(continuação deste post)
Sobre a questão das demandas sociais – Por mais absolutista que fosse o governo, o Estado sempre se apresentou (falaciosamente) como protetor daquele que o sustenta: o povo. Os monarcas invariavelmente quiseram passar a imagem enganosa de que faziam o melhor que podiam no sentido de zelar por seu povo e protegê-lo, seja internamente ou contra agressões externas.
Nas sociedades ditas modernas, a coisa não se diferencia muito, pois é o povo quem sustenta a sua própria opressão.
A manutenção da ordem interna segregacionista do capital necessita de braços militares contra as eventuais insurgências próprias às sociedades cindidas entre detentores de capital de um lado; e assalariados e desempregados empobrecidos, do outro. Graças a isto, faz-se necessário que o povo sustente economicamente as forças militares que agem contra as tensões sociais próprias a tal cisão combatem a criminalidade cada vez mais intensa face à vida social estar em permanente conflito.
As policiais militares e os exércitos regulares foram, portanto, criados sob a justificativa da necessidade de proteção contra agressões internas e externas, e tudo dentro de um espectro de segregação social interna e sentimento nacionalista dos países, com cada nação vendo a outra como inimiga (o que expressa-se, p. ex., no repulsivo slogan América first, do presidente destrumpelhado dos Estados Unidos.
Ressalte-se, desde logo, que o transnacionalismo da humanidade é absolutamente contrário a tudo que se refere ao ânimo beligerante capitalista, que é a gênese do estado dito moderno.
Ressalte-se, desde logo, que o transnacionalismo da humanidade é absolutamente contrário a tudo que se refere ao ânimo beligerante capitalista, que é a gênese do estado dito moderno.
Aliás, essa é mais um contradição do capital, que é segregacionista de modo internacional, globalizante e privado, e se choca permanentemente com a ideia de nacionalismo estatal, ambos socialmente nefastos.
Mas, seria pouco convincente a defesa e justificativa da cobrança dos escorchantes impostos que recaem sobre uma população já exaurida pela extração de mais-valia, se tal sangria fosse apenas para financiar os gastos militares.
Faz-se, portanto, necessário dourar tal pílula amarga sob a justificativa que os impostos servem para o financiamento das demandas sociais e outros serviços públicos. Assim é que a educação e a saúde públicas e gratuitas são inseridas nos códigos constitucionais dos países estruturados a partir da produção de mercadorias sob a égide do capital, ainda que tais serviços ditos públicos estejam cada vez mais precarizados como consequência da falência estatal.
Mas, como são priorizados o suprimento eficaz das despesas públicas de interesse precípuo da ordem capitalista (quais sejam a manutenção da força militar, da institucionalidade legislativa e judiciária) e os gastos com infraestrutura da produção (estradas, portos, aeroportos, energia, abastecimento d’água, etc.), fica evidentemente relegado a segundo plano o suprimento eficaz das demandas sociais de incumbência do Estado.
Então, face à evidente depauperação das finanças públicas (decorrente da dessubstancialização do capital e da recessão econômica), aos contribuintes exauridos é proporcionado um atendimento dos mais insatisfatórios das demandas sociais básicas.
Ainda assim, são-lhes religiosamente cobrados tais serviços (nos quais estão embutidos os impostos, numa flagrante bitributação), sob pena de morrerem à míngua por falta de tratamento médico-hospitalar ou permanecerem com baixo nível de escolaridade.
Isto é o que se observa após 500 anos de evolução de uma relação social que vem ocupando todos os espaços da vida social mundial e que ora atinge o seu limite interno de expansão (as contradições dos seus fundamentos irracionais chegaram ao ápice).
.
Sobre a questão eleitoral e politico-partidária – Há determinados fenômenos sociais que são claramente perceptíveis pela população, daí advindo, p. ex., a descrença popular nos políticos. Se perguntarmos a qualquer transeunte o que ele acha dos ditos cujos, ele certamente responderá que são, em sua grande maioria, corruptos e enganadores.
Entretanto, como no Brasil o voto é obrigatório, os eleitores exercem tal pretenso direito (que é, na verdade, uma imposição) sem se aperceberem do que isso significa na sua essência mais recôndita.
Isto porque o processo eleitoral é dominado pelo poder econômico, político e midiático, isto se dá de forma tão proibitiva para o exercício da livre vontade do eleitor aculturado sob tais condições, que, desinformado, ele é levado a escolher entre o que já lhe foi previamente escolhido, ou seja, é obrigado a ratificar e legitimar pelo veto, sem soberania de vontade, um político inserido numa ordem econômico-político-social que lhe é opressora.
Quando se é parte de uma ordem constitucional que defende a permanência de todas as categorias capitalistas (Estado, propriedade, trabalho abstrato, dinheiro, mercadoria, mercado, etc.) como expressões materializadas do valor, por mais que se vocifere contra as injustiças sociais enquanto político detentor de mandato eletivo, tais performances estão inseridos na imanência capitalista.
Os políticos, portanto, mais não são do que meros coadjuvantes: suas presenças no mundo político-institucional apenas o legitimam, ainda que disto bem poucos deles se apercebam.
Aliás, tal entendimento é valido tanto para o exercício político de cargos executivos (que administram a contabilidade dos impostos, as regras do capital e o controle monetário em seu nome), como para os cargos legislativos, considerando-se, principalmente, no que tange a estes últimos, que jamais haverá parlamento burguês sem a correspondente hegemonia dos representantes assumidos da burguesia.
Mas, voltemos à análise da incredulidade popular nos políticos.
A população entende que os políticos são corruptos por falta de princípios de honestidade ou por necessidade estrutural.
Ora, constituindo-se a corrupção numa condição existencial inerente à corrida eleitoral e sendo o Estado ineficaz no atendimento das demandas sociais básicas, pergunta-se:
— por que continuarmos insistindo nesse conjunto de subsistemas da política (Estado, políticos, partidos, eleição, etc.)?
— por que continuarmos insistindo num processo eleitoral que apenas ratifica a alternância cíclica no poder político (pois uma permanência mais longa no cargo quase sempre exaure a paciência dos eleitores), de governantes que exercem suas funções de serviçais da ordem capitalista, independentemente de se rotularem como esquerdistas, centristas ou direitistas, correndo, ademais, o risco de elegermos déspotas como Hitler, Trump, Bolsonaro, Salvini e que tais?
Impõe-se, portanto:
— o desmascaramento do Estado e de suas instituições;
— a recusa à participação eleitoral (fenômeno que já vem sendo observado, mesmo diante das ameaças de punição a quem não exercita o voto);
— a recusa à participação em partidos políticos e ao oportunismo destes nas manifestações populares de insatisfações econômico-político-socais (se seus membros assim o quiserem, que participem como indivíduos sociais contributivos e apoiadores);
por Dalton Rosado |
— a emancipação humana a partir de um modo de produção social participativo e distributivo, que elimine o modo de relação social mediante o qual se desenvolvem todas as formas de dominação representada pela forma-mercadoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário