazendo um hedge ao dizer que ele também deveria ser um dos cobrados.
Não enganou ninguém. A manifestação democrática a que se refere, da voz do povo como dizem seus apoiadores, tem como itens centrais o palavrão dito pelo general Augusto Heleno, a crítica ao Congresso e mesuras como o fechamento de instituições.
Claro que direito de ir à rua é livre. Cabe lembrar que os protestos que ajudaram a derrubar Dilma Rousseff no biênio 2015-16 também incluíam em suas franjas toda sorte de boitatás que hoje proliferaram e viraram majoritários numa certa direita brasileira: defensores de intervenção militar, gente que celebra a suspeita de coronavírus se a vítima for alguém de quem não gosta, por aí vai.
Claro que direito de ir à rua é livre. Cabe lembrar que os protestos que ajudaram a derrubar Dilma Rousseff no biênio 2015-16 também incluíam em suas franjas toda sorte de boitatás que hoje proliferaram e viraram majoritários numa certa direita brasileira: defensores de intervenção militar, gente que celebra a suspeita de coronavírus se a vítima for alguém de quem não gosta, por aí vai.
Mas o centro das manifestações, concorde-se ou não com elas, nunca esteve nesse pessoal. Havia um caldo de insatisfação antipolítica brotado em 2013 associado à hecatombe econômica dilmista.
Já o ato insuflado pelo presidente orbita a acusação de um Poder contra outros. Isso para não falar nas bolas extras ofertadas pelo presidente, como a bizarra acusação de fraude sobre o Tribunal Superior Eleitoral. Ponto.
Que Bolsonaro levará gente à rua, há poucas dúvidas, ele ainda tem um naco respeitável do eleitorado. Será uma estrondosa demonstração de apoio popular à agenda do presidente contra a malvada classe política?
Parece improvável, a começar pelo fato de que ninguém sabe de que agenda se trata, fora os delírios e os retrocessos. O engasgo econômico atinge diretamente a classe média que costuma ir a essas manifestações. Já as reformas, bem, nessas nem mesmo os antes empolgados operadores da Faria Lima têm colocado muita fé.
Tanto é assim que os alvos potenciais estão quietos, apostando em que a coisa se esvaia de forma natural. A ver.
Tanto é assim que os alvos potenciais estão quietos, apostando em que a coisa se esvaia de forma natural. A ver.
Segundo essa leitura, novamente o presidente emula seu antípoda, Lula. O petista passou anos ameaçando o uso do exército do Stédile, para ficar na massa de manobra miserável do campo, para impressionar elites, políticos e os militares ora sequestrados pelo bolsonarismo. Era nada, vento.
O que o presidente faz é assoprar a brasa antiestablishment que tão bem operou em 2018.
O que o presidente faz é assoprar a brasa antiestablishment que tão bem operou em 2018.
A questão é a percepção de que isso já não é suficiente ante a incapacidade do governo de encarar de forma adulta o desafio de lidar com nossos problemas enquanto o mundo desaba sob as brumas apocalípticas do coronavírus, da guerra do petróleo e todo o mais.
O bolsonarismo mais ideológico, com o perdão às ideologias, sempre gostou desse tom de Götterdämmerung inevitável, de embates épicos comandados por seu líder, da mística do sangue derramado em Juiz de Fora.
Muitos políticos ainda creem ser possível uma reversão parcial do quadro, justamente por compartilhar com os governadores supracitados a falta de ânimo com uma ruptura maior. É uma abordagem prudente.
5 comentários:
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Trata-se do embate em torno da PEC Emergencial, para o qual converge esta pretendida manifestação.
As inteligências de ambos os lados estão a mil querendo saber se dará ou não chabu.
O critério para saber se essa movimentação foi bem sucedida será a aprovação da tal PEC.
Como não tenho muito conhecimento em juridiquês, parece que um dos focos dela é diminuir o salário dos funcionários públicos e aumentar as possibilidades de exoneração.
A nomenclatura está fula.
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Referente às perspectivas de ocorrerem as manifestações de maneira a influenciar o congresso, parece que os congressistas mandaram um recado ao JB de que estão senhores da situação derrubando o veto presidencial à ampliação dos critérios de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Algo fizeram pela pobreza, mas imediatamente os inumanos do mercado levaram o dólar ao patamar de 4,80 e o posto Ipiranga balançou.
A coisa gira em torno da questão fiscal e a nomenclatura está bem forte.
Parece que tem cacife para peitar JB e sua turma.
A conferir.
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O problema é muito maior do que tais questiúnculas.
O Bolsonaro é uma completa nulidade em economia e acreditava que o Guedes resolveria tudo. Desde o primeiro dia eu alertei que não passa de outro economista do segundo time, igual ao Joaquim Levy. Ninguém acreditou.
Agora, caiu para o Bolsonaro a ficha de que o Guedes não vai conseguir trazer de volta o crescimento econômico e que este ano será péssimo em termos econômicos, com tendência não a termos um pibinho, mas sim uma evolução negativa do PIB.
Como o resto do governo já é um pandemônio, se perder o controle da economia é óbvio que levará também um pé na bunda, como a Dilma.
Então, enquanto lhe restam ainda seguidores, ele acalenta a ideia de forjar uma crise e insuflar o fechamento político. Mas hesita, cada dia decide numa direção.
Parece-me que está na seguinte situação: se nada fizer, a crise o tragará; se tentar o golpe, perderá e vai ser derrubado mais depressa ainda.
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Celso,
Estou monitorando a manifestação como um fato imediato que revela muito de como está o bastidor do poder.
Collor que o diga.
Se der chabu, teremos impeachment, eu acho.
Então me ative a este recado do veto.
Claro que isto é de somenos importância. 20bi do orçamento por ano para dar algum tipo de estabilidade aos miseráveis. Um gasto que, reforçando a segurança financeira das famílias, reforça a segurança da sociedade em geral. Isso, mesmo pensando na mesquinha lógica capitalista, é um bom investimento.
Por isso disse que os caras eram inumanos, porque para ser desumano tem que ter sido humano em algum tempo.
Sociopata é pouco para definir tais tipos de aberrações.
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O fato de tirarem JB, sabemos, não altera nada e não se consegue mudar alguma coisa no mundo através de idiossincrasias.
O que precisa mudar, e está mudando, é a tal mediação social pelo dinheiro que Dalton tão brilhantemente explicita.
Esta derrocada dos mercados é, acredito, muito diversa das anteriores.
Não há esperança de recuperação da produção nos mesmos parâmetros de antes.
De quebra, os caras providenciaram um virus que só mata gente idosa e já meio doente.
Parece ser a extinção em massa que os inumanos do mercado providenciaram para os, na visão deles, inúteis ao sistema.
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O governos, melhor dizendo, a plutocracia transnacional está parando a produção na maior tranquilidade e entraram no jogo para destruir de vez a moeda fiduciária. Para quem se pretende um governo global, não interessam mais os estados soberanos.
Mas acho que aí já é delírio meu.
Onde está meu capacete de papel alumínio?!
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Confronto adiado.
A pandemia serviu de saída honrosa e, muito sensatamente, as manifestações foram adiadas, parece até que estão proibidas.
Afinal a saúde em primeiro lugar.
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