A figura simpática do locutor esportivo Galvão Bueno, num anúncio enorme da Bet Nacional, despertou-me, em primeiro lugar, ojeriza, depois uma reflexão: por que um homem tão estimado pelo grande público se presta a estimular um negócio tão condenável e nocivo quanto o vício na jogatina?
Tal ambiguidade moral é tida como perfeitamente aceitável no Brasil. Ganhar dinheiro justifica tudo, mesmo quando se trata de um cidadão que já está podre de rico.
Que necessidade tinha o Galvão. na etapa final de sua existência, de associar sua imagem à de crianças famintas porque o pai torrou toda a grana do mês, incapaz de desencanar da ilusão de que poderia ganhar uma fortuna facilmente?
Afora o fato de que parte das empresas que exploram tal filão tem como principal objetivo a lavagem do dinheiro sujo de atividades criminosas. Não sei nem quero saber se é o caso daquela que tem o Galvão como seu idoso propaganda, mas cada um desses anúncios é chamariz para mesmerizar todos os apostadores em potencial.
Nunca nadei em dinheiro e já passei por crises financeiras extremadas para cumprir as obrigações que tinha ou acreditava ter para com meus entes queridos (eu mesmo jamais fui consumista e/ou perdulário, privando-me facilmente de quase todos os objetos do desejo dos homens da minha idade e condição social).
No entanto, nem mesmo nas minhas piores pindaíbas, ajudaria a entoar o canto de sereia que está levando muitos pais de família a pedir adiantamentos salariais no emprego para cobrir perdas de jogo de azar.
Isto já foi confirmado por pesquisas sérias. Bem como que grana do Bolsa Família está sendo desviado para algo que só serve para fazer a desgraça das famílias.
O capitalismo, em sua fase agônica, é totalmente imoral. Topa qualquer negócio e difunde ao máximo, expressa ou veladamente, a mentalidade oportunista de que tudo é válido para engordar nossas contas bancárias, pouco importando se carecemos de centavos ou dispomos de bilhões sobrando.
Eu sempre vou considerar que a notoriedade nos obriga a ser mais zelosos dos exemplos que damos à coletividade. Bem mais zelosos do que seria lícito exigir dos cidadãos comuns.
Meu tio, que trabalhava com ele, tentou argumentar que ninguém notaria, portanto não havia motivo para se perder tempo com algo tão insignificante. Vovô respondeu:
"A firma tem meu nome, e o meu nome não pode circular riscado por aí. Vamos envernizar de novo e dar uma verificada em todo o resto, para termos certeza de que não há qualquer outra peça desse jeito".
Eu tinha apenas uns dez anos de idade, mas admirei tanto esse exemplo de conduta que jamais o esqueci e procurei agir de forma semelhante pelo resto da vida. (por Celso Lungaretti)
2 comentários:
Ruy Castro escreve hoje: A publicidade tomou conta do mundo e não há mais um centímetro de superfície que não venda alguma coisa
Galvão foi outro que 'ficou velho antes de ficar sábio'
Os tombos que a idade nos dá:
Vera Fischer parecendo Dalva de Oliveira
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Simone parecendo Ney Matogrosso
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Ainda as coisas doidas e doídas do U.S.A. Bozo
https://english.elpais.com/economy-and-business/2025-04-11/five-charts-that-explain-the-us-china-trade-relationship.html
https://www.theguardian.com/us-news/2025/apr/12/trump-king-economy-golf
https://www.theguardian.com/us-news/2025/apr/12/trump-economy-tariffs-analysis
https://www.theguardian.com/commentisfree/2025/apr/11/true-cost-donald-trump-crises-us-president
artigo de Gordon Brown
https://www.theguardian.com/us-news/2025/apr/12/trump-economy-tariffs-analysis
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