quarta-feira, 25 de março de 2020

O FALSO DILEMA MUNDIAL: PRESERVAR A ECONOMIA OU SALVAR VIDAS?

"Quero deixar patente minha revolta com a grande mídia, que criticou duramente o Colégio Militar
de Porto Alegre apenas porque nove entre
84 alunos resolveram eleger Hitler
omo personalidade histórica
mais admirada"(Jair
Bolsonaro)
A paralisia das relações econômicas mundiais em razão da pandemia do coronavírus revelou quão socialmente perversas são tais relações.

Se em tempos de normalidade da produção de mercadorias as coisas já não iam bem, com a paralisia geral forçada pelo alto teor de contágio do vírus a coisa tomou ares de inviabilidade da vida social sob tais critérios. 

É como se tivéssemos uma grande greve geral sem que se pudessem paralisá-la mediante prisão e porrada nos grevistas.

Mas, inexistindo tal possibilidade, os governantes, submissos à lógica mesquinha das relações econômicas vigentes já começam a optar pela morte das pessoas: mesmo sabendo que são elas que transmitem o vírus, alguns já induzem-nos a sair de casa, pois necessitam produzir e vender sob os critérios famigerados do lucro, mesmo que parte delas morra. 

A morte, nesse casos, deve atingir, preferencialmente, segundo o fascismo governamental dominante, os idosos, que na sua maioria já não produzem valor e consomem mercadorias sem produzi-las. Raciocinam como se a vida se cingisse às estatísticas da preservação do lucro. Hitler matava doentes mentais e aleijados pelos mesmo motivos.

Acabo de ouvir um vídeo de um mauricinho burguês fazendo exortação à volta ao trabalho produtor de valor e à normalidade da saída às ruas das pessoas para as suas atividades, sob o argumento de que estamos em guerra e temos de combater de pé e morrermos, se necessário for. 

No vídeo ele cita as decisões dos falcões estadunidenses nessa linha, mensagem que foi prontamente atendida pelo presidente Boçalnaro, o ignaro

Destaca até a possível utilização da hidroxicloroquina para o combate ao vírus, ainda que possa causar efeitos colaterais. 

Tudo em nome da salvação da economia de mercado. Isto é que é histeria!

Obviamente, mantidos os critérios das relações econômicas de produção de mercadorias, segundo os quais somente se produz aquilo que se vende, haverá uma paralisia na produção e um colapso no abastecimento num futuro iminente. Este é o ponto nevrálgico do novo posicionamento do novo pato Donald, o presidente Donald Destrumpelhado, e do seu tresloucado imitador tupiniquim, o dito Boçalnaro

Entre a manutenção dos critérios costumeiros de produção de mercadorias e a livre circulação do comércio, ou passar a produzir apenas para salvar vidas, de forma cautelosa e de modo a que a circulação de pessoas seja substancialmente reduzida, tais governantes optam pela primeira hipótese, sejam quantas forem as pessoas sacrificadas no altar do lucro; e temem, como o Drácula teme a cruz, a segunda hipótese.  

É que a adoção de critérios fora da lógica da produção de mercadorias expõe perigosamente o calcanhar de Aquiles deles e do sistema a que são submissos, evidenciando que podemos e devemos adotar critério de produção social consentâneo com o saber adquirido pela humanidade, sem a intromissão do dinheiro. 
Algo assim, evidentemente, seria catastrófico para o exercício de poder no qual eles estão assentados como dirigentes. 

Não é por menos que já se ouvem, também, os reclamos de grandes empresários sobre a paralisia da produção de mercadorias motivada pela falta futura de consumo destas. 

Neste momento, p. ex., as vendas de alimentos para estocagem por parte de quem tem poder aquisitivo, ainda movimenta a economia; mas eles sabem que o passo adiante será no sentido inverso.

Sob o critério da produção de mercadorias destinadas à venda, o mundo viverá um falso dilema: a economia ou a vida. 

Sob o critério humanista da produção social voltada exclusivamente para a satisfação de consumo tal dilema deixa de existir, ainda que a luta para sobrevivermos à pandemia permaneça dramática.  

