terça-feira, 22 de outubro de 2019

CENÁRIOS ECONÔMICOS ATUAIS LEMBRAM MUITO OS QUE ANTECEDERAM A GRANDE DEPRESSÃO DOS ANOS 30 (parte 2)

(continuação deste post)
Na grande depressão os pobres dos EUA estavam assim...
O atual ciclo de depressão econômica e o agravante ecológico – Os substratos científicos e fáticos que estão a provocar a nova grande onda de depressão econômica mundial anunciada pelo FMI e OCDE são os mesmos do crash de 1929 e da  grande depressão que dele decorreu na década de 1930, com alguns agravantes próprios à dimensão dos números estratosféricos da economia mundial. 

São calculados em algumas dezenas de USD trilhões os valores sem correspondência com a produção de mercadorias e sustentados pela emissão de moeda sem lastro e pela dívida pública impagável. O pavio está cada vez mais próximo do detonador da bomba gigantesca formada por estes dois fatores.

A desculpa para tal ocorrência é, espantosamente, a mesma: o mau gerenciamento político-administrativo-econômico. 

Apenas o blog Náufrago da Utopia, alguns sites especializados, uns poucos grupos de ativistas e um ou outro escrito acadêmico fora da grade curricular do ensino superior se somam ou abrem espaços para pensadores que aprofundaram o estudo da crítica da economia política marxiana (como os já falecidos Robert Kurz e Moishe Postone, e o atuante Anselm Jappe, cujas obras permanecem vivas e atuais). O restante se mantém afinado com as soluções administrativas que se situam dentro da imanência capitalista.
...e no Brasil de hoje eles já estão assim. O horror, o horror!

Quando se trata de negar a lógica de produção do valor (dinheiro e mercadorias), para muitos parece algo assim como se negar a lei da gravidade. Tal ocorre seja por ignorância, por comodidade ou por medo. Mas, como diz Charles Chaplin, “a vida é maravilhosa se não se tem medo dela”, então devemos enfrentar nossas limitações e vacilações face à ameaça de uma catástrofe iminente. 

Vivemos, hoje, um prenúncio sombrio do que está por vir, e de modo bem mais trágico até do que quando do crash e da grande depressão. O mundo, então, ainda não estava totalmente interligado por relações capitalistas e havia o fechamento das fronteiras da Rússia para a produção capitalista mundial (lá existia apenas a produção capitalista estatal intramuros fronteiriços, e naquela conjuntura relativamente imune às turbulências das relações capitalistas internacionais).

Agora as condições falimentares macroeconômicas e bélicas estão superdimensionadas, e com isto as nuvens tenebrosas estão bem mais carregadas.

São estes os fatores que compõem o quadro de risco ora delineado: 
— superprodução de mercadorias que não encontram compradores, como pano de fundo do embate mercadológico entre China e Estados Unidos;
— desemprego mundial (agora estrutural), com taxas mundiais que se aproximam daquela vivida pelos EUA em 1929 e década de 1930; e
— disputas nacionalistas pela hegemonia econômica pelos poucos nichos de mercado ainda existentes: são estes os fatores que compõem o quadro de risco ora delineado.

Aos sintomas e semelhanças atuais com o passado se somam outros elementos agravantes, que. como foi dito, referem-se à emissão e circulação mundial de moeda sem valor; à dívida pública e privada impagável; à iminência da falência do sistema de crédito mundial; e à agressão ecológica terrestre e atmosférica que está agravando o quadro de dificuldades e ameaçando a vida animal e vegetal planetária.

Não se trata de uma visão apocalíptica e catastrófica infundada, mas de análise crítica dos dados da ordem econômica e social publicitados por organismos insuspeitos de terem viés anticapitalista, e como denúncia contra a recalcitrante insistência em não se ver o óbvio: a necessidade e possibilidade de superação de um modo de produção social que se tornou anacrônico, pois, afinal, acreditamos que ainda dê tempo.
Possuímos, hoje, saberes e contingentes humanos capazes de produzir para a satisfação das necessidades de consumo dos 7,5 bilhões de habitantes da Terra de modo cômodo e sustentável, desde que superemos o travamento da produção condicionada ao critério da viabilidade econômica da produção e da irracionalidade de uma produção predatória (p. ex., continuamos com o uso de combustíveis fósseis ao invés de nos voltarmos para energias limpas, como a fotovoltaica, a eólica, a hidráulica, etc.,).

Bastaria que todos (ou quase todos, excluindo-se os casos de inaptidões físicas e excepcionais compreensíveis e que devem ser respeitados e protegidos) entrassem em atividade produtiva racional por pouco tempo diário, e com o auxílio da tecnologia, para que pudéssemos ajustar a produção às necessidades de consumo, sem os excessos ou insuficiências causados pela ilogia de uma produção regulada por um mercado que atua sob critérios e modos utilitários e genocidas, no qual o ser humano, antes de ser o alvo das ações, é o descartável escravo do lucro.

Poderíamos viver, então, sob o critério do ócio produtivo, no qual as melhores virtudes humanas seriam estimuladas sem a contaminação do egoísmo e da distorção de um critério de relação social no qual a vantagem econômica e de poder político-social são fatores negativos de indução das condutas (des)humanas.

Sob tais critérios estariam dadas as condições para combatermos as agressões ecológicas terrestres e atmosféricas que hoje se encontram condicionadas pela permanência da lógica de reprodução abstrata do capital.

Mas, ao contrário, os governos tentam negar as confirmações científicas do aquecimento global causado pela irracionalidade humana, cujos critérios de produção causa a poluição dos rios, mares, cercanias das cidades, do solo e, principalmente, da atmosfera com a emissão de gases poluentes e eliminação substancial das florestas (não apenas na Amazônia).

O aumento da intensidade das inundações provocadas pelas chuvas torrenciais (em muitas regiões o volume da água supera 600 litros por m²) e pelas secas que diminuem a produção de alimentos e desertificam vastas áreas de terras (no nordeste brasileiro e na África, principalmente); dos furacões e terremotos; tsunamis, incêndios florestais e nevascas, causados pelo aquecimento global, tudo isto não é obra dos deuses nem do acaso, mas da interação metabólica equivocada do homem com a natureza.

O processo de valorização do valor, que exige cada vez mais intensidade de volume e velocidade, se contrapõe irracionalmente à produção sustentável de bens de consumo necessários a vida social, pois, sob os critérios autotélicos do valor, se produz uma coerção predatória inevitável de agressão ecológica.
A lógica da reprodução do capital em seu limite existencial provoca a inevitável tentativa de redução de custos de produção da economia industrial de tudo que é jeito, em face da concorrência de mercado, e estes são os fatores indutores de base da agressão ecológica que somente poderá ser estancada a partir de novos critérios de produção social.

O dragão capitalista se torna cada vez maior e mais faminto. Então, só nos resta eliminar o dragão antes de irmos parar na sua barriga.

A História pode nos servir de lição, a menos que queiramos repeti-la em toda a sua trágica e repugnante trajetória. (por Dalton Rosado)

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