(continuação deste post)
A cena africana – o continente africano, com seus cerca de 1,2 bilhão de habitantes, padece com o aumento da incidência de doenças que poderiam ter sido erradicadas a partir da descoberta de vacinas e medidas médicas preventivas. Além disso, aparecem e se disseminam moléstias antes desconhecidas como a Aids e vírus como o ebola.
Os efeitos do aquecimento global se fazem sentir especialmente na África, seja pela desertificação de regiões inteiras ou pela intensificação de aguaceiros como os que ora atingem a região de Moçambique e países próximos, matando milhares de pessoas e desabrigando outras tantas.
As ebulições africanas diante da intensificação da miséria generalizada provoca a queda de ditadores, mas não correspondem a evoluções emancipatórias que caminhem para a superação dessa mesma miséria; direcionam-se, isto sim, para a reprodução de governos autoritários militarizados, que tentam manter pela força a submissão dos desesperados.
Boko Haram: de volta às trevas medievais. |
É deste caldo de cultura que surgem organizações fundamentalistas político-místicas como o Boko Haram, negando todas as conquistas civilizatórias da humanidade e pregando a volta de práticas religiosas que remontam à chamada idade das trevas.
A África, mais do que qualquer outro continente, é atingida pela disparidade dos níveis tecnológicos mundiais de produtividade das mercadorias; tal desfasagem lhe retira qualquer possibilidade de competição no mercado internacional, a não ser com a exportação dos minerais existentes em seu subsolo, controlados por gangues governamentais aliadas às empresas internacionais que enriquecem indiferentes miséria do povo africano.
A África mãe, pode ser considerada como o mais pobre continente nesse mundo capitalista promotor da miséria, cujas poucas ilhas de prosperidade não deveriam servir de modelo a ser imitado, como ainda ocorre.
.
A cena asiática – o continente asiático, com sua imensidão territorial (corresponde a 1/3 das áreas sólidas da Terra e reúne 60% de toda a população mundial) e com características geográficas as mais variadas, também retrata a falência do modelo capitalista, hoje nos seus estertores.O demônio que mais assusta os japoneses hoje é a recessão... |
Ainda que se possa atribuir ao capitalismo e sua dinâmica os avanços havidos no mundo asiático, retirando da ignorância milenar e da opressão feudal mais atrasada muitos povos da região (o que é uma verdade relativa, não absoluta, diferentemente do que afirma Paulo Guedes), isto não significa que outro modelo social não pudesse fazer o mesmo, e de modo pacífico e humanizado.
Dividido em seis grandes regiões geográficas (o Oriente Médio; o subcontinente indiano; o sudeste asiático; o centro-leste; o extremo oriente; e a parte asiática da comunidade de Estados independentes), a análise que podemos fazer é a de que, após o surto desenvolvimentista original decorrente do desenvolvimento do intelecto humano, observa-se o recrudescimento da miséria, atingindo a maior parte de sua população.
O saber tecnológico adquirido pela humanidade (embora impulsionado pelo capitalismo que atingiu todos os poros das sociedades mundiais, não oportunizando a existência de outro modelo) não deveria permitir a volta da barbárie e das opressões religiosas fundamentalistas ali existentes, mas o capital, que promoveu o resgate do atraso milenar e da ignorância, é o mesmo que ora dissemina a barbárie por força das contradições dos seus próprios fundamentos irracionais.
...enquanto o dragão chinês ameaça precipitar... |
Mesmo o Japão, considerado o mais desenvolvido dos países asiáticos, habitado por um povo culto e disciplinado, é exemplo da disfunção do modo de produção capitalista no atual estágio de incompatibilidade entre forma e conteúdo.
O aumento do PIB do Japão em 2018 foi de 1,1%, um índice de crescimento quase nulo. Como a dívida pública e privada do Japão corresponde a 240% do seu PIB, orçado em USD 5,0 trilhões, a dedução lógica é que a sua dívida colossal é impagável sob os critérios estabelecidos e de curto prazo.
O Japão só sobrevive porque os juros incidentes sobre sua dívida são bastante reduzidos quando comparados àqueles cobrados aos países emergentes ou subdesenvolvidos. Mas a recessão japonesa fará com que, já e já, os credores internacionais, por precaução, retirem os créditos baratos concedidos; isto causará a elevação das taxas de juros, agravando o quadro recessivo.
A China, país com cerca de 1,4 bilhões de habitantes (que corresponde a 20% da população mundial) e detentor do segundo maior PIB mundial, é o país asiático mais representativo da realidade falimentar do capital, embora seja alardeado por muitos desavisados como locomotiva vitoriosa do capitalismo sob critérios chineses. Passa-se justamente o contrário.
...a derrocada do capitalismo em escala mundial... |
O desenvolvimento econômico chinês —baseado no culto à riqueza abstrata; no endividamento público e privado; e na completa restrição de direitos trabalhistas e baixos salários médios, além da prática descarada de procedimentos não convencionais na guerra concorrencial internacional de mercado—, antes de demonstrar a validade dos fundamentos capitalistas, atesta a sua irracionalidade. Como justificar, p. ex., a insuportável poluição em Pequim?!
Ademais, com suas práticas contraditórias, a China impulsiona em ritmo caminho o capitalismo para o abismo.
Trata-se de um dragão asiático que atingiu o seu limite externo de crescimento em padrões elevados, quando comparados aos padrões internacionais. Assim, como a roda do crescimento econômico tem de ser mantida numa mesma velocidade como forma de tornar saldáveis e saudáveis os compromissos financeiros assumidos, o emperramento do crescimento do PIB chinês e a ameaça de sua redução tem causado um frisson em todo o sistema de crédito mundial, igualmente ameaçado de insolvência.
...fazendo a Grande Depressão parecer refresco. |
O tal comunismo chinês (rótulo hoje discutível) se tornou defensor do livre comércio mundial (liberal por excelência na economia e keynesiano no sistema de governo) e os Estados Unidos, outrora defensores do livre mercado, tornaram-se protecionistas e nacionalista, com restrições à economia de mercado (liberal no discurso e keynesiano na prática).
Tal fenômeno sino-estadunidense é a prova mais evidente de que a política está subsumida ao capital, que tem regras absolutistas próprias e segregacionistas de funcionamento.
A dívida pública chinesa corresponde a 140% do PIB e está assentada numa perspectiva de geração de valor advinda de lucros e extração de mais-valia (capitalismo puro) na produção de mercadorias que cada vez mais se tornam improváveis. (por Dalton Rosado).
(continua neste post)
Nenhum comentário:
Postar um comentário