sábado, 6 de julho de 2019

ESBULHO DOS DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS É FÓRMULA PARA SALVAR-SE O CAPITALISMO SACRIFICANDO OS SERES HUMANOS – 1

dalton rosado
A RACIONALIDADE APARENTE E A IRRACIONALIDADE INTRÍNSECA DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Quando um bandido coloca uma arma na cabeça de sua vítima e faz a pergunta clássica dos assaltantes (a bolsa ou a vida?), o racional é entregar o objeto do assalto, pois a vida é bem mais importante do que qualquer conteúdo econômico existente na bolsa. 

Da mesma forma, nenhum dos parlamentares ou membros do Poder Executivo (ou ainda, todo o universo dos detentores do capital) ousa afirmar que a reforma da previdência não seja necessária. 

Tal reforma consiste, essencialmente, na imposição do esbulho de direitos previdenciários, a serem sacrificados no altar da manutenção da lógica capitalista neste momento de implosão interna por força de suas contradições funcionais, que atingiram o estágio de disfunção social plena. 

Antes tal debacle era mascarada pela possibilidade de manutenção da escravidão indireta do trabalho abstrato. Agora, no entanto, já não é mais possível a humanidade conviver com um contrato social que se tornou anacrônico e escancara a a sua irracionalidade e espírito segregacionista. Como diz o sábio adágio popular, o mal por si destrói.

O esbulho se dará com o aumento do tempo exigido de contribuições previdenciárias e descontos salariais, bem como com a redução das aposentadorias a patamares irrisórios. 

Trata-se de enfiar goela dos brasileiros adentro os sacrifícios necessários para a manutenção de uma lógica de produção social cujo prazo de validade expirou.

Ora, quando se raciocina com uma arma apontada para a cabeça, o racional é ceder às exigências de quem detém a arma.  No caso da exigência e consequente aceitação do esbulho, a arma apontada para a nossa cabeça é a lógica funcional do capital em fim de feira, desesperado, mas ainda detentor do poderio bélico militar e da institucionalidade opressora. 

Na atualidade mundial, o desemprego estrutural causado pelo uso da tecnologia de ponta na produção mercantil tornou evidente a irracionalidade da produção social de valor a partir do trabalho abstrato (assalariado). 

Sacrifícios inauditos são o preço que os seres humanos pagam para a manutenção de uma relação social irracional. Já do ponto de vista dos defensores da sobrevida do capital, o irracional é racional. 

A vida social da humanidade poderia ser substancialmente facilitada graças ao estágio atingido:
— pela capacidade de produção industrial e pelos serviços proporcionados pela disseminação dos recursos tecnológicos da microeletrônica, que viabilizou a comunicação via satélite; 
 pela computação, que racionaliza procedimentos e faz cálculos infinitesimais em segundos, além de proporcionar a memória armazenada de trilhões de informações; e 
 por outros tantos elementos antes inimagináveis, aliados à apreensão do saber sobre tantas áreas do conhecimento (agricultura, medicina, engenharia genética, etc.).

Mas, sob a égide do capital, tais benefícios se tornaram um entrave à existência da relação social sob o capital e, assim, ao invés de trazerem felicidade, todos os avanços tecnológicos se constituíram como malefícios sociais relativos (em alguns casos) e absolutos (noutros casos).

Ao invés de reduzirmos o tempo de atividade laboral de todos mediante um esforço coletivo de produção social, o que se observa na reforma da Previdência é justamente o contrário: exige-se de cada um que dedique mais tempo do seu cotidiano à dura labuta, e isto no exato momento em que temos 13 milhões de desempregados buscando o que fazer. 

Poderíamos usar o esforço proporcional de todos na produção social dos bens indispensáveis ao consumo, e no sentido de que sobrasse mais tempo para se dedicarem às atividades afetivas, de lazer, esportivas, da arte em todos os seus múltiplos segmentos, do cuidado com a saúde, etc., que seriam tornadas possíveis a partir de uma subsistência mais cômoda sob outros critérios de produção. 

Exige-se, entretanto, que trabalhemos por mais anos e que contribuamos com mais dinheiro para o gozo da aposentadoria, ao mesmo tempo que diminuirá o intervalo entre a concessão do benefício e a morte. 

A longevidade humana proporcionada pelos avanços da medicina, antes de se tornar um bem para a humanidade, torna-se um estorvo para as contas previdenciárias. Tudo sob o capital é negativamente contraditório.  

É a vitória do irracional sobre o racional como se tudo fosse muito racional e inquestionavelmente certo; é a irracionalidade racional. (por Dalton Rosado)
"Quem esquece a própria vontade, quem aceita não ter seu desejo, é tido
por todos um sábio. É isso que eu sempre vejo. É a isso que
eu digo NÃO!" (Arena conta Zumbi)
(continua)

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