Nesse sentido a fala do capitão Boçalnaro expõe (mesmo que ele não se aperceba de toda a extensão disso pela mediocridade do seu pensar, ou sabendo, aja pelo interesse de poder), de modo cristalino, a crueldade das decisões governamentais anti-povo. 

Quando cinicamente ele afirma que a pandemia se trata de uma histeria exagerada causada por uma gripezinha; e que somente morrerão os velhos; e que velhos como ele, que passaram parte da vida se exercitando fisicamente, como atletas ou para a guerra, estão isentos da morte, ele confirma estas três características marcantes de sua personalidade: 
— o desprezo pela vida humana;
— a ilimitada ignorância; e
— a submissão incondicional do seu governo aos critérios de mercado.

O capital vive um dilema. 

As pessoas, orientadas pela ciência e pela constatação da capacidade de propagação infecciosa do vírus —que, apesar da baixa letalidade (números relativos), termina por ocasionar muitas mortes (números absolutos)—, tendem a resguardar-se, independentemente das orientações mórbidas de dirigentes estatais apavorados. 

É claro que isso representa retração no consumo de mercadorias e o agravamento de um quadro recessivo de uma economia que, mesmo antes da pandemia, já marchava em tal direção. 

O capital sempre tem o cuidado de inventar novas necessidades de consumo como forma de estímulo à velocidade do giro da roda segregacionista da economia.  Ora, é evidente que a crise do coronavírus atinge mais a própria economia do que a vida dos seus incautos alimentadores, os seres humanos. 

Esta é a razão da perplexidade de governantes e detentores do capital, porque o inimigo não é ideológico e personificado em seres humanos que possam ser perseguidos e eliminados como eles têm feito no itinerário escravista da humanidade, mas consiste num organismo microscópico contra o qual o poder do dinheiro tem força limitada. 

Diante da crise, um cientista ou pesquisador farmacêutico tem mais importância do que um bilionário qualquer (em US$). 
Durante a peste bubônica do século 13, quando a economia era ainda pre-capitalista, feudal, em que pese o alto índice de mortalidade havido no velho continente, o fenômeno se cingia, principalmente, à perda de vidas. 

Excluída essa questão epidemiológica, a produção feudal, escravista direta com pouca interveniência do dinheiro, não provocava abalos econômicos na esfera da riqueza abstrata ainda incipiente localizada.

Agora é diferente.

A globalização da economia significa que um espiro na China corresponde a uma pneumonia no ocidente; e quando esses espirros se intensificam e se alastram pelo mundo com a velocidade do vento, a coisa tende a demonstrar quão mesquinhos e contraditórios são os critérios de mediação social desenvolvidos aos longos dos últimos cinco séculos, e que agora encontram seu limite interno de sobrevivência. 

Não adianta profetas cibernéticos como o Sila$ Malafarta, rico vendilhão do templo, do alto da sua xenofobia, chamar uma crise virótica como sendo premeditadamente chinesa, ideologizando de modo fundamentalista religioso essa questão, e chamar os seus seguidores às igrejas para pagar o dízimo.

Tampouco adianta o autoproclamado bispo Medir Mai$cedo (a fortuna amealhada pela Empresa Multinacional do Reino de Deus com a venda de lotes no céu sem ter que passar escritura, reclamar pela queda no seu mundial negócio imobiliário celeste, e conseguir influir no seu discípulo pseudo messiânico, o capitão Boçalnaro, para que abra as portas do inferno.  

Já a nós não cabe o fundamentalismo religioso e o desespero diante do impasse ora colocado, mas sim a ação consciente no sentido de que os trabalhadores, despidos da condição de submissos artífices do capital, passem a produzir para o conjunto da comunidade, de modo a que sejam satisfeitas todas as necessidades de consumo, e de vida. 

Sob os critérios da vida humanitária e solidária, natural, não existem contradições entre uma economia de riqueza material, concreta, produzida e distribuída, e a vida.

Governantes: o buraco é mais embaixo! (por Dalton Rosado)

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