terça-feira, 26 de novembro de 2019

O CAPITALISMO TEM PULSÃO GENOCIDA

Nunca é demais lembrarmos que o capitalismo foi implantado pela força das armas, trazendo, portanto, no seu DNA uma pulsão de morte gerada pela coerção da escravidão pelo salário. 

Nos primórdios tal fato se deu unicamente pela coerção armada; agora se dá, também, pela coerção de uma relação social na qual somente se pode obter o sustento pessoal e familiar a partir da venda da força de trabalho. 

Isto, claro, a menos que se tenha juntado capital (que é acúmulo de trabalho abstrato transformado em valor) e se possa viver de rendas, mas disto só é capaz uma parcela ínfima da população.

Na coerção da relação social sob o capital, além da imposição segundo a qual se precisa vender a força de trabalho (valor) para se obter valor e, com ele, garantir-se minimamente o sustento, vive-se sob a tutela de uma força militar pronta para manter incólume essa (des)ordem institucional. Assim, o governo do capitão Boçalnaro, o ignaro (uma mistura contraditória de nacionalismo e liberalismo) insiste em proposições que visam preservar pela força militar a propriedade (dos que a têm em abundância), a qual nada mais é do que capital acumulado.

Mas a pulsão genocida do capital não se restringe aos confrontos bélicos que se iniciaram há pouco menos de 200 anos: eles vêm desde 1848, quando  da transição generalizada para o republicanismo mercantil da 1ª Revolução Industrial, passando pelas duas guerras mundiais e pelos temores subsequentes de uma guerra nuclear que extinguisse a espécie humana, além de também se corporificarem nas atuais insurreições civis e guerras localizadas mundo afora.
Desde 1848 pipocam os terríveis desperdícios de vidas decorrentes da punção genocida do capital
Ditas insurreições têm DNA capitalista, pois tudo remonta a uma relação social que coloca os indivíduos sociais (transformados em cidadãos de 1ª ou 2ª classe) como adversários entre si na competitividade fratricida pela busca da impossível melhora salarial coletiva, abrangente, até porque ela está tensionada pela supressão desses mesmos salários em face do desemprego estrutural, pela redução média dos salários e pelo não atendimento eficiente por parte do Estado das demandas sociais previstas constitucionalmente. 

Mas, a pulsão de morte não é apenas expressa na imprescindível (para o capital) força militar subvencionada pelos impostos cobrados a cidadãos exauridos economicamente, mas também, e de modo cada vez mais acentuado, pela agressão ecológica.

Esta última, vale ressaltar, provoca a degradação ambiental planetária (e não apenas localizada). Isto tem preocupado os países ditos ricos, acostumados a constatar a miséria das nações pobres com hipócrita indiferença, atribuindo às suas vítimas a culpa pela própria miséria social, sem jamais considerarem que o capital não pode promover a riqueza em simetria mundial: a cada ilha de riqueza corresponde um oceano de pobreza!    
Taalas: hora de determos a marcha para o abismo

Recente relatório da Organização Mundial Meteorológica da ONU, organismo da ordem capitalista, destaca que a quantidade de CO2 que vem sendo emitida na atmosfera, provocando o efeito-estufa e o aquecimento global (como se fosse um lençol que impede a dissipação dos gases na estratosfera), aumentou 146% da era pré-industrial para cá, ou seja, desde antes de 1750.

O secretário da dita OMM, Peterri Taalas, adverte: 
"Sem cortes rápidos dos níveis de emissão de CO2 e outros gases, a mudança climática trará impactos destrutivos e irreversíveis cada vez maiores na vida em nosso planeta, e a chance de agir está quase fechada.  
Na última vez que o Planeta experimentou uma concentração comparável de CO2 foi entre 3 a 5 milhões de anos atrás, quando as temperaturas eram entre 2°C e 3°C mais quentes e o nível do mar era entre 20 e 30 metros mais alto do que agora"
A OMM informa, ainda, que as concentrações de metano e óxido nitroso também subiram. Ao mesmo tempo, ressurgiu uma substância potente de gases de efeito-estufa e destruidora da camada de ozônio, a chamada CFC-11, que é regulada por um acordo internacional para proteger a camada de ozônio.

Mesmo diante dos graves alertas dos cientistas, a reunião do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática, marcada para a próxima quinzena, tende a ser mais um protocolo de boas intenções a ser descumprido pelas ordens ditatoriais emanadas da lógica do capital para os seus súditos governamentais insensíveis e emparedados pelo poder que encarnam
Gatti: agronegócio é o grande vilão do efeito-estufa no Brasil

Numa entrevista recente, a coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito-Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil, Luciana Vanni Gatti, informou que, segundo um novo estudo, 71% das emissões do país vêm do agronegócio. 

Ela acrescentou que por causa da pressão econômica, o cenário brasileiro é dos mais críticos: 
"Existe esta pressão econômica, o governo quer fechar a balança comercial, as contas públicas, então incentiva-se a exportação, mas, por trás disso, vem o desmatamento. 
É preciso se repensar sobre a alimentação, sobre a criação de gado, da gente pensar em não derrubar florestas, criar o gado num manejo diferente que mantenha a floresta em pé, a gente tem de sair daquelas velhas práticas da agropecuária e descobrir maneiras para que não emitam tantos gases na produção de alimentos".
Segundo Gatti, se as emissões continuarem aumentando, as mudanças climáticas terão um impacto muito maior do que o desejado para que a vida continue como ela existe hoje no planeta. Entre os efeitos que já são observados, ela destacou as mudanças no regime de chuvas, a perda de áreas de praia com o avanço do mar e a ocorrência de eventos extremos. 
Nós, vítimas da irracionalidade capitalista, temos de reagir

Ela também citou uma pesquisa na Amazônia, dando conta de que a floresta está apresentando um comportamento diferente em termos de precipitações e temperatura. A Amazônia também estaria absorvendo menos gases de efeito-estufa do que na década passada. 

Gatti é taxativa:
"A gente tem de acordar, tem de realmente reduzir a emissão, e isso desde o ser humano, desde o indivíduo, na hora que ele resolve, ao invés de ligar o ar condicionado, ligar o ventilador; ao invés de abastecer o carro com a gasolina porque ela fica um pouquinho mais barata, abastecer com o etanol.  
A gente tem que mudar o nosso padrão de vida e realmente emitir menos, inclusive nas grandes políticas públicas".
Mas, ao invés de nos preocuparmos com tais amaças à vida planetária, o que vemos é o ministro Paulo Guedes reverberando pronunciamento de um dos filhos zero à esquerda do capitão, sobre a possibilidade de um novo AI-5, que representaria licença para matar. 

Cada vez fica mais claro que Guedes tem consciência de que as medidas restritivas de direitos econômicos ditadas pelo liberalismo capitalista (Estado mínimo mais exploração e força máximas) na fase insustentável dessa forma de relação social segregacionista, acarretará a adoção de instrumentos institucionais excludentes legais (ou não) de criminalidade para conter a onda de insatisfação que varre o mundo e que é bastante aguda em nosso país. 

Cabe a nós, as vítimas dessa irracionalidade capitalista, evitarmos que a verdadeira virtude seja negada em nome de falsas virtudes liberais apregoadas durante a demagógica campanha eleitoral das fake news eletrônicas de massa que transfiguraram a odiosa guerra em falacioso prenúncio de paz. 

A pulsão genocida do capital que se expressa em diferentes frentes de conduta (escravista, bélica e ecológica) precisa ser compreendida na sua dimensão histórico-científica, a fim de que possamos evitar o desastre humanitário para o qual nos encaminhamos ao marcharmos insensivelmente para o abismo. (por Dalton Rosado)

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