segunda-feira, 21 de outubro de 2019

NÃO VAI ROLAR: NEM O BOZO REEDITOU O MILAGRE BRASILEIRO, NEM O LULA ALÇARÁ MILHÕES DE COITADEZAS À CLASSE MÉDIA!

O Lula da atualidade...
david emanuel coelho
É PRECISO ABANDONAR
 O LULO-SAUDOSISMO
Ao que tudo indica, é questão de tempo para Lula sair da prisão. Tênues acordos vêm sendo costurados no establishment brasileiro para garantir isso. A pouca combatividade sindical à reforma da Previdência é indício destas conversações. 

Lula pode mesmo ser solto, até porque a prisão já cumpriu seu papel. As eleições de 2018 foram importantes para a plutocracia nacional no sentido de eleger-se um candidato inútil e pronto a se curvar aos seus ditames. 

Aprovada a reforma da Previdência – que veio juntar-se à trabalhista e a outras medidas reacionárias , está cumprida a missão do lavajatismo e da caça às bruxas do tenentismo togado

Muitos, sobretudo na dita esquerda, acalentam altas esperanças num futuro retorno do ex-mandatário não apenas ao mundo dos livres, mas também ao cenário político. Trata-se de um lulo-saudosismo, uma crença no retorno aos dias gloriosos do governo Lula, época na qual o país crescia, havia consumo, emprego, paz social e o máximo da discórdia era quanto a quem ganharia o campeonato brasileiro daquele ano. 

Nada mais distante da verdade histórica, no entanto. 

O governo Lula imaginado por estas pessoas é uma distorção ótica. Lula não foi um gênio glorioso responsável por conduzir o país ao Eldorado. Muito menos foi um Vargas, manejando bem as contradições políticas internas e externas para melhor solidificar seu poder e avançar um projeto nacionalista. Lula foi, essencialmente, um sortudo. 
...não terá como bisar o do segundo governo...

Historicamente, o governo Lula celebrado é o segundo, o qual ocorreu entre 2007 e 2010. O primeiro, de 2003 a 2006, é solenemente desconsiderado. E há um motivo simples para isso: são fases muito diferentes do processo econômico do Brasil. 

Em 2003, milhões de brasileiros tiveram um verdadeiro balde d’água fria imediatamente após a posse do novo presidente. Ao invés de uma ruptura com o programa neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, Lula não apenas o manteve, como o ampliou e endureceu. 

O Brasil chegou a conviver com taxas de juros ainda maiores que as da época de FHC, um executivo do BankBoston foi colocado para ser ministro da economia e os funcionários públicos viram-se obrigados a migrar para a previdência privada após uma reacionária reforma de suas aposentadorias. 

Ao mesmo tempo, o desemprego e a pobreza não cediam. Mas, então, por volta de 2006-2007, a situação mudou de aspecto. A chave desta mudança estava do outro lado do mundo e se chamava China. 

O Brasil tinha se industrializado fortemente no período pós-guerra, particularmente entre os anos 1947-1980. Nesta fase, o esforço mundial de reconstrução do que fora destruído pela guerra inundava o mundo de dinheiro, impulsionando o crescimento capitalista. 

Ao mesmo tempo, gigantes empresariais da Europa e dos EUA aproveitavam o impulso dado pela homogeneização política global subsequente ao esforço de guerra e deslocavam seus empreendimentos para a periferia capitalista. 
...nem cogita reassumir sua faceta sapo barbudo...

O Brasil e diversos outros países latino-americanos se beneficiaram largamente disto e conseguiram desenvolver suas economias, saindo da letargia rural para pujantes sociedades urbanas e industriais. 

Isto, no entanto, era feito largamente às custas do endividamento público. O Estado contraía titânicas dívidas no exterior para poder subsidiar as operações das multinacionais, as quais, em muitos casos, chegavam a não pagar nada de imposto, como é o caso de quem se instalou na Zona Franca de Manaus.  

Pouco ou praticamente nada do lucro ficava no Brasil, transformando o país numa verdadeira barriga de aluguel das multinacionais. 

O resultado foi a explosão da dívida pública, a inflação galopante  e o desnorteamento completo da economia. 

Pior: as multinacionais acabaram por encontrar um lugar muito melhor no sudeste asiático, transferindo em massa sua produção para lá. Com elas zarpando, a cadeia industrial construída ao redor foi paulatinamente fechando as portas. 

Este é o drama da chamada desindustrialização; um drama que, entretanto, é consequência direta da industrialização colonial, aqui aplicada pelos militares. 

Quando Lula chega ao poder, a indústria brasileira já está em avançado estado de putrefação e muito pouco pode ser feito para reverter o quadro. A única opção seria uma ruptura completa com o papel de subordinação do Brasil na economia mundial. Mas isto passa longe dos planos do novo presidente. 
...daí a dúvida sobre se terá ainda algum papel a desempenhar...

Ao invés disso, Lula prefere continuar com o programa de fazer o Brasil não mais uma barriga de aluguel das multinacionais, mas uma barriga de aluguel do sistema financeiro, pagando taxas indecentes em títulos da dívida. 

A reeleição em 2006 já tinha sido conquistada com mais esforço do que se imaginava e Lula caminhava para ter um desfecho melancólico quando acabou sendo salvo pela sorte. 

Do outro lado do mundo, a China tinha se tornado uma das principais beneficiárias do processo de transferência de capitais provenientes da América Latina. O processo iniciado na década de 80 e aprofundado na de 90, atinge seu clímax entre os anos de 2005-2010. O crescimento chinês é espantoso e transforma o país oriental no mais voraz comprador de commodities do mundo. E commodities é o que não falta no Brasil. 

Num piscar de olhos, o país está vendendo toneladas de minério, grãos, carne, leite, óleo e outras coisas mais a preços sobrevalorizados. A consequência foi a inundação do Brasil de dólares, puxando para baixo o câmbio e fazendo a festa da população. 

A enxurrada de dólares trouxe três fatos importantes, os quais geraram um mesmo fenômeno. 

Em primeiro lugar, barateou a importação de bens de alto valor agregado, compensando a baixa produtividade industrial do país. 
...pois este sebastianismo pode acabar tão mal quanto o original...
Em segundo lugar, permitiu, concretamente, a expansão econômica interna, financiando construções e empreendimentos. 

E, em terceiro, havia tanto dinheiro entrando que a classe dominante não viu problema em entregar alguns nacos dos pacotes aos pobres, liberando inédito poder de consumo popular. 

Estes três fatos agregados levam ao fenômeno da explosão de consumo do período. Foi uma verdadeira confluência virtuosa: produtos baratos do estrangeiro podiam ser comprados pelo povo empregado e com uma renda melhor. 

Este período pega justamente o segundo governo Lula e, por causa dele, foi possível ao então mandatário fazer troça da recente crise financeira chamando-a de marolinha

De marolinha não tinha nada, contudo. Embora seus efeitos tenham sido muito mais danosos no centro do sistema – mais sensível à queda imediata do consumo – as ondas chegaram ao Brasil alguns anos depois, justamente após ter imposto uma desaceleração ao crescimento chinês. 

A imensa China, com seus 1,5 bilhão de habitantes e seu vasto território ainda virgem, continuava e continua em crescimento considerável, limitando o alcance do impacto da crise em sua economia. 
...se ele não tiver saídas para apontar quando a crise social...

Mas, nem mesmo ela poderia deixar de receber as consequências da queda de consumo no centro capitalista. Caindo a compra de seus produtos nos EUA e Europa, a saída chinesa foi também cortar seus gastos, afetando diretamente o Brasil. 

De repente, os dólares sumiram do Brasil e o país voltou ao que sempre fora.

A manifestação política mais palpável desta crise foram as manifestações de junho de 2013, quando milhões de pessoas saíram às ruas num levante contra o encarecimento do custo de vida, a pauperização do cotidiano e, sobretudo, a frustração diante do que fora prometido e não cumprido. 

Lula e o PT, como se sabe, se uniram ao pior da plutocracia nacional para deslegitimar e esmagar a rebelião juvenil. A história cobrou seu preço com o impeachment e a prisão. 

O Brasil, contudo, moveu-se intensamente desde aqueles dias em que Lula descia o palácio com incríveis 80% de aprovação. 

A burguesia brasileira praticamente decidiu se desvencilhar do seu próprio país e se transformar de vez num puxadinho do imperialismo estadunidense, vivendo de atravessador de produtos importados, esburacando seu país e dizimando suas florestas para manter um mínimo de capacidade econômica. 
...cada vez mais insuportável, ameaça tornar-se explosiva...
O povo trabalhador, por sua vez, desesperançado, decidiu vagar entre a resignação e o voluntarismo, acreditando em pseudo salvadores e odiando mortalmente toda a classe política. 

Esta, por fim, virou paródia, aceitando se guiar por todo tipo de mediocridade e lutando abertamente apenas pelos nacos de dinheiro público ainda restantes. Basta ver que figuras minúsculas como Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre se tornaram baluartes da República, secundadas por maníacos iguais a Wilson Witzel, por alpinistas do porte de um João Dória ou mesmo por pilantras profissionais iguais a Romeu Zema. 

Este é o Brasil de 2019 e tende a ser, piorado, o dos próximos anos. 

Diante disto, o que Lula tem a dizer? Qual sua proposta? Nada mais do que fazer o que fazia há 10 anos atrás! Ou seja, contar com a sorte. 

Porém, e é este o ponto principal aqui, não se pode contar com a repetição única de fatores já superados. O boom de 2006-2010 não retornará. O mundo atual é muito diferente, cindido pela crise, com instituições multilaterais desacreditadas e um clima geral de salve-se quem puder!

No Brasil atual, não há espaço para um Lulinha paz e amor, o qual dizia, candidamente, que seria possível os bancos lucrarem como nunca d’antes na história deste país e, ao mesmo tempo, o pobre ter acesso a três refeições diárias. Um Lula assim será apenas uma sátira de si mesmo, com fins catastróficos para o país.
...e o governo visivelmente não está à altura do momento.

Lula congelou no tempo. E seus apoiadores também. Pensam ser apenas necessário recolocar o homem na cadeira e todo arranjo da década passada voltará pelo efeito mágico de sua personalidade. 

Aí, bastará voltar cada um para sua vidinha particular e retomar tranquilamente o rumo de seus assuntos. E nada de política! Lula fará política por nós!

O engano está em justamente desconsiderar não apenas os condicionantes do suposto sucesso do último governo Lula – ignorando o fracasso do primeiro – como também ignorar a dinâmica atual do mundo e do Brasil. 

Está na hora de olharmos para a frente e deixarmos o saudosismo no passado. (por David Emanuel de Souza Coelho)

3 comentários:

Ferrari disse...

Trata-se de um morimbundo que ainda acredita ser um salvador.

Valmir disse...

sei como..deixar o Lula que já ta queimado..mas além dele quem mesmo da esquerda que tem condições de se eleger???
maria do rosario?
crazy hoffman?

sim..pq o esquerdismo se tornou um puxadinho do feminismo mais porra louca que existe..

celsolungaretti disse...

Valmir,

há um único motivo para a esquerda querer eleger alguém para fingir ser presidente enquanto o poder econômico decide o que realmente importa: evitar a eleição de uma aberração como o Bolsonaro.

Não havendo tal perigo, participar de um jogo de cartas marcadas serve apenas para o coonestar.

Abs.

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