Por Celso Lungaretti |
Uma característica pessoal que eu trouxe para este blog foi a de buscar informação útil em autores de todas as tendências ideológicas e, eventualmente, repassá-la, nas situações em que contribuem para uma melhor compreensão dos episódios em curso.
Quando a Vanguarda Popular Revolucionária me incumbiu em 1969 de criar e comandar um setor específico de Inteligência (algo que até então inexistia na esquerda brasileira), tive de aprender o meu novo ofício a partir do zero.
E percebi que não poderia mais restringir minha leitura do noticiário diário aos textos e autores com os quais concordava; tinha de ler tudo que fosse possivelmente relevante e fazer uma triagem crítica daquilo que lia. Em meio a muito calhau sempre se acaba encontrando alguma pepita.
Pelo resto da vida continuei procedendo assim. Enquanto a companheirada tratava Roberto Campos, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Delfim Netto, o Paulo Francis do final de carreira (no tempo do Pasquim ele era outra pessoa!) e que tais como demônios dos quais deveria manter distância para não cair em tentação, eu os lia de fio a pavio, garimpando informações de bastidores que não encontrava noutros lugares.
Galileu Galilei sendo julgado pela Inquisição como herege |
Sempre que me deparei com um grande artigo cuja assinatura fosse de alguém colocado no index pela tacanha esquerda brasileira, eu o trouxe para o blog: não discrimino pessoas nem as condeno à danação eterna, pois isso é coisa de religiosos e eu sou revolucionário (há enorme diferença!).
E eis que hoje, para minha enorme surpresa, depois de uma eternidade, finalmente me caiu nas mãos um texto do Reinaldo Azevedo com o qual concordo inteiramente e que vale muito a pena divulgar.
Fiel aos meus princípios, eu o reproduzo abaixo. E que a turminha do ad hominem, pelo menos uma vez na vida, leia o artigo antes de cair de pau em cima de mim por tê-lo publicado!
reinaldo azevedo
ATÉ QUANDO OS JUDEUS BRASILEIROS SE
CALARÃO SOBRE A IDENTIDADE DOS GENOCIDAS?
Jair Bolsonaro visitou o Museu do Holocausto, em Israel, e repetiu a estupidez que Olavo de Carvalho e Ernesto Araújo lhe sopram aos ouvidos: "O nazismo é de esquerda".
Se tivesse perguntado durante a visita ao Museu do Holocausto, aprenderia que o nazismo era de direita |
A entidade que ele visitou informa aos visitantes:
"Essa frustração, associada à resistência intransigente e as advertências sobre a crescente ameaça do comunismo, criaram um solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista".
...faço já a pergunta: até quando os judeus, em especial os brasileiros, permitirão que a sua história seja miseravelmente distorcida em razão de uma aliança episódica — que, de resto, mal esconde a fraude intelectual em que está assentada?
O que Bolsonaro e os delirantes de seu entorno ideológico fazem é mudar o perfil dos genocidas, dos assassinos em massa, do regime que procurou eliminar um povo da face da Terra.
A origem das fraudes intelectuais é sempre a mesma |
Há a memória de mais de seis milhões de mortos, só entre os judeus, que merece um pouco mais de respeito.
Quem viola cemitérios judaicos na Europa? São os esquerdistas?
Quem marcha nas ruas contra a conspiração judaica? São os esquerdistas?
Quem marcha nas ruas contra a conspiração judaica? São os esquerdistas?
Quem vê os judeus como inimigos nos EUA? Os supremacistas de extrema-direita ou a esquerda?
Quem espalha cartazes acusando George Soros, o judeu, de conspirar com os comunistas? As esquerdas?
Fato: os comunistas dividiam campos de concentração com os judeus. Só a cor da estrela era diferente.
Não sou judeu. A minha indignação é de alguém que tem apreço pela história. É a de um humanista.
Escritor Jorge Semprún foi prisioneiro comunista em Buchenwald |
Se fosse judeu, teria um motivo a mais para falar.
