segunda-feira, 8 de julho de 2019

ESBULHO DOS DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS É FÓRMULA PARA SALVAR-SE O CAPITALISMO SACRIFICANDO OS SERES HUMANOS – 2

(continuação deste post)
SOBRE A QUIMERA DA RETOMADA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO PÓS-REFORMA DA PREVIDÊNCIA  O argumento mais usado em defesa da reforma da Previdência, que convence até os diretamente prejudicados tão forte é a repetição continuada dos argumentos (insubsistentes) em seu favor, afirma que, com o ajuste fiscal por ela proporcionado, haveria um incremento e retomada do desenvolvimento econômico. 

Ora, tal reforma não implica diretamente a criação de receitas orçamentárias, mas apenas a redução destas. Isto significa que menos dinheiro deixará de entrar em circulação, uma vez que a redução de benefícios aumenta a perda de poder aquisitivo social. 

A afirmação de que, com o ajuste fiscal, os investidores se sentirão mais confiantes em fazer investimentos na produção e, com isso, alavancar o crescimento econômico, é igualmente insubsistente. 

O capital industrial e comercial somente faz investimentos quando têm a certeza de que voltarão aumentados em razão da extração de mais-valia dele decorrente (dinheiro que, transformado em mercadorias, volta a ser dinheiro, mas aumentado). 

Sem capacidade de venda não há produção e nem investimentos nesta. Daí o capital estar desempregado, vivendo dos juros do crescimento da dívida pública cobrados aos países da periferia capitalista (a grande maioria) e criando bolhas financeiras, uma atrás da outra. 

No mundo inteiro se observa, agora, mais do que antes, uma disputa brutal pelos nichos de mercado ainda existentes (veja a guerra comercial entre Estado Unidos e China), mas que são cada vez são mais exíguos justamente como consequência da perda de substância (e volume) do valor, representado pelo dinheiro e mercadorias. 

O recente acordo do Mercosul, saudado como vara de condão que alavancaria a exportação de mercadorias brasileiras, não garante absolutamente nada. 

Isto porque tanto os países da União Europeia, quanto as nações sul-americanas, desejam vender mais do que comprar, pois querem sobretudo equilibrar as respectivas balanças comerciais (não se compra sem dinheiro). 

A tendência é de sobrevir uma nova guerra comercial, ainda que sob o disfarce de uma amigável e próspera relação bilateral comercial. E, sendo o nível de produtividade da produção de mercadorias da UE bem maior que o sul-americano, o mais provável é que percamos tal guerra, repetindo o que ocorre desde a chegada às Américas dos europeus colonizadores (o espírito continua o mesmo).

A verdade é que, a partir da insistência na funcionalidade da lógica capitalista (defendida a ferro e fogo pelos conservadores, sempre prontos a detonarem quaisquer direitos que se anteponham a tal funcionalidade, bem como pela esquerda que acredita pateticamente na possibilidade de humanizarem-se as relações de produção capitalistas), impinge-se ao cidadão comum a balela de que sem a reforma da Previdência a nossa economia jamais sairá do fundo do poço. 

A direita conservadora e a esquerda domesticada divergem apenas em termos formais, mas ambas se submetem igualmente à lógica capitalista.

Não é por menos que os governos de Fernando Henrique Cardoso (de viés neoliberal), Lula (cuja opção pela conciliação de classes provocou no PT a dissidência da qual resultou o Psol), Dilma Rousseff (politicamente social-democrata e uma nacional-desenvolvimentista na economia) e de Michel Temer (centrista), todos eles propuseram a reforma previdenciária como imperativo do ajuste fiscal.   

Esta crença, aparentemente racional mas errônea, decorre de todos se limitarem a aceitar as regras de produção mercantil como se fossem algo tão natural, ontológico e imutável como a lei da gravidade. Ninguém consegue colocar em pé o ovo de Colombo e, assim, o rei e déspota moderno (o capital) continua mandando. 

A provável vitória da reforma da Previdência (tal como na guerra de Ásculo, na qual prevaleceu o exército do rei Pirro, em 279 a.C.) deverá representar um prejuízo proporcional ao bem que, dizem os mercadores de ilusões, vai proporcionar. A consequência real seria o empobrecimento ainda maior de uma população que só se aposentaria quando já estivesse mais próxima da morte, e com salários reduzidos em razão da própria relação custo benefício da imposição capitalista.  

Quando se consegue racionar fora da lógica do capital e se entende que nenhum produto contém um grama sequer de dinheiro, mas apenas insumos extraídos da natureza e manipulados pelo esforço humano com interação recíproca (algo bem diferente da intermediação pela categoria capitalista trabalho abstrato), é que começamos a entender a irracionalidade da aparente racionalidade capitalista.

Um dia o capitão Boçalnaro, o ignaro rendeu-se à arma de um assaltante e entregou a própria, ajudando a armar a bandidagem; agora se rende, de modo oportunista e subserviente, ao assalto das armas do capital, prostrando-se à mediocridade do crime que deveria combater. (por Dalton Rosado)

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