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Este blog não tem preconceitos: foi dos mais combativos quando se tratava de denunciar o viés gritantemente reacionário das posturas da Folha de S. Paulo em assuntos como o direito de resistência à tirania exercido pelos participantes da luta armada, a indispensável punição dos torturadores da ditadura militar e a obrigação política e moral de o Brasil não ceder às pressões para acumpliciar-se à vendetta fascista contra Cesare Battisti.
Mas, não deixa de reproduzir e aplaudir a Folha quando ela tem a razão ao seu lado, como no editorial deste sábado, 14, sobre o desespero que toma conta do desgoverno atual à medida que não consegue cumprir a principal das promessas que fez aos eleitores de 2018: reaquecer nossa economia.
É óbvio que, para tantas medidas desastrosas e nocivas tomadas nestes quase 15 meses de viagem no trem fantasma do bolsonarismo, a única compensação que os cidadãos comuns poderiam ainda obter seria um crescimento do PIB à altura de nossas mínimas necessidades, depois de oito anos de vacas magras.
O pibinho de 1,1% em 2019 e a antecipada constatação de que 2020 fechará com resultado pior ainda, evidentemente, fará a ficha cair para um número cada vez maior de brasileiros: nada, absolutamente nada, justifica a continuidade dessa marcha para o abismo.
Daí a aposta no tudo ou nada que Bolsonaro ensaiou com a convocação da marcha contra o Congresso e contra o STF, só recuando quando, aos prenúncios de que ela floparia pateticamente, somou-se o pretexto ideal para cancelar a demonstração de fraqueza anunciada: o Covid-19.
Já o guru charlatão da Virgínia, percebendo que suas pregações apocalípticas estão virando pó de traque, preferiu manter a ordem para seus zumbis arrastarem-se, com andrajos e mortalhas, aos locais da patetada já desmarcada. Alguém deveria tê-lo alertado de que 6ª feira 13 já passou, pois o fracasso parece ter-lhe subido à cabeça.
Segue o editorial da Folha, Crise mascarada, basicamente correto, mas um tanto tímido. No entanto, comparado aos que habitualmente provêm de grande imprensa, podemos considerá-lo até ousado...
"O avanço do coronavírus parece ter convencido o presidente Jair Bolsonaro da importância de vestir máscara e lavar as mãos para evitar o contágio, mas não das virtudes da prudência e da moderação.
Dois dias depois de classificar o vírus como uma fantasia inventada pela imprensa, tratando com leviandade os riscos criados pela pandemia, o presidente rendeu-se aos fatos diante da confirmação de que seu próprio secretário de Comunicação havia sido infectado.
Em dois pronunciamentos na noite de 5ª (12), primeiro dirigindo-se à claque das redes sociais e depois em cadeia de rádio e TV, Bolsonaro reconheceu a gravidade da situação e disse que o governo está preparado para controlá-la.
Sem detalhar medidas ou transmitir orientações, ele logo passou ao assunto que realmente o preocupava e sugeriu o adiamento das manifestações antes programadas para este domingo (15).
O próprio Bolsonaro vinha insuflando os protestos, que tinham o Congresso e suas principais lideranças como alvos principais, e voltou a fazê-lo ao pedir que os apoiadores fiquem em casa para conter a disseminação do vírus.
A sugestão foi prontamente acatada pelos organizadores dos atos, mas o presidente fez questão de enaltecê-las como expressões legítimas de insatisfação popular e disse que a mobilização alcançara resultados antes mesmo de começar. “Foi dado um tremendo recado para o Parlamento.”
É fácil perceber que Bolsonaro fabricou mais uma crise com o único objetivo de intimidar o Legislativo, parte de um esforço permanente para submeter instituições democráticas a desgaste contínuo.
Os últimos acontecimentos deixaram claro que as provocações do presidente são fonte permanente de instabilidade e desafiam a capacidade do sistema político de enfrentar os problemas reais que desafiam o país —da crise do coronavírus à debilidade econômica.
Antes de vestir a máscara para falar aos seguidores, Bolsonaro passou duas semanas desautorizando os articuladores do Palácio do Planalto e fustigando os líderes do Congresso, que buscavam solucionar a disputa travada com o Executivo pelo controle do Orçamento.
Na 4ª (11), quando os parlamentares derrubaram de forma irresponsável o veto do presidente a um dispositivo que aumenta gastos com benefícios assistenciais, não havia ninguém capaz de ajudá-lo a evitar a derrota.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu medidas emergenciais e cobrou empenho do Legislativo para aprovar as reformas econômicas. Pode ser o início de um diálogo mais produtivo, mas que não avançará se Bolsonaro continuar apostando no tumulto".
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