Se fosse judeu e me calasse, estaria agredindo uma dupla condição: a de judeu e a de humanista.
Se fosse judeu e me calasse, estaria agredindo uma dupla condição: a de judeu e a de humanista.
Jamais ensinarei um judeu a ser judeu, um negro a ser negro, uma mulher a ser mulher.
Porque não sou judeu, não sou negro, não sou mulher.
Mas posso ensinar um pouco de responsabilidade histórica a quem queira aprender o que é isso: judeu, negro, mulher…
6 comentários:
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Celso,
Em primeiro lugar fale de como está sua situação.
Melhorou um pouco o sufoco financeiro?
Percebo que você procura ser autossuficiente, mas se a coisa apertar, avise.
Você não está sozinho.
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Pois bem.
Essa dualidade a respeito da qual insistem destros e sinistro tem um nome: ego.
Para negar a realidade de que somos apenas sacos de estrume, vale qualquer fantasia.
E para se maltratar uns aos outros qualquer desculpa serve.
É a assinatura da inferioridade moral do "serumano" essa mania de se achar diferente.
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Uma palavra é dita, cujo significado é solenemente ignorado pelos dualistas: Humanidade!
Ou seja, "Uma Unidade" no Cosmo, onde existe a possibilidade de consciência moral.
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Celso, está certíssimo!
Quem não lê quem discorda de si acaba virando muito sectário e fanatizado. A realidade não é binária, e expor-se a opiniões contrárias ajuda a enxergá-la de modo mais matizado. Também parte de uma base mais realista de reconhecer virtudes naqueles de quem discordamos e também máculas em nossas posições.
Neste sentido, faço um convite: assista ao filme "1964: o Brasil entre armas e livros" do Brasil Paralelo, disponibilizado ontem no youtube e que é o vídeo mais assistido na plataforma desde então, com quase dois milhões de visualizações.
A direita está num esforço revisionista. Este documentário, ainda que se discorde inteiramente de sua linha narrativa, é bem produzido e está causando impacto cultural relevante. Merece ser assistido, ainda que seja para criticá-lo intensamente.
Anônimo das 15h16,
sobre 1964 tudo que importava já foi exaustivamente apurado e o veredito da civilização já foi dado, definitivo.
E eu concordo com tal veredito porque vi acontecer e porque pude obter informações de um sem-número de personagens históricos importantes para montar a síntese que expus nos meus artigos.
Last but not least, graças ao que aconteceu em 1964 eu tenho audição precária desde 1970 e grande dificuldade em compreender filmes falados ou dublados em português.
O último que encarei, uma série que me interessava particularmente, tive de baixar, garimpar legendas em espanhol compatíveis e assistir como se fosse um estrangeiro, baseando-me mais nas legendas do que que escutava. Melancólico.
Companheiro solidário,
agradeço a força e o interesse. Mudando um pouco os versos do Chico, eu irei contra a corrente enquanto puder resistir.
Enquanto as regras do jogo eram respeitadas, eu tinha a certeza de que, mais dia, menos dia, poderia reembolsar quem houvesse me ajudado.
Agora, com essa sucessão de viradas de mesa, não me resta mais certeza nenhuma, vou sobrevivendo um dia após o outro, à espera de que os cenários mudem.
Pelo menos, o incrível governo Brancaleone está derretendo muito mais depressa do que imaginávamos. Há esperanças.
Contate-me por e-mail (lungaretti@gmail.com), assim poderemos conversar mais à vontade.
Um forte abraço!
Celso
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Cara,
Pode ser coincidência, mas bloquearam o e-mail que usei para entrar em contato contigo.
Querem querem por que querem que eu me identifique...
Os caras estão pegando pesado.
Mas,
se fossem aqueles a quem devemos temer, não precisariam que vc se identificasse.
E se for uma mera intimidação, parte de quem não leva jeito de ser profissional. Afinal, isso só serve para nos alertar.
Não leve muito a sério, companheiro. Se e quando a coisa ficar realmente perigosa, nós perceberemos. Ainda não chegou tal momento.
Um forte abraço!
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