segunda-feira, 21 de outubro de 2019

CENÁRIOS ECONÔMICOS ATUAIS LEMBRAM MUITO OS QUE ANTECEDERAM A GRANDE DEPRESSÃO DOS ANOS 30 (parte 1)

dalton rosado
SEMELHANÇAS ENTRE OS DOIS GRANDES CICLOS
MUNDIAIS DE DEPRESSÕES CAPITALISTAS
chamada 2ª Revolução Industrial fordista/taylorista, no início do século 20, foi quem promoveu a fusão do processo industrial (que incluía a energia da combustão fóssil petrolífera e outros ganhos, como a energia elétrica) com a produção em série (a partir da qual se obtinha maior produtividade, tendo, contudo, cada trabalhador de repetir incessantemente os mesmos movimentos, tal qual uma máquina).

A alienação humana decorrente de tal evolução do processo industrial sob o capitalismo foi brilhantemente retratada e criticada por Charlie Chaplin no filme Tempos modernos (assista-o na janelinha abaixo).

O novo processo de produção industrial desestabilizou o quadro econômico mundial, com as nações multiplicando esforços para prevalecerem na guerra concorrencial de mercado, o que demonstra cabalmente o indissociável canibalismo econômico patrocinado por um modo de relação social a partir da produção industrial empresarial abstrata e segregacionista na qual todos se tornam inimigos de todos.

A resultante deste processo foi a deflagração da  Guerra Mundial (1914-1918), responsável por cerca de 20 milhões de mortes, cujo resultado foi o domínio econômico dos países vitoriosos em detrimento das nações derrotadas (Alemanha, principalmente). 

Era a glorificação do nacionalismo capitalista, segundo o qual a história do ser humano se traduz em primeiramente nós [tipo o America First ora exumado] e os outros que se lixem.

Os Estados Unidos, grandes beneficiados com aquela guerra (daí seus governos terem se habituado à utilização do poderio militar como instrumento indutor do progresso nacional, sentindo-se no direito de atuarem como palmatória do mundo), alcançaram um crescimento econômico vertiginoso diante de uma Europa devastada pela guerra. 

Entretanto, aquilo que parecia ser um ganho irreversível demonstrou ser o primeiro processo de autofagia capitalista. 
É que os países pouco atingidos fisicamente pelos danos da guerra e por ela beneficiados, como os EUA, cedo constataram que a Europa havia se recuperado com infraestrutura de produção tecnológica de então, e que, portanto, o badalado milagre do american way of life não passava de um blefe, tal qual o ilusionismo de um mágico que tenta transformar a aparência em realidade.

De repente os Estados Unidos não tinham para quem vender a sua superprodução, pois sua capacidade de produção excedia as de consumo interno e de exportação de mercadorias. Com isto houve retração na produção industrial, queda dos lucros empresariais e paralisação do comércio.

A consequência imediata foi a elevação da taxa de desemprego, que saltou em 1929/1930 para algo entre 20% e 22%; e a quebra da bolsa de valores de Nova York, com investidores perdendo centenas de milhões de dólares num único dia (24/10/1929), a chamada  feira negra, causando suicídios e uma enxurrada de execuções hipotecárias que transformavam prédios valiosos em propriedades encalhadas, com custos de manutenção e impostos a pagar.

A miséria social tomou conta dos Estados Unidos, com filas imensas de desempregados em Nova York esperando na fila da sopa.

A grande depressão se alastrou pela Europa, Ásia e até pela Oceania (na Austrália, a taxa de desemprego chegou a 29% em 1932), pelo mesmo motivo: capacidade de produção instalada acima da capacidade de consumo. A  Revolução Industrial expunha, pela primeira vez, a ilogia e irracionalidade do modo de produção capitalista, e isso teria consequências imediatas.

Não durou muito para eclodir, em setembro/1939, a  Guerra Mundial, com uma Alemanha recuperada dos danos do conflito anterior sentindo-se apta a dominar militar e economicamente o mundo, com a ajuda os seus aliados italianos e japoneses (além das armas e contingentes humanos de nações conquistadas pelos nazistas).

O resultado da  Guerra Mundial foi a morte de cerca de 50 milhões pessoas entre civis e militares, equivalentes a uns 3% da população mundial, e uma destruição física nunca antes experimentada na história da humanidade, que demonstrou bem do que são capazes os governos submetidos ao poder destrutivo do capital.

Qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência, mas consequência lógica de uma relação social genocida e insustentável no longo prazo por seus próprios fundamentos.

Os economistas com viés capitalista têm multiplicado suas análises sobre a grande depressão, atribuindo-a a fatores gerenciais os mais diversos, numa tentativa de escamotear o óbvio: a saturação de um modo de produção social segregacionista, o qual, por isto mesmo (e a cada ciclo) se torna insustentável num determinado ponto da curva de ascensão e declínio.

Para tais coadjuvantes do infortúnio dos seres humanos, a ciência econômica, cuja essência e objetivo teleológico é a produção de valor econômico, não se constitui apenas numa ciência social (cujos pressupostos estão invalidados), mas também numa ciência exata.
Daí pretenderem que ela não deva ser superada, mas ajustada administrativamente com a indispensável subordinação política aos ditames absolutistas da lógica do capital (Paulo Guedes é o típico exemplar dessa fauna). 

É que eles não podem admitir a possibilidade de relação social sem valor econômico, pois isto seria reconhecer a sua própria obsolescência profissional sob tais pressupostos (embora os ditos cujos pudessem ser muito úteis numa nova lógica de produção, sem valor econômico). 

O mesmo ocorre com os trabalhadores e sindicalistas, pois para eles negar o trabalho e a função sindical reivindicatória de salários significaria considerar a sua própria superação. Algo assim como ser impossível o papa um dia vir a se declarar agnóstico... (continua neste post)  
Por Dalton Rosado
Em tempo: para um blog que não aceita propaganda comercial e mantém a dignidade de propósitos revolucionários sem contemporizar com quaisquer que sejam os interesses que possam desviá-lo do caminho a que se propôs, a marca de 3 milhões de acessos é digna de reverências e mostra que valem a pena os sacrifícios inerentes ao bom combate. Parabéns e obrigado, Celso Lungaretti! 

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