dalton rosado
IMPASSE NA GUERRA COMERCIAL
No capitalismo é assim, uma eterna guerra de mercado entre contendores produtores de mercadorias, cada um dos quais buscando impor sua hegemonia.
Mas há um limite previamente delimitado: a capacidade de consumo dos compradores. E aos vencedores de tal guerra se faculta a prosperidade, enquanto os vencidos amargam a penúria.
Entre os produtores no interior dos países ocorre o mesmo que com os países (embora estes não sejam efetivamente produtores, pois tal papel cabe às empresas privadas ou estatais neles atuantes): os trabalhadores, os verdadeiros produtores, são apenas a força de trabalho subjugada, qual inocentes úteis.
É que os países, organizados politica e juridicamente em Estados-nações, beneficiam-se dos impostos relativos a essa produção, podendo dar ares de proteção aos seus súditos-cidadãos no atendimento de demandas sociais que justifiquem sua estrutura social, opressora dos pretensos beneficiários.
O capital não é estatal, mas o Estado, na sua missão de proteção dos capitalistas nacionais, impõe mediante medidas protetivas fiscais e monetárias aos produtores dos Estados concorrentes, capitalistas produtores de mercadorias que, em busca do seu lucro vital, participam dessa guerra fratricida.
O espetáculo midiático do protecionismo mercadológico entre Estados Unidos e China, ambos capitalistas, explicita a contradição entre:
— o imperativo de crescimento constante e cada vez mais volumoso da produção de mercadorias e, consequentemente, de extração de mais-valia e massa de valor; e
— o limite do consumo do mercado, que, por mais que se inventem produtos novos para o consumo, não obedece à mesma ordem de necessidade de crescimento.
Os EUA, antes maiores defensores do livre mercado, agora veem grande parte das mercadorias produzidas em seu território não manterem sua capacidade competitiva (uma contradição que força a redução de salários, conforme previu Marx).
Então, abandonam a retórica anterior e passam a praticar a proteção de mercado, impondo barreiras alfandegárias ao produtos chineses, os quais são fabricados num país com renda per capita cinco vezes menor.
O dragão asiático tende a vencer a guerra, mas ambos estão numa sinuca de bico.
Ninguém menos que Steven Mnuchin, secretário do Tesouro dos EUA, afirma que “a manipulação do câmbio da moeda chinesa vai prejudicar seriamente a ordem financeira internacional e provocar o caos nos mercados financeiros”.
E continua, em tom de quase ameaça:
"A China que não espere mais boa vontade dos Estados Unidos!".
Ora, Mnuchin se preocupa com a solvência do sistema de crédito mundial, ao qual está atrelada a economia dos EUA e seus bancos.
Se, por um lado, ele se preocupa com a agressividade das exportações chinesas que invadem os Estados Unidos, por outro lado se aflige com a solvência da magnifica dívida pública e privada chinesa (que corresponde a pouco menos de 300% do seu Produto Interno Bruto anual, orçado em cerca de USS 18 trilhões), a qual somente se conservará solvente no principal e juros devidos correspondentes caso sejam mantidos os atuais níveis de crescimento.
Trata-se de uma contradição implícita e explícita, pois os bancos internacionais e rentistas credores dessa dívida são, em grande parte, sediados nos EUA; então, a quebra da China levará de roldão tais credores, provocando um tsunami no sistema de crédito financeiro internacional imensamente maior que o da crise do sub-prime estadunidense em 2008/2009.
Trata-se de uma contradição implícita e explícita, pois os bancos internacionais e rentistas credores dessa dívida são, em grande parte, sediados nos EUA; então, a quebra da China levará de roldão tais credores, provocando um tsunami no sistema de crédito financeiro internacional imensamente maior que o da crise do sub-prime estadunidense em 2008/2009.
Mas, os Estados Unidos não podem ficar indefinidamente suprindo a sua balança comercial exterior deficitária com artificialismos monetários e crescimento de sua dívida.
Diante do protecionismo estadunidense, o Banco Central Chinês, no tabloide oficial do Partido Comunista, adverte que “os Estados Unidos devem segurar as rédeas antes do precipício e voltar atrás”. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)
Um comentário:
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Dalton cada vez vejo com mais simpatia sua tese da eliminação da mercadoria e sua forma valor. Utopia bem linda que vejo se conformar no horizonte, via protocolo blockchain, num retorno a economia real.
Mas examinando o mundo da mercadoria e sua lógica fica claro que os cacarejos da águia são apenas o reflexo do profundo medo que ela sente do dragão.
A aposta de quem vencerá esta guerra (na qual perderão todos) é barbada.
Bastou um peteleco do dragão chinês no câmbio e os caras acusaram o golpe recuando com o rabo entre as pernas.
O próximo movimento chinês será fomentar inflação interna o que desvalorizará o yuan com fundamentos. Aos gringos só restará fazer o mesmo e o colapso da bolha mobiliária e imobiliária nos dois países reduzirão a pó todos os derivativos podres.
E parece que está próximo.
Essa semana ganhar dinheiro comprando contratos de ouro foi muito fácil.
O Bitcoin disparou de U$ 9.500,00 para U$ 12.000,00 entre 31/07/19 e hoje (09/08/19).
Os amos estão sentando em cima do dinheiro e procurando segurança ao invés de rentabilidade.
Até o bombardeado dólar subiu e seu recuo não é sustentável.
Alguns ainda acham que ele valha alguma coisa.
+++
Ansioso para ler a continuação deste seu texto.
Parabéns pelo esforço de trazer teses bem fundamentadas num momento em que o otimismo ufanista ainda persiste.
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