terça-feira, 26 de março de 2019

"NADA ME CONVENCE DE QUE NÃO HAJA ALGO DE INCONFESSÁVEL NESSE ALARDE TODO SOBRE A CONFISSÃO DE BATTISTI"

dalton rosado
CESARE BATTISTI E O SEU PROCESSO PRISIONAL
É evidente que a caça ao outrora militante político e atual escritor Cesare Battisti tornou-se uma questão de honra para a direita nacionalista italiana (com o apoio da direita mundial). 

Diante da debacle mundial do capitalismo e da consciência que os dirigentes políticos e seus economistas burgueses têm dos perigos que representam a artificialidade do capital mundial sem substância (valor desacoplado do tempo de trabalho incorporado às mercadorias, o único que lhe dá validade mercadológica) e de um iminente colapso de todo o sistema de crédito mundial, as demonstrações de força são cada vez mais frequentes.

Nesse contexto, Cesare Battisti tornou-se o bode expiatório de um tipo de rebeldia (a luta armada) que hoje (tanto quanto ontem) não pode ser tolerada, como uma antevisão da gravidade do que está por vir.

Contudo, independentemente de qualquer análise sobre a eficácia, hoje, da luta armada, não se pode deixar de contextualizar as ações de grupos de esquerda que, sufocados por regimes ditatoriais, resolveram se rebelar em guerrilhas urbanas. 

Atualmente, o maior inimigo do capital é o próprio capital. Antes, a visão da luta contra o capital e o arbítrio dele derivado era outra.
"confissão festejada como um troféu de guerra"

Agora, não vão ser esses governos nacionalistas, xenófobos, racistas, misóginos, militaristas, segregacionistas, em número crescente mundo afora (mas, com prazo de validade se esgotando) e apoiados pela ditadura democrática do voto dado por uma população desesperada pelo desemprego estrutural e pelas perdas dos seus direitos previdenciários, manipulada pela promessa vã desses mesmos governos de uma volta ao passado (nos países do chamado  mundo ou na periferia do capital), que vão segurar as ondas de revoltas que estão por vir. 

Assim, mesmo que venham a confirmar-se as declarações de Battisti, de que ele teria participado de assassinatos, isso não alteraria em nada a nossa defesa de um jovem que, num momento específico da História, resolveu solidarizar-se com aquilo considerava como opressão governamental contra o povo, principalmente contra os proletários que viviam em dificuldades mesmo na Europa. 

É evidente que o arbítrio dos que hipocritamente falam em nome do respeito à vida é cada vez mais perigos; nada me convence de que não haja algo de inconfessável nesse alarde todo sobre a confissão de Battisti, festejada como se fosse um troféu de guerra. 

Hoje, nos países em que a direita raivosa assume o poder, tal como está ocorrendo no Brasil, a arbitrariedade governamental com o apoio do judiciário e seus instrumento processuais (o Ministério Público e o aparelho policial) se mostra cada vez mais tendenciosa e arbitrária. 

A direita italiana, que tem projetado figuras repulsivas como Mussolini, Berlusconi e Salvini, não possui a menor credibilidade. Derrama lágrimas de crocodilo pelas famílias pretensamente atingidas por Cesare Battisti, mas é a mesma direita que rejeita milhares de migrantes famintos e desesperados, condenando-os a morrer em botes lançados ao mar sem a menor segurança.
É esse critério capenga de humanismo da direita que nos faz desconfiar completamente dos métodos e motivações sob as quais ocorreram as declarações de um militantes preso que foi caçado como forma de purgar os pecados processuais unilaterais de que foi vítima, e que evitou inculpar seus companheiros de luta. 

Tudo tem sido muito ilegal, desde a sua prisão na Bolívia sob os auspícios do governo do capitão presidente Boçalnaro, o ignaro.

Independentemente da crítica que eventualmente se faça da forma usada num período determinado da História, o propósito de Cesare Battisti na já tão distante década de 1970 permanece vivo.

A emancipação humana é causa imperecível. (por Dalton Rosado) 

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pela sinceridade, Dalton! Disse o que outros esquerdistas não tiveram coragem de falar publicamente: tanto faz que Battisti seja um assassino, desde que tenha agido pelo ideal revolucionário, não? A velha máxima de os fins justificarem os meios.
Acontece que essa mentalidade (e aqui a crítica não é pessoal), é doentia. Ideologia alguma pode justificar assassinatos ou os tornar justificáveis. Com esse tipo de pensamento, que coloca a revolução acima de tudo, surgiram regimes totalitários genocidas como o de Mao e o de Stálin. A mentalidade nazista era a mesma, de colocar o ideário de poder e de transformação do mundo acima do valor da vida humana, embora a ideologia fosse outra, evidentemente.
Battisti não merece perdão, ainda que sua luta tenha sido nobre. Se eu colocar na cabeça que quero mudar o mundo na marra, porque não gosto do atual por qualquer motivo, não posso sair por aí assaltando e matando pessoas. Seria apenas uma desculpa para delinquir, para extravasar a maldade e destruir vidas. Muito me estranha que um auto-alegado humanista pense diferente.